Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Quem se importa com exportação e emprego?

Estagnação será a grande marca da exportação brasileira neste ano, com aumento de apenas 0,8% na receita, segundo a nova projeção do Banco Central (BC) divulgada na sexta-feira (22/6). Pela nova estimativa, o país vai faturar somente US$ 258 bilhões com as vendas ao exterior, US$ 10 bilhões abaixo da estimativa anterior. Em contrapartida, o valor gasto com a importação crescerá 6,1% e chegará a US$ 240 bilhões. O superávit previsto, US$ 18 bilhões, será US$ 3 bilhões menor que o projetado até recentemente pelo BC e US$ 10,8 bilhões inferior ao do ano passado.

Algum leitor ficou preocupado diante desses números? Se ficou, não foi por influência dos jornais. Editores e repórteres deram pouquíssima atenção – quase nenhuma, de fato – a esses detalhes da nova projeção do balanço de pagamentos, incluída no último relatório mensal das contas externas.

Nenhum dos três jornalões tradicionais de São Paulo e do Rio de Janeiro mencionou sequer os valores previstos para compras e vendas de mercadorias. O maior destaque foi para a redução do crédito externo. Os empréstimos de médio e longo prazos captados no exterior devem cair de US$ 47 bilhões em 2011 para US$ 100 milhões neste ano, com uma redução de 99,8%. Aqueles US$ 100 milhões representam quase nada, no conjunto do balanço de pagamentos. É um fato importante, sim, e explica por que o Ministério da Fazenda reduziu o imposto cobrado sobre os financiamentos obtidos no mercado internacional. A retração dos financiadores estrangeiros é mais uma das consequências da crise no mundo rico. Apesar disso, o BC manteve a projeção de Us$ 50 bilhões de investimento externo direto.

Nível de emprego

Embora a nova estimativa do crédito estrangeiro seja preocupante, a saúde econômica do país e o vigor das contas externas, no médio e longo prazos, depende muito mais do comércio que das operações financeiras. Um bom desempenho comercial é importante para o país crescer com baixo endividamento e sem muita dependência dos humor no mercado financeiro.

Muito mais relevante do que o acesso ao crédito é a atração do investimento produtivo. Nesse quesito, as contas externas continuam satisfatórias. Além do mais, solidez comercial e bons fundamentos atraem a boa vontade dos fornecedores de empréstimos, exceto, é claro, quando os banqueiros ficam apavorados diante da situação dos grandes devedores e decidem reduzir suas aplicações (operação conhecida no jargão financeiro como desalavancagem). É este o problema, neste momento, como sabem muito bem os ministros de Finanças não só da Grécia, mas também da Espanha e da Itália.

Enfim, talvez haja uma boa razão para a ênfase maior atribuída ao lado financeiro das projeções. Difícil, mesmo, é encontrar um bom argumento para justificar o desinteresse, quase desprezo, em relação às novas previsões para a conta de mercadorias. Afinal, os números conhecidos até maio já foram bastante ruins para fazer soar um sinal de alerta em todas as editorias econômicas.

Até o mês passado as exportações foram apenas 3,4% maiores que as de igual período de 2011, enquanto as importações custaram 6,4% mais do que entre janeiro e maio do ano passado. Qual será o resultado para a economia nacional – especialmente para o nível de emprego na indústria – se esse descompasso se mantiver por mais uns dois anos?

Quadro europeu

As novas projeções do balanço de pagamentos e os dados ruins da indústria foram o contraponto brasileiro ao agravamento da crise externa. O Federal Reserve (Fed), o banco central americano, reduziu a previsão de crescimento econômico dos Estados Unidos para a faixa de 1,9% a 2,4% neste ano. A projeção anterior ficava no intervalo de 2,4% a 2,9%.

Diante do novo quadro, o Fed anunciou a prorrogação por seis meses, até o fim do ano, da Operação Twist, a venda de títulos públicos de curto prazo em troca de papéis de longo prazo, para favorecer uma nova redução de juros nos financiamentos longos.

Estado de S.Paulo, Globo e Valor deram destaque ao assunto. De modo geral, os grandes jornais têm acompanhado com eficiência a crise nos Estados Unidos e na Europa, embora deixem passar, de vez em quando, alguns detalhes importantes e interessantes, como a última avaliação do quadro europeu pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Nessa avaliação, o pessoal do Fundo assumiu claramente a defesa da criação dos títulos de responsabilidade comum, os eurobônus, e a adoção e uma política bancária comum.

Exame cuidadoso

Na cobertura interna, o grande furo da semana foi dado pela Folha de S. Paulo, com o anúncio, na edição de quinta-feira (21/6), da decisão do governo de autorizar um aumento da gasolina. Nesse dia, o ministro da Fazenda e a presidente da República ainda desconversaram, quando enfrentaram perguntas sobre o assunto. Mas o aumento, embora em porcentual menor que o indicado no furo, foi confirmado na sexta-feira (22) e divulgado pelos jornais no sábado.

Valeria a pena dar mais atenção à justificativa oficial: o novo preço deverá proporcionar um reforço de caixa à Petrobras para a continuação de seu programa de investimentos. O novo plano de negócios da empresa altera as prioridades de alguns projetos. Como a Petrobras tem sido responsável, há vários anos, por cerca de 90% dos investimentos das estatais da União, seria interessante um exame mais cuidadoso de seu planejamento e dos critérios adotados pela nova direção. Há alguns sinais de inovação. Podem ser apenas aparentes, mas por que não conferir?

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[Rolf Kuntz é jornalista]