Friday, 13 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

O peso do regionalismo

Se um corrupto desejar minimizar os efeitos do acompanhamento da imprensa de suas falcatruas, uma vez que elas tenham sido denunciadas ou descobertas, deve tentar levar as investigações sobre o crime para Estados periféricos do Brasil. Quanto mais distante dos grandes centros, menor a cobertura dos jornais de alcance nacional. É o que revela uma análise mais detida do noticiário sobre os episódios de corrupção no País, iniciada na última edição deste Observatório.


Nesta semana, comparamos a cobertura de dois jornais de Estados diferentes — a Folha de S. Paulo e O Globo. A primeira constatação possível a partir da análise comparativa é justamente o peso que o regionalismo tem na cobertura. Como seria de se esperar, o jornal carioca cobre melhor e mais extensivamente os casos de corrupção que grassaram nas terras fluminenses. Na semana passada (entre os dias 20 e 28/6), de acordo com o banco de dados organizado pela Transparência Brasil sobre matérias, artigos e editoriais relacionados à corrupção, o Globo publicou 59 textos sobre o assunto. No mesmo período, foram 53 matérias na Folha.


No diário carioca, o caso da Máfica do Propinoduto — nesta semana vários envolvidos foram soltos por decisão judicial — ganhou destaque muito superior ao concedido pelo jornal produzido a partir da Barão de Limeira. Como se sabe, o esquema das propinas, supostamente comandado por um ex-subsecretário de Administração Tributária do governo do Estado durante a gestão Garotinho, é genuinamente carioca. Rodrigo Silveirinha, o protagonista, pôde sair da cadeia após um ano e dois meses e, naturalmente, essa notícia teve impacto muito maior para os cariocas do que em São Paulo. No Globo, foram 7 matérias ou artigos sobre o caso, ao passo que a Folha publicou uma única reportagem e uma carta de leitor.


Silveirinha, porém, já não é mais um personagem de alcance regional: a Folha poderia ter investido mais no caso, até pelas implicações que traz para o hoje secretário de Segurança Pública do rio, Anthony Garotinho (PMDB), que também vem sendo apontado desde já como presidenciável em 2006.


Outro caso em que a cobertura do Globo vem sendo mais extensiva do que a da Folha é o do ex-assessor da Casa Civil da Presidência da República, Waldomiro Diniz. O jornal paulistano está acompanhando as investigações com reportagens menores do que as do seu concorrente carioca, talvez porque Waldomiro seja o centro de uma CPI instalada na Assembléia Legislativa do Estado do Rio. Assim, o Globo vem abrindo mais espaço e publicando reportagens mais alentadas do que as da Folha sobre o caso. Na semana passada, porém, pode-se dizer que houve um empate neste caso: os dois jornais deram exatamente duas matérias cada um sobre Waldomiro — uma bastante semelhante em termos de conteúdo e espaço (sobre a acareação entre Diniz e Carlinhos Cachoeira). As outras duas matérias são diferentes: o Globo noticiou o pedido da CPI da Loterj da quebra dos sigilos do ex-assessor; a Folha destacou a rejeição de denúncia contra ele pela Justiça Federal.


Da mesma maneira que o Globo deu melhor os últimos passos de Silveirinha e Waldomiro, a Folha apresentou uma cobertura muito mais ampla sobre as últimas peripécias do ex-prefeito paulistano Paulo Salim Maluf. Em termos de espaço, Maluf obteve quatro vezes mais holofotes no jornal de São Paulo do que no do Rio. O Globo noticiou apenas a quebra de sigilo bancário do ex-prefeito na Inglaterra (embora ele negue ter contas no exterior, o que não deixa de ser um paradoxo). No mesmo período, a Folha trouxe para seus leitores quatro reportagens, uma delas abrindo uma página ímpar do primeiro caderno. Maluf, como se sabe, é candidato a prefeitura paulistana neste ano e está mais uma vez no centro do cenário político da cidade.