Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Títulos enganam leitores na busca por cliques

Em um artigo para o Columbia Journalism Review, a jornalista Kira Goldenberg criticou o excesso de manchetes enganosas que levam os leitores a clicar num artigo devido ao título chamativo – e muitas vezes a se deparar com um conteúdo bem diferente do que a manchete propunha.

Segundo Kira, embora referências de mídias sociais continuem a ser o controlador de tráfego mais importante do conteúdo online, a palavra de ordem para o futuro é “compromisso”. No conceito apresentado por ela, quando os sites falam em “compromisso”, normalmente isto tende a significar a quantidade de leitores que gastam seu tempo interagindo com o conteúdo apresentado. No entanto, ela diz, ultimamente o conteúdo pouco tem importado. Ela alega que, na competição para atrair o tráfego de redes sociais como Facebook e Twitter, o conteúdo do texto sob o título acaba virando a coisa menos importante.

O fato é que apenas uma pequena percentagem de pessoas de fato lê o texto que está compartilhando nas redes sociais. E o que interessa aí é a quantidade de “compartilhamentos”, afinal mais gente vai ver o conteúdo – e Kira até admite que isso é tão valioso para um site quanto a interação sincera e cuidadosa para com seu trabalho.

No entanto, ela expõe sua irritação com o excesso de manchetes causadoras de controvérsias (como “Mulheres solteiras deveriam ter permissão para votar?”), e diz que estas existem apenas para gerar cliques. São manchetes irritantes o suficiente para que as pessoas as compartilhem (às vezes acompanhadas de comentários furiosos). No fim das contas, se o conteúdo dos textos reflete ou não a manchete, isto acaba por se revelar irrelevante.

Kira diz que esse tipo de manchete tem como objetivo propor “uma ideia que parece errada ou absurda proposta como se fosse a lógica mais coerente de todos os tempos”. Assim, ao fim, os leitores clicam ali apenas porque querem saber o que o autor diria para apoiar sua lógica. Esse tipo de chamada também depende da incredulidade do leitor, no melhor estilo “Eu li isso mesmo?”, só que acaba por provocar reações raivosas em vez de incitar interesse nas argumentações apresentadas.

Kira escreve que estimular uma reação do público não é novidade; de fato, este é um dos pilares da indústria publicitária. A curiosidade também provoca isso, só que de uma forma benigna. A jornalista conclui que essa enganação deliberada, esta decisão muito calculada para ofender, irritar ou intimidar, pode até aumentar o alcance de um texto, mas também acaba desviando o foco e a discussão de seu verdadeiro conteúdo.