Wednesday, 01 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Contra a relevância

Nos últimos anos, passei muitas horas em salas de comissões e conferências acadêmicas nas quais as pessoas falavam sobre a importância do pensamento crítico no currículo de Língua e Literatura inglesas. Muitos motivos eram apresentados, mas um dos mais urgentes era o seguinte: na vida contemporânea, os jovens precisam analisar criticamente as mensagens que recebem. São saturados pela mídia – com publicidade, canções e vídeos carregados de valores e shows de televisão que contêm valores e atitudes implícitos. E eles tendem a consumi-los de maneira mecânica, absorvendo as ideologias camufladas a menos que os professores lhes mostrem a forma de interpretá-los criticamente, para desmascarar esses valores e atitudes.

A perspectiva transforma-se em currículo. Os defensores do pensamento crítico acreditam que a melhor maneira de inculcar mentalidades esclarecidas e analíticas é, justamente, trazendo materiais da cultura de massa para a sala de aula e submetê-los a uma análise esclarecida. Os professores deveriam mostrar um anúncio de cerveja e desmascarar seus estereótipos de gênero. Fazer os estudantes lerem um conto popular para adolescentes e identificar suas normas de adolescente. Quanto mais os professores o fizerem na sala de aula, dizem os defensores desse raciocínio, menos os estudantes permitirão que esses materiais os afetem, quando os encontrarem futuramente.

Mas isto é um equívoco. Para começar, vai transferir as poucas e preciosas horas do curso de Inglês e devotá-las a materiais que são vulgares, transitórios e vazios. Os adolescentes norte-americanos têm um conhecimento tão deficiente de história da literatura que a perda das horas devotadas a Shakespeare, Milton, Emerson, Emily Dickinson, Virginia Woolf e W. E. B. DuBois sai cara. Para alguns deles, o ensino médio e o Inglês básico são as únicas possibilidades de encontrarem Macbeth, Elizabeth Bennet ou Jay Gatsby.

A experiência e o treinamento

Em segundo lugar, os materiais de cultura de massa não valem o esforço. Na verdade, toma pouco tempo e esforço extrair significados ideológicos tácitos de vídeos de música, de programas de TV e de revistas de publicidade. São muito mais transparentes para os jovens do que muitos adultos pensam. Os estudantes não se impressionam com a capacidade do professor em expor o consumismo em espetáculos infantis, nem estão dispostos a ouvir menosprezar sua mídia preferida. Uma professora que tente mostrar seu conhecimento sobre os ingredientes de suas vidas de lazer terá o tédio como resposta – e com razão.

Em terceiro lugar, e mais importante, trazer cultura de massa para a sala de aula de Inglês não é, na realidade, a melhor maneira de inculcar o pensamento crítico sobre a cultura de massa na cabeça dos estudantes. Poderia chamar-se “falácia imitativa”. Sim, faz sentido intuitivo, para os professores, trazerem para a sala de aula coisas que eles querem que os estudantes compreendam quando saírem dali. De acordo com o senso comum, se eles quiserem que os estudantes adquiram alguma distância interpretativa dos anúncios da TV, então os professores deveriam incorporá-los à apresentação.

Mas isto significa confundir a experiência propriamente dita de alguma coisa com o treinamento que leva a produzi-la. Como poderá dizer qualquer treinador esportivo, militar ou de artes marciais, para que a experiência seja bem-sucedida, o treinamento deverá ir muito além dela. Nas artes marciais, por exemplo, uma das metas é preparar alguém para coordenar um enfrentamento com sabedoria, com força proporcional e auto-consciência. Algumas lutas podem exigir defesa física – bloqueios, socos e chutes – e, portanto, o estudante tem que estar treinado para isso. Entretanto, o programa de treinamento exige muito mais dos estudantes do que exigirá a luta. O treinamento envolve chutes com o pé bem alto, embora seja raro que isso aconteça numa luta. Um chute baixo é o suficiente. Mas para que o chute baixo seja eficiente, o estudante tem que dominar o chute com o pé bem alto.

A virtude imediata da anti-relevância

Esse padrão se aplica aos materiais culturais no programa. Se os professores querem que os alunos percebam os significados implícitos em imagens comerciais, deveriam fazer com que os alunos estudassem imagens de maior complexidade e sutileza. Alguns dias com imagens produzidas por boa fotografia e bom cinema os equiparão para “ler” vídeos musicais de maneira muito mais eficiente do que alguns vendo aqueles próprios vídeos. A poesia de Alexander Pope e Edna St. Vincent Millay fará mais pelo conhecimento verbal dos estudantes do que anúncios políticos ou tweets do Twitter.

É essa a virtude imediata da anti-relevância. Se os professores querem melhorar o pensamento crítico a respeito da cultura de massa contemporânea, deveriam expor os alunos à alta cultura existente. A linguagem poética do Romantismo exerce pensamento crítico sobre linguagem melhor do que cartazes de propaganda. É um paradoxo, mas é verdade. Se os professores querem que os estudantes conheçam o presente e suas toscas tentações, deveriam banhá-los nas melhores expressões do passado.

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[Mark Bauerlein é professor de Inglês na Emory University]