Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Entre a coerência e a superficialidade

Nunca antes na imprensa brasileira se escreveu tanto sobre o aborto. O tema
está em destaque na revista Época, na Veja e na
CartaCapital desta semana. Vários jornalistas e articulistas têm escrito
sobre ele nas páginas dos jornais e nos blogues. Tema da hora porque, ao que
tudo indica, o segundo turno para a escolha do próximo presidente aí está em
virtude do voto religioso, que alguns consideram simplesmente
fundamentalista.


Muitos católicos e evangélicos teriam identificado a candidata Dilma como
agente do mal, aquela que ‘é a favor de matar criancinhas’ (Mônica Serra).
Votaram em Marina Silva, que já foi católica e hoje é evangélica. O que
proporcionou a José Serra a sobrevida de um mês na disputa eleitoral. Além de
Marina, o próprio Serra teria sido diretamente beneficiado pelo voto
religioso.


Aborto… Política… Religião… As autoridades religiosas vêm a público se
manifestar. A palavra dessas autoridades se dirige ao fiel que, na hora sagrada
de votar, é pressionado por sua consciência a não cooperar com a
iniquidade…


O pastor Silas Malafaia influencia o povo evangélico. Decidiu não votar na
‘irmã’ Marina e opta por Serra: veja o vídeo.
Outro líder cristão, o pastor Paschoal Piragine Jr., da Igreja Batista de
Curitiba, também se posiciona contra o PT: veja o vídeo.
Um sacerdote católico, da Canção Nova, manifesta-se no seu sermão contra o PT:
veja o vídeo. Um vídeo
no YouTube, contra o aborto, chega a denunciar Gabriel Chalita (PSB), líder
católico, como ‘traidor’, ao apoiar as candidaturas de Marta Suplicy e
Dilma.


Não fica um, meu irmão…


A ideia de fundo é que uma pessoa coerente com seus princípios religiosos não
pode votar em políticos que defendam práticas contrárias à lei natural, à moral
do Evangelho ou aos ensinamentos da Igreja católica.


No entanto, se esse contingente de eleitores quiser ser coerente para valer
deverá aprofundar sua busca de informações. Não basta ler e-mails de origem
duvidosa ou a revista Veja, que na capa da última edição associa Dilma
Rousseff (somente Dilma) à questão do aborto.







Trata-se de averiguar então o grau de coerência católica de
José Serra, que seria a ‘opção do bem’.

O candidato do PSDB, quando ministro
de FHC, em 1998, assinou a Norma Técnica ‘Prevenção e
Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e
Adolescentes
‘, autorizando os hospitais
públicos a realizar abortos. O padre Léo, da Canção Nova, sobre isso se
manifestou: veja o vídeo.


Serra é um entusiasta dos valores da maçonaria, como neste
vídeo
. (Aliás, o próprio católico Geraldo Alckmin simpatiza com a maçonaria,
conforme este
vídeo
, e Gilberto Kassab e o candidato a vice Michel Temer se irmanam neste
outro
vídeo
.) A rigor, católicos também não podem votar em simpatizantes da
maçonaria.


Com relação à homossexualidade, seria difícil para José Serra explicar este vídeo aos seus
apoiadores à la Malafaia. A rigor, evangélicos também não podem votar em
quem elogia a Parada Gay.

******

Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br