Mais de 100 mil pessoas compareceram ao funeral do jornalista armênio Hrant Dink, assassinado a tiros na sexta-feira passada (19/1). O editor do jornal semanal Agos era alvo do ódio de turcos nacionalistas por classificar abertamente o massacre de armênios durante o Império Otomano de ‘genocídio’. Sete suspeitos de participação no crime estão sob custódia. Todos pertencem a um grupo ultranacionalista. Um deles, um adolescente de 17 anos, confessou a autoria do assassinato, de acordo com informações da polícia local.
Uma multidão se aglomerou do lado de fora do escritório do jornalista, que tinha 52 anos. As frases ‘Somos todos Hrant Dink’ e ‘Somos todos armênios’ estampavam placas escritas em turco de um lado e armênio do outro. Cartazes afirmavam ‘O Artigo 301 é o assassino’, em referência ao controverso artigo do código penal que tona crime ‘insultar a identidade turca’. No ano passado, Dink chegou a receber uma suspensão da prática jornalística com base na cláusula.
Por suas críticas ao massacre de armênios durante a Primeira Guerra Mundial, o jornalista era chamado de ‘traidor’ por nacionalistas e já havia recebido ameaças de morte. Ao mesmo tempo, ele era amplamente respeitado na Turquia como um ativista pela reconciliação entre turcos e armênios e pela liberdade de expressão. A mulher de Dink, Rakel, afirmou que o marido morreu por causa de ‘seu amor pela verdade, transparência e amizade’.
Emoção e esperança
Centenas de policiais foram escalados para acompanhar a cerimônia fúnebre. Entre aplausos e gritos de protesto, a multidão percorreu o caminho entre o jornal até a igreja do patriarcado armênio. ‘Em um momento em que a palavra ‘armênio’ é usada como um insulto em nosso país, é um grande avanço as pessoas estarem hoje aqui dizendo ‘somos todos armênios’’, declarou o também jornalista armênio Raffi Hermonn. Uma jovem de 16 anos sintetizou o sentimento dos presentes ao funeral: ‘O que Hrant não conseguiu durante a vida ele alcançou com sua morte – união’.
Durante o serviço religioso, foram pedidas medidas para erradicar o sentimento antiarmênio na Turquia. ‘Nós ainda acreditamos que nosso estado e o povo turco aceitarão os armênios como cidadãos da República Turca’, afirmou o patriarca Mesrob II, líder espiritual da comunidade armênia na Turquia. Diante do caixão de Dink, o patriarca chorou e rezou para Deus ‘fortalecer o amor entre as pessoas’.
Líderes religiosos armênios e líderes civis dos EUA e países europeus compareceram ao funeral. O vice-primeiro-ministro Mehmet Ali Sahin e o ministro do Interior, Abdulkadir Aksu, representaram o governo turco na cerimônia. O ministro das Relações Exteriores armênio, Vartan Oskanian, afirmou que a morte do jornalista deve impulsionar os esforços para melhorar as relações entre a Armênia e a Turquia. ‘Juntos, armênios e turcos podem garantir o desejo de Hrant por paz além das fronteiras, diálogo entre os povos e entendimento entre as pessoas’, declarou em uma carta enviada à viúva de Dink.
Desacordo
A Turquia reconheceu a independência da Armênia em 1991, mas os vizinhos nunca estabeleceram laços por causa de seu forte desentendimento quanto ao massacre de armênios no início do século passado e quanto ao conflito entre a Armênia e o Azerbaijão, país aliado à Turquia.
Em Bruxelas, cerca de 400 pessoas se reuniram para uma manifestação em frente à embaixada turca e próximo aos escritórios da Comissão Européia para denunciar o assassinato de Dink. Informações de Nicolas Cheviron [AFP, 23/1/07].