Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O fenômeno Thomas Piketty

Muito mais do que um extraordinário fenômeno editorial, a repercussão do livro do jovem economista francês Thomas Piketty – O capital no século 21 – tem a ver com o seu inspirador, Karl Marx, e com os preconceitos que o filósofo alemão desperta nas elites econômicas e políticas há 137 anos, quando publicou o primeiro volume do O Capital, a obra mais proibida dos últimos séculos.

Mas o que alavanca o entusiasmo em torno de Piketty, tornando-o instantaneamente uma estrela de primeira grandeza no cenáculo mundial, são as conclusões que procurou comprovar cientificamente: Marx está correto, as desigualdades tendem a eternizar-se, na medida em que a riqueza mantém-se sólida, não se distribui.

Piketty não é um carbonário, é um marxista moderado, militante do Partido Socialista francês, que está sendo recebido com o maior respeito por publicações notoriamente conservadoras como o Wall Street Journal e The Economist, este do mesmo grupo que edita o Financial Times, que tenta corrigir suas premissas e estatísticas. Em vão.

A chave final para explicar o fenômeno Piketty é a afirmação nas primeiras páginas da introdução: “A economia é algo sério demais para ficar exclusivamente nas mãos dos economistas e cientistas sociais”. A economia concerne a todos. Piketty está parafraseando o político francês George Clemanceau, que chocou os generais durante a Primeira Guerra Mundial ao dizer que “a guerra é séria demais para ficar apenas nas mãos dos militares”.

A inédita democratização do debate econômico tem a ver com a profissão dos principais players desta história: Marx foi jornalista e dono de jornais na velha Prússia; perseguido e silenciado, acabou como articulista do maior jornal americano na segunda metade do século 19, o New York Daily Tribune. Durante onze anos escreveu 350 artigos, alguns em parceria com Friederich Engels, e assim sobreviveu com relativo conforto.

Piketty é colunista mensal do Libération e ocasionalmente colabora com o Le Monde. E seu principal suporte é Paul Krugman, Nobel de economia e articulista regular do New York Times.

Comprovado: a distribuição da riqueza é também tarefa da imprensa livre.

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A mídia na semana

>> Recomeçou a guerrilha em torno de uma suposta intenção do governo em regular ou controlar a mídia. Como sempre acontece nesta área, as informações são contraditórias, provocadoras e inconfiáveis. A presidente Dilma Rousseff tem reiterado a sua rejeição a qualquer tipo de controle sobre o conteúdo, mas agora passou a admitir uma regulação apenas sobre questões econômicas, isto é, sobre a concorrência tal como acontece nos Estados Unidos e em diversos países europeus. O CADE, autarquia ligada ao Ministério da Justiça, já mediou episódios isolados de concorrência na mídia mas ninguém reclamou. Poderia voltar a fazê-lo e será bem-vindo

>> Ronaldo Fenômeno volta a atacar, desta vez fora do gramado: membro desde 2011 do COL, o comitê organizador local da Copa, o craque finalmente quebrou o silêncio e criticou o atraso nas obras de acesso aos estádios e aeroportos. Dias depois anunciou que ajudaria a campanha do seu amigo, o presidenciável Aécio Neves. Pegou mal. Em seguida, numa sabatina, declarou que a polícia deveria “baixar o cacete” nos manifestantes que depredam. Pegou mal novamente. Seus admiradores sugerem que volte logo aos gramados ou às suas redondezas.

>> O presidente do STF, Joaquim Barbosa, continua dono dos holofotes: ao anunciar a renúncia do cargo de supremo magistrado e a imediata aposentadoria, ocupou as manchetes dos jornais e escaladas dos telejornais. Encerrada a AP 470, extremamente popular no país inteiro, o primeiro ministro negro do STF começa a estrelar uma fascinante novela de mistério: “O que fará Joaquim Barbosa?” Resposta nos próximos capítulos.

>> Existem renúncias e renúncias. A abdicação do rei Juan Carlos da Espanha não é ato de grandeza, é o reconhecimento de que seu genro e filha são corruptos.