Thursday, 16 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1288

Internet, jornalismo-cidadão: cadê a saída?

O que vai determinar o futuro dos jornais? A queda das vendas ano a ano, coincidindo com o crescimento da internet? Ou o surgimento de alguma idéia ou caminho que possa romper com a ameaça de acabar com os jornais por volta de 2043, como já previu o professor norte-americano e estudioso da matéria Philip Meyer?

O recente falecimento de Octavio Frias de Oliveira, o empresário que revolucionou a imprensa, com a grande virada da Folha de S.Paulo, a partir de 1975, levanta novamente a questão do futuro incerto dos jornais. Como Frias, os novos dirigentes têm o grande desafio de encontrar o caminho para jornais, revistas e mesmo empresas de televisão.

A questão principal é o ponto de vista, o que chamamos de visão empresarial. Octavio Frias assumiu a Folha em 1962 e, não muito tempo depois, já tinha uma visão do negócio, seu futuro e pelo que deveria lutar. Para ele, somente dois grupos jornalísticos sobreviveriam em São Paulo: Estado e Folha. Defendia essa idéia baseado na cidade de Nova York, que no começo do século passado tinha vários diários e, na década de 1960, tinha somente o New York Times como sobrevivente. Naturalmente, isto queria dizer que em São Paulo ficaria somente o Estadão, mas poderia a Folha também sobreviver se conseguisse se transformar numa forte empresa jornalística.

Essa foi a razão de Octavio Frias e, naturalmente, seu sócio Carlos Caldeira Filho, partirem para a aquisição do jornal popular Notícias Populares, depois Última Hora, e finalmente a anexação do grupo Gazeta (jornais A Gazeta e A Gazeta Esportiva e Rádio e Televisão Gazeta), fazendo da empresa Folha da Manhã um forte grupo jornalístico e, de certa maneira, se posicionando como líder de mercado. Afinal, foi a Folha que em 1966 deu uma virada gráfica na imprensa brasileira, passando seus jornais para o sistema de impressão off set, trazendo uma qualidade que antes era exclusiva de revistas. Não levou muito tempo para que toda imprensa do país seguisse a Folha nessa iniciativa pioneira.

Sempre rumo ao abismo

Curiosamente, esse clima de insegurança quanto ao futuro dominava também a família Mesquita nesses primeiros anos da década de 1960. O Estado de S. Paulo, a despeito de ser o jornal mais consolidado e estável daquele momento, tinha um futuro incerto, pois seus leitores eram considerados velhos demais para garantir uma sobrevivência por muitos anos. Na verdade, a média de idade desses leitores estava bem acima dos 40 anos e, com mais 10 anos, a maioria estaria aposentada e não compraria jornal.

Diga-se de passagem, hoje as pessoas se aposentam, mas em sua grande maioria continuam ativas, comprando e lendo jornais. Este fantasma de uma provável queda brutal de leitores é que levou à criação de um jornal jovem e que pudesse não só salvar a empresa, como conquistar público jovem, parte do qual poderia no futuro ser mesmo leitor do próprio Estadão. Assim, surgiu nos primeiros dias de janeiro de 1966 o Jornal da Tarde, uma concepção nova em linguagem e apresentação gráfica, saída das mãos de Mino Carta e Murilo Felisberto. Inicialmente, um vespertino, que se tornou também matutino a partir de 1970.

Vivemos uma espécie de revival desse passado de grandes decisões. Neste momento, é preciso responder o que representa a internet para o futuro dos jornais? E qual será este futuro? De certa forma, estamos presos àquele mundo de Platão, tentando sair das trevas em direção à luz do fim do túnel. Jack Welch, líder empresarial da atualidade, reconhecidamente o homem que tornou a General Electric a empresa mais importante do mundo, também é categórico neste sentido. Segundo ele, todos os negócios estão sempre indo em direção ao abismo e cabe à administração agir para que esse fatalismo não se consuma.

Novas respostas

Se, em 1963, Octavio Frias foi em busca de um caminho diferente daquele que conduziria ao abismo, também em 1975 encontrou resposta para a questão principal: qual o momento da abertura política e o que isso representaria? A Folha apostou na mudança da postura política naquele momento e estava certa, pois a partir dali se desencadearam, mais tarde, outras ocorrências seqüentes, como os movimentos ‘anistia’, ‘diretas já’ e todo processo de redemocratização, sempre com a Folha na vanguarda. Quando terminou o movimento das ‘diretas já’, o jornal do Frias já estava na fase da ‘cidadania’, quer dizer, a luta continuava. Assim como continua ainda hoje.

A mudança que qualquer veículo de comunicação sofre a cada período, diz respeito a uma nova realidade então presente. Como hoje a realidade tem uma mudança muito mais rápida, cada novo projeto também tem uma vida útil muito curta.

Cada nova realidade é um problema para os empreendimentos, que de repente ficam fora do contexto (que mudou), mas é também uma oportunidade para quem quer crescer e até assumir a liderança. Não foi isso que aconteceu recentemente com a empresa aérea Gol? Um mercado mais competitivo exigia novas respostas (passagens bem mais baratas, rotas mais inteligentes, mais opções para o cliente). Aparentemente, estava se disputando uma fatia de mercado, mas no fundo era mesmo quais empresas aéreas ficariam e as que sucumbiriam (Varig e Vasp).

As ocorrências não se esgotam

Entre as realidades política, social e econômica, surgiu com muito ímpeto a realidade tecnológica, com o aparecimento da internet. Como a impressora de Gutenberg, a internet mudou totalmente o panorama nas comunicações. Apesar da queda mais acentuada na venda dos jornais ocorrer nos últimos anos, a internet, no entanto, não é um concorrente dos meios de comunicação existentes, mas um aliado fundamental para poder cumprir a tarefa de atender a realidade atual de comunicação que requer uma postura no mínimo ‘para-online’.

A internet não é um concorrente, mas uma extensão do jornal. Ela está muito mais para braço do jornal que da televisão, embora seus recursos possam confundi-la com o meio eletrônico. É preciso entender que a internet é o jornalismo impresso na forma eletrônica e não jornalismo eletrônico, como se pensou inicialmente. Mas, a grande confusão continua sendo a separação entre o jornal que vai às bancas e o jornal que é feito para a internet. Não, é tudo a mesma coisa, ou seja, quando o jornal vai às bancas, ele levanta e aborda assuntos, que precisam entrar no timing atual, mas que tecnologicamente os jornais estão impedidos de atender.

É impraticável sair com uma edição por hora, por exemplo. Entretanto, é perfeitamente viável e necessário uma edição online uma hora depois do jornal impresso estar na rua, desde que seja uma edição para valer e não aquela relação, por exemplo, que o Jornal Nacional tem com o Jornal da Globo: o segundo, que é apresentado duas horas e meia depois do JN, é praticamente uma repetição. Que o Jornal da Globo seja uma ‘cozinha’ do Jornal Nacional, não há duvida, porque tem sido assim a vida toda. Um é edição das informações do dia e outro um remake, para quem chega mais tarde ou quem quer ver ou rever as notícias antes de dormir. Entretanto, eventualmente o Jornal da Noite deixa de ser apenas uma ‘cozinha’ do seu antecessor e traz a seqüência de algum fato relevante, como as informações ao vivo, que não podem deixar de ser registradas – seja a decisão de uma assembléia de trabalhadores do metrô sobre a greve do dia seguinte, seja como está a cidade, agora à noite, depois de um dia de muitos atentados.

Evidentemente, todos os dias há muitos assuntos apresentados no Jornal Nacional que poderiam ser preocupação de pauteiros para o outro jornal das 23h30. No mínimo, ouvindo pessoas interessantes para opinar a respeito, para não dizer que todas ocorrências não se esgotam em si, mas têm uma seqüência. É só ir atrás.

Posicionamento político

A relação entre o jornal impresso e o jornal da internet é a que deveria existir entre Jornal Nacional e Jornal da Globo: o impresso chega às bancas e às casas dos assinantes; os leitores, através da internet, podem acompanhar a evolução dos assuntos de seus interesses, ali publicados, logo a seguir e durante todas as horas que antecedem a impressão de nova edição. Quantas edições pela internet entre uma publicação e outra? Podem ser dezenas de edições, entre 7h e 22h, e mais algumas na madrugada, entre 23h30 e 5h30. Sem exageros, poderia ser simplesmente uma edição única que vai se atualizando a cada pequena fração de tempo (5 a 15 minutos).

Esta última opção tem, no entanto, o inconveniente de descompromissar os editores, uma vez que apenas atualizar não é o toque de ação; enquanto que realizar uma edição tão boa quanto foi a edição impressa já insere um compromisso de qualidade. Pode ser que o ideal, inicialmente, seja uma mescla de edições a cada duas horas, por exemplo, e nos intervalos dessas, a prática da atualização, principalmente de matérias principais ou eleitas para isso, com base em possíveis preferências do leitor. O fato importante é a existência de edições em série e atualizações, de forma que o leitor saiba perfeitamente que tem uma perspectiva real de informação e satisfação de sua curiosidade ao longo do dia (e noite).

Se foi em 1975 que a Folha começou a mudar, nos anos 1980 ela revolucionou a imprensa, assumindo o primeiro lugar entre não só jornais, mas como o veículo de comunicação mais importante, do ponto de vista político, de nosso país. Tudo começou com um posicionamento político, para um jornal considerado por todos uma ‘água com açúcar’ naqueles 11 anos de ditadura, até então. Da criação das páginas de editoriais, a Folha saltou e ganhou força em todas as áreas, inclusive na publicidade de classificados, onde O Estado de S. Paulo sempre reinara absoluto.

As mudanças na Folha

O Estadão, entre 1964 e 1975, ano em que por sinal completou 100 anos de existência, foi o jornal-modelo para este período de exceção: denunciava a censura oficial e informava a todos que aquele espaço fora censurado, publicando receitas culinárias no lugar. Para conhecer um pouco mais que o permitido pela situação, o leitor não ficava somente no Estadão, mas iria ver na Folha, ou nos jornais cariocas Jornal do Brasil ou O Globo, matérias importantes que não haviam sido publicadas no jornal da Major Quedinho, rua da antiga sede.

A diferença entre o Estadão e os demais jornais era que aquele não aceitava as mudanças impostas pelo censor, preferindo não publicar a matéria que sofresse interferência. Com um pouco de esforço, o leitor mais esperto poderia não só localizar matérias que haviam sofrido censura naquela edição, mas imaginar o que algumas dessas matérias traziam que teriam determinado a publicação de uma receita culinária no lugar. Era um jogo entre o cidadão e o poder autoritário, a oposição e a ditadura. Só que um dia esta situação iria se esgotar e novos tempos surgiriam. Localizar esse momento e explorar a nova realidade foi o que a Folha fez.

Além disso, em 1975 a Folha estava com boas pré-disposições para promover mudanças. A primeira delas é que, desde o surgimento da Opep e o brusco aumento do petróleo, em 1974, a Folha passou a ter um custo de distribuição muito elevado, considerando que a empresa tinha uma enorme frota de caminhonetes e caminhões médios. Distâncias como Curitiba e fronteira de São Paulo com Mato Grosso eram representativas no mapa de distribuição. Assim, de repente, a Folha viu seu custo de combustível dar um salto tão significativo que, como comparativo, pode-se lembrar que naquela época acabou o trânsito de São Paulo e de outras grandes cidades, graças à alta extraordinária do petróleo. Mexer no bolso é um fator de reação como nenhum outro.

A segunda foi a presença de Cláudio Abramo na Folha, com sua visão e suas idéias – que iriam influenciar decisivamente o sr. Frias. E em terceiro lugar, a pressão por mudança começou a ocorrer dentro da própria casa do Frias, através de seus filhos, notadamente o Otavio Filho, que se tornou líder do movimento estudantil no meio universitário de São Paulo. A combinação desses fatores faria com que qualquer proposta razoável naquele momento fosse bem vinda.

Sinergia em alta

Entre os gloriosos anos 1980 e a indefinição atual, percorreu-se um longo caminho. Jornais do mundo todo tiraram suas vendas da ‘fofoca’ da vida pública e de gente conhecida, quando não famosa. Nesse período, mudanças profundas ocorreram na vida social e na tecnologia. Se tudo é muito mais veloz, de outro lado, as pessoas estão mais exigentes e não se conformando com a condição de meros espectadores.

Pode-se dizer que não basta sair daquelas longas 24 horas de hibernação, que é o tempo entre cada edição impressa, e procurar apenas preencher a necessidade atual de informação mais rápida. Mesmo as diversas edições por internet, já apresentada, não é uma idéia que se basta.

O general Custer venceu os índios norte-americanos quantas vezes os enfrentou. Mas ele e sua 7ª Cavalaria encontrariam a morte em Litle Big Horn, porque subestimou a situação e não viu que Touro Sentado e Cavalo Doido tinham nada menos que 10 mil índios. É assim: todo Napoleão tem seu dia de Waterloo.

Os anos 1980 e 90 foram de vitórias. Mas acabamos entrando na reta que nos conduzirá ao nosso Waterloo. É preciso agir como Touro Sentado, que fez muitos preparativos, incluindo muitas oferendas aos deuses, para o encontro que sabia inevitável, e como o general Wellington, que preparou o terreno e outras disposições mais que o próprio Napoleão costumava fazer.

Uma sinergia em alta pode ser a nossa redenção. Até recentemente, a sinergia das empresas era a soma das energias de seus lideres, contando com pequena, quase irrisória, participação do corpo de funcionários. Mas agora não – devemos reconhecer que a energia perdida dos milhares de funcionários que trabalham em cada empresa jornalística é um grande desperdício para um momento tão importante.

Devemos nos lembrar que o Brasil ganhou o Campeonato Mundial de Futebol de 1994, depois de 24 anos sem esta conquista, não porque tínhamos jogadores excepcionais como Romário, Bebeto e Dunga, mas porque entre todos eles se formou uma aliança à altura das disputas. Aliança que acabava sendo passada a todos, inclusive ao público, através do gesto incomum de entrarem os jogadores em campo de mãos dadas. Que lição podemos tirar disso?

O polêmico jornalismo-cidadão

Se o que se pretende é vencer este desafio decisivo na vida dos jornais do mundo todo, podemos até ir mais além das energias existentes dentro de cada empresa jornalística. Podemos (acho que devemos) pensar no público, na sua participação no processo e na soma de suas energias com as que a empresa passa a contar, a partir da conquista de seus funcionários nesse processo de formação de uma grande sinergia. É aqui que tudo começa a mudar verdadeiramente.

Há muita polêmica em torno do chamado jornalismo-cidadão ou de código aberto. É inegável que estamos vivendo uma época ativa, onde as pessoas não se conformam em estar onde estão e vivem em busca de algo além. Como leitores, não são mais apenas consumidores de notícias, mas acreditam no jornal que compram e, diante de qualquer fato em contrário, são os primeiros a reclamar e exigir uma correção. Há 35 anos, um dos grandes cantores de sucesso era Wilson Simonal, pai dos cantores Simoninha e Max de Castro. Seu maior feito era conseguir que o público de seus shows cantasse trechos de suas músicas.

Ninguém praticamente conseguia essa participação do público. Hoje, ao contrário, qualquer artista que tem um pouco de empatia com o público faz este participar cantando, gesticulando e fazendo qualquer coisa que seja solicitado. A razão é muito simples: este público de hoje não quer apenas ver e ouvir, passivamente. O público leitor também vive esta expectativa de participar. E cabe ao jornal, que representa aqui o artista no comando do espetáculo, possibilitar a sua manifestação. Não o fazendo, estará frustrando esse público e permitindo que este venha buscar satisfação em outro meio, concorrente direto ou não.

Está, assim, declarado nosso voto a favor do jornalismo-cidadão ou de código aberto. Por outro lado, é preciso acabar com esse mito de que o leitor participante do jornal vai terminar com o emprego do jornalista ou diminuir os cargos na redação. Seria muito fácil para as editoras jornalísticas ter uma folha de pagamento menor e contar com seus próprios clientes, os leitores, fazendo o produto. Essa maravilha comercial não existe! Quem tem que produzir alguma coisa, também tem que arcar com custos cada vez maiores, em contrapartida com uma exigência de preços cada vez menores por parte dos compradores. O jornal não foge à regra. Ao contrário, sua abertura para participação dos leitores também representa mais trabalho para jornalistas e mais custos para as empresas.

Quanto custa o leitor?

Para realizar as várias edições e atualizações que vão acontecer todos os dias, e ainda para não cair na ficção que se tornou a troca de informação entre internautas, os jornais têm que não só contar com toda sua equipe atual, como reforçá-la significativamente. A informação vinda do leitor, quando não confirmada, precisa passar ao público com o aviso de que a confirmação virá posteriormente (se possível prever o tempo).

Os jornais têm credibilidade e nesta expansão de meios de informação, interagindo com os leitores, devem garantir a mesma seriedade e personalidade. As milhares de informações, em forma mesmo de matéria e fotos, que deverão chegar diariamente constituem uma expansão natural da nova realidade da comunicação, mas não uma revolução em si. Esta revolução serão os editores, principalmente os pauteiros, que irão imprimir nos veículos, tornando-os muito mais atuantes em conteúdo e penetração e perfeitamente sincronizados com a supra-velocidade que hoje vivemos.

O pauteiro será a função mais requisitada dessa nova era da comunicação. Diante de um volume extraordinário de informações, terá que garimpar as mais importantes, inclusive do ponto de vista da criatividade e visualização de pautas. Ele será verdadeiramente aquele especialista, ao qual o antigo provérbio se referia: ‘Para bom entendedor, um pingo é letra’. Sim, porque nas entrelinhas das informações vindas dos leitores estarão grandes matérias. É preciso ver e criar. Nunca se sabe também o que vem por aí. De repente, pode até haver, por parte de alguns desses colaboradores, a opção de eventualmente trocar o ‘Disque Denúncia’ pela realização de uma matéria, com fotos ou documentos comprobatórios, e aí a posição desse jornalismo começa a ganhar uma dimensão diferente da imaginada.

Quanto custa a participação do leitor como membro de uma rede de informação? Se o jornal pagar um mínimo de R$ 10,00 e um máximo de um salário mínimo para cada colaboração, com 500 participações/dia selecionadas e a uma média de R$ 20,00 cada, são R$ 10.000,00 por dia. No final do mês, o custo será de R$ 300.000,00 , o que é menos do que costuma pagar a revista Playboy à celebridade da capa. E a perspectiva é de um resultado maior que os nus de Playboy, sem dúvida.

Ressuscitar o ‘Serve Folha’

Outra estratégia seria pagar menos para poder também remunerar simbolicamente o que chamaremos de ‘lixão’. Se o mínimo descer para R$ 5,00, abre-se a possibilidade de para cada colaboração selecionada, outras cinco irem para o ‘lixão’, recebendo o valor simbólico de R$ 1,00 cada uma. Assim, a seleção de 500 colaborações diariamente passaria a contar com outras 2.500 do ‘lixão’. Onde vai o ‘lixão’? Pode ser para a própria internet, que tem muito espaço, e utilizando-se da fórmula do ‘conta-gotas’: cada informação, mesmo que tenha chegado em duas ou mais laudas, seria publicada em duas linhas, sem título, com asterisco inicial, apenas. Mesmo assim, constituiria no total um volume considerável de cerca de 250 laudas de 20 linhas. Pela variedade e quantidade de informações, no entanto, o ‘lixão’ poderia se tornar também uma seção bastante lida. Marx defendia a idéia de que quantidade é qualidade!

Essa questão do jornalismo-cidadão abre um leque muito grande de possibilidades. Estas poucas apresentadas já são um exemplo. A participação do leitor na realização do produto também não se esgota por aqui. Há o lado da energia, ao qual nos referimos no inicio desta temática. Como o leitor vai participar da extraordinária sinergia em que se converterá o jornal é outra abordagem a ser desenvolvida. Basta saber que é possível, está dentro da nossa atual realidade e se faz necessário, portanto.

Dentro da perspectiva de jornalismo-cidadão, pode-se pensar até em ressuscitar algo parecido com o ‘Serve Folha’, um plano singular do início dos anos 1960. Consistia em nomear, como uma franquia, nos tempos que não se falava disso, estabelecimentos comerciais que representariam a Folha, para colher publicidade, assinatura e cartas de leitores e sugestões para reportagens. Em cada bairro, haveria um ‘Serve Folha’, de forma que anunciantes, assinantes e leitores em geral estariam mais próximos do jornal e até tendo uma certa participação no mesmo. Não precisa dizer que não deu certo, porque era um plano para os tempos atuais e não para o início dos anos 1960.

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Jornalista