Monday, 20 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1288

Entre a liberdade de expressão e o controle de conteúdo ofensivo

O grupo al-Shabaab, de militantes afiliados à al-Qaeda na Somália, escolheu o Twitter para assumir a responsabilidade pelos ataques no shopping queniano que deixou mais de 70 mortos. Por meio de tuítes, os terroristas divulgaram informações – como a contagem dos corpos, por exemplo. Mesmo com a suspensão da conta, outra foi criada, o que reforçou as dificuldades encontradas pela rede social para remover conteúdo que incomoda alguns usuários e afasta anunciantes, na medida em que o Twitter se prepara para abrir capital.

O microblog costuma usar sua audiência de mais de 200 milhões de usuários como trunfo para atrair anunciantes. No entanto, com seu princípio de que os “tuítes devem fluir” e as mensagens impróprias são removidas pela moderação, o site precisa equilibrar receios de que marcas podem ser prejudicadas ao ser associadas a conteúdo ofensivo. “O Twitter ganhou muita confiança na frente da liberdade de expressão lutando duras batalhas”, diz Parker Higgins, ativista da Electronic Frontier Foundation (EFF), grupo de defesa dos direitos da liberdade de expressão na internet.

O Twitter é uma de apenas duas empresas de internet que receberam a nota máxima no ranking da EFF em relação aos esforços para proteger dados pessoais. Ainda assim, em julho o site foi forçado a entregar dados para promotores franceses para ajudar a identificar os autores de comentários homofóbicos, racistas e anti-semitas.

Para Higgins, o Twitter, como uma empresa privada, construiu confiança investindo quantias significativas em batalhas legais em nome de seus usuários. Esses valores seriam difíceis de justificar em reuniões com acionistas. Além disso, os “tuítes promovidos”, que são a principal forma de anúncio do Twitter, aparecem na timeline segundo interesses dos usuários e não ligados ao conteúdo que estão vendo, portanto é difícil ter controle sobre o que estará próximo deles.

Testes diários

A censura, no entanto, não seria algo que atrairia anunciantes. A rede social orgulha-se do fato de ter sido usada como ferramenta para desafiar autoridades, como na Primavera Árabe. Para Dick Costolo, executivo-chefe do Twitter, o papel de defender a liberdade de expressão torna-se cada vez mais desafiador na medida em que a empresa cresce e se torna global.

Inicialmente, a política da empresa era de permitir “conteúdo potencialmente inflamatório” desde que não contivesse ameaças diretas ou específicas de violência e não violasse leis locais. Essas regras são, cada vez mais, testadas publicamente. Depois que uma mulher fez campanha para que a imagem da escritora Jane Austen estivesse nas notas de 10 libras e recebeu ameaças violentas, foi lançado um botão para “reportar tuíte”, de modo a facilitar queixas sobre assédio.

Essas questões atingem outros sites que dependem de receita publicitária, como Google e Facebook. No começo do ano, anunciantes como Nissan, Unilever e Nationwide suspenderam campanhas publicitárias no Facebook após reclamações sobre anúncios que apareceram próximos a posts que incluíam imagens de mulheres violentadas. O Facebook respondeu às reclamações dos anunciantes criando uma “zona de segurança” para tentar minimizar o risco de anúncios aparecerem ao lado de conteúdo ofensivo.

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