Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O duro desafio da maratona dos portos

O governo está empenhado em estimular a modernização e forçar a concorrência entre os portos, objetivos declarados da Medida Provisória 595, aprovada em votação final no Congresso na quinta-feira (16/5). Portos brasileiros estão entre os melhores do mundo no embarque de minério de ferro, mas ficam em 35º lugar quando se trata da movimentação de contêineres, segundo classificação elaborada pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e noticiada pelo Globo no domingo (19). Mas para haver concorrência será preciso multiplicar os caminhos de acesso aos vários terminais, advertiu o Estado de S. Paulo em matéria publicada no mesmo dia.

“A falta de caminhos alternativos acaba sobrecarregando os portos os portos do Sul e do Sudeste, enquanto outros terminais operam de forma quase ociosa. Na área de grãos, quase dois terços da produção exportada acabam saindo por Santos (SP) e Paranaguá (PR). O restante é dividido entre 16 terminais espalhados pela costa”, explica a reportagem.

Com essas matérias, os dois jornais enriqueceram a informação sobre um dos assuntos mais quentes e mais complexos da semana, a votação da MP dos Portos. As equipes dos meios de comunicação mais importantes haviam feito enorme esforço, durante a maior parte da semana, para acompanhar a tramitação do projeto nas duas casas do Congresso. Além disso, haviam tido muito trabalho para esmiuçar o assunto e mostrar sua importância aos leitores.

Esforço de reportagem

Houve duras e longas negociações na Câmara. O governo havia falhado na mobilização de sua base parlamentar. Por isso, foi preciso correr na fase final para conseguir a aprovação de um texto sem alterações desastrosas. A MP 595 perderia validade à meia-noite de quinta-feira (16).

Com alguns de seus principais aliados jogando contra, o governo teve de fazer concessões e prometer recursos para projetos ligados a emendas orçamentárias. Segundo o noticiário, o Tesouro deveria liberar R$ 1 bilhão e, além disso, mais cargos seriam concedidos. As discussões na Câmara avançaram duas vezes pela madrugada e a sessão decisiva durou 22 horas. Deputados foram fotografados dormindo no plenário, mas o sono era um luxo proibido para os repórteres.

Acompanhar essa maratona foi só uma parte da missão. Dia a dia era preciso explicar as principais mudanças propostas, suas consequências e a provável reação do governo. Pode-se discutir se o esforço deu sempre certo, mas o empenho foi inegável e dificilmente se poderia obter, naquelas condições, resultado melhor. Na sexta-feira (17) os jornais ainda se ocuparam da aprovação final, conseguida em poucas horas e com surpreendente facilidade no Senado. O esforço para traduzir os detalhes do texto e para indicar os prováveis vetos presidenciais continuou na edição de sábado.

Agenda complexa

No domingo, os jornais ainda reservaram espaço para o assunto na primeira página. “Brasil pode avançar no ranking mundial”, informou o Globo, e chamada para a matéria sobre a classificação e o futuro dos portos. “Novos portos no País exigirão mais estradas e ferrovias”, noticiou o Estadão no alto da capa do jornal. Em chamada mais discreta, no pé da página principal, a Folha de S. Paulo registrou a declaração: “‘Não sou gênio do mal’, diz Eduardo Cunha, opositor da MP dos Portos”. Cunha lidera na Câmara dos Deputados o PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer e aliado mais poderoso do governo. Sua resistência foi o principal obstáculo à aprovação da MP.

Com a perspectiva de veto de alguns artigos, ainda haveria muito material para ser explorado e esmiuçado nas edições seguintes. A MP dos Portos foi, até agora, a ação governamental mais completa e mais organizada para o aumento da eficiência e da competitividade da economia brasileira. É apenas parte de uma agenda muito ampla e complexa, como indica, por exemplo, a matéria do Estadão sobre a malha de acesso aos terminais.

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Rolf Kuntz é jornalista