Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Argumentos finais da acusação concluem que soldado é ‘traidor’

 

O destino do soldado Bradley Manning, fonte da massiva quantidade de informações confidenciais entregues ao WikiLeaks, está prestes a ser definido. Nesta semana, a acusação forneceu suas conclusões finais, alegando que ele foi um traidor que usou seu treinamento e suas habilidades para prejudicar deliberada e sistematicamente os EUA e para fornecer assistência ao al-Qaeda.

O major Ashden Fein, promotor principal do caso, revelou as acusações finais no Forte Meade, em Maryland, onde o julgamento está na sua oitava semana. Depois de quase quatro horas diante do juiz, Fein forneceu argumentos para que fosse aceita a acusação mais séria e controversa contra Manning – a que ele “ajudou o inimigo” conscientemente, ao transmitir segredos de Estado ao WikiLeaks. “Ele não foi um humanista; ele foi um hacker que descreveu seus colegas soldados como 'lésbicas' ou 'idiotas globais'. Ele não era uma alma jovem perturbada; ele era um soldado determinado com habilidade, conhecimento e desejo de prejudicar os EUA. Ele não foi um denunciante, que vazou informações; ele foi um traidor”, argumentou.

Fein classificou Manning e Julian Assange, fundador do WikiLeaks, como “anarquistas da informação”. Enquanto a equipe de defesa do soldado buscou mostrá-lo como inocente e bem intencionado, o promotor afirmou que “ele agiu de modo calculado por proprósitos próprios – a única inocência que ele mostrou foi ter pensado que se livraria do que fez sem ser pego”.

Para a acusação, más intenções

Para essa acusação valer, o governo teve que provar que o soldado tinha má intenção ao revelar informações sabendo que elas seriam acessadas por grupos inimigos tais como al-Qaeda e al-Qaeda na Península Árabe (Aqap). Fein disse que Osama bin Laden tinha pedido pessoalmente e recebido documentos do WikiLeaks, incluindo arquivos sobre a gerra no Afeganistão e mensagens diplomáticas americanas. Manning ficou sabendo em seu treinamento quem “era o inimigo e que tipo de informação ele buscava, ele sabia que o inimigo usava a internet e que o WikiLeaks era útil para nossos inimigos”.

O promotor contou com o depoimento de mais de 80 testemunhas do Estado para tentar mostrar que o soldado sabia das consequências de suas ações. Fein mostrou apresentações vistas por Manning nas quais eram explicadas níveis de classificação das informações e sua responsabilidade pessoal em guardar os segredos.

Em uma tentativa anterior das testemunhas de defesa, a equipe de defesa do soldado tentou definir o WikiLeaks como uma empresa jornalística equivalente a veículos como New York Times ou Washington Post. No entanto, Fein citou chats online entre Manning e Assange, que permanecem secretos, alegando que em duas semanas após ter acesso a dados secretos no Iraque, o soldado começou ativamente a buscar por informações que o WikiLeaks queria revelar. Em uma das conversas, Manning escreveu que “organizações do governo não conseguem controlar informação, quanto mais tentam, mais violentamente a informação quer sair”.

Veredicto nos próximos dias

Manning enfrenta 21 acusações relacionadas à entrega, em 2009 e 2010, de mais de 70 mil documentos oficiais ao WikiLeaks, incluindo arquivos das guerras do Iraque e do Afeganistão, mensagens diplomáticas, arquivos de presos de Guantánamo e um vídeo de um ataque de um helicóptero Apache que matou civis em Bagdá. Ele pode ser condenado a sentença máxima de prisão perpétua militar mais 154 anos de prisão, além dos 20 anos de custódia por uma versão mais branda das acusações das quais já se declarou culpado.

Agora que a promotoria concluiu seus argumentos, o advogado principal de defesa de Manning, David Coombs, terá a chance de convencer a juíza Denise Lind. O governo americano pode então ter a oportunidade de refutar as alegações finais da defesa, antes de Denise se retirar para considerar seu veredicto, que pode sair em alguns dias.

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