Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A eterna questão das fontes anônimas

Há duas semanas, Arthur S. Brisbane, ombudsman do New York Times, alertou sobre uma possível bolha de exploração de gás de xisto nos EUA. Em sua última coluna (31/7), ele analisa especificamente um artigo de capa sobre o tema, publicado no dia 27/7, com base em e-mails trocados entre 2009 e 2011 com a Administração de Informação de Energia (EIA, sigla em inglês), contendo alguns conteúdos modificados para proteger a fonte. Nestas mensagens, foi revelado que membros da agência duvidavam das altas expectativas de exploração do gás de xisto levantadas pela unidade do Departamento de Energia.

As questões levantadas pelos e-mails deixaram uma nuvem de dúvidas sobre a EIA. O atual administrador do órgão, Howard K. Gruenspecht, chamado para depor no comitê de Recursos Naturais e Energia do Senado, disse que os e-mails foram, “em sua maioria, para e de uma pessoa contratada pela EIA em 2009 como estagiário e que foi galgando posições no órgão”. “Os e-mails, do modo como foram redigidos pelo NYTimes, forneceram informações imprecisas no seu contexto”, disparou.

Joseph Burgess, assistente de Brisbane, obteve cópias dos e-mails com seu conteúdo completo e comparou com as versões alteradas – chegando à conclusão que os problemas eram clássicos dos associados com fontes anônimas. No artigo, os leitores não foram informados do cargo atual ou da identidade dos destinatários dos e-mails. Sem uma ampla descrição das fontes, eles nunca poderiam julgar por si próprios os méritos do que foi revelado. O estagiário em questão era C. Hobson Bryan que, em 2001, tornou-se engenheiro geral do órgão.

De estagiário a “funcionário oficial”

O repórter que escreveu o artigo, Ian Urbina, e seus editores – o editor nacional Richard L. Berke e seu subeditor, Adam Bryant — disseram que a maioria das citações publicadas veio de diferentes oficiais do órgão. “Nosso objetivo é publicar a maior quantidade possível de informações, redigidas ou não, e temos a intenção de manter este objetivo”, explicou Bryant. Os jornalistas também notaram que, das 25 páginas de e-mails postadas online, apenas 11 eram do período em que Bryan era estagiário.

Na semana passada, depois da publicação da matéria, o jornal decidiu publicar os e-mails sem as alterações, pois o EIA optou por deixá-los sob domínio público. Quando publica material anônimo, o jornal pede que o leitor confie nele. Mas, se esta confiança é quebrada – com o fato, por exemplo, de se descobrir que um funcionário oficial era na verdade um estagiário, a confiança não será a mesma na próxima vez, alerta o ombudsman.