Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

BuzzFeed investe em jornalismo investigativo

Durante a última campanha presidencial americana, quando o site BuzzFeed – conhecido por suas listas excêntricas repletas de humor e noção perfeita do que pode se tornar viral na internet – deu a notícia, na noite das prévias em Iowa, de que John McCain estava apoiando a pré-candidatura do republicano Mitt Romney, certamente foi uma surpresa para seus leitores fiéis.

Aquele furo deu início a uma nova fase: o BuzzFeed contratou Mark Schoofs – do altamente respeitado site investigativo ProPublica – para lançar sua própria divisão de jornalismo investigativo.

A decisão do BuzzFeed de fundir jornalismo sério a sua adesão entusiasmada à chacota virtual tem sido um desenvolvimento tanto improvável quanto bem-vindo. A evolução começou no final de 2011, quando o ex-político e blogueiro Ben Smith foi contratado e resolveu cobrir a eleição presidencial de 2012 a sério, inaugurando o novo formato com a já citada divulgação do apoio de McCain a Romney. Desde então, o BuzzFeed acrescentou a sua equipe correspondentes estrangeiros, e, a seu conteúdo, cobertura de temas financeiros e artigos longos ao estilo das revistas.

Mais contratações

Schoofs, que passou 11 anos no Wall Street Journal antes de ingressar no ProPublica, ainda está construindo sua lista de colaboradores. Ele está à procura de mais três repórteres investigativos e busca um “visionário de dados”.

No início da semana, foi anunciada a contratação de mais um profissional: Aram Roston, ganhador de alguns Emmys quando trabalhava para a NBC News. Roston, especialista em segurança nacional, também trabalhou para a CNN e para a ABC e é autor de um livro sobre a controversa figura política do iraquiano Ahmad Chalabi. Mais recentemente, ele trabalhou para o Vocativ, que se apresenta como uma rede social global de notícias.

O BuzzFeed também recrutou Ken Bensinger, que trabalhou no Los Angeles Times, e Alex Campbell, ex-The Indianapolis Star. (Bensinger, juntamente ao colega Ralph Vartabedian, foi responsável por liderar a cobertura do LA Times sobre os carros da Toyota que estavam acelerando sem comando do motorista e causando acidentes – alguns fatais –, o que levou ao recall de dez milhões de veículos).

Primavera Árabe e fotos de bebês

A incursão do BuzzFeed em jornalismo responsável é particularmente encorajadora num momento em que tantas agências tradicionais de notícias têm reduzido suas diligências profundamente valiosas, porém caras.

Schoofs, que mal consegue conter seu entusiasmo quando fala sobre seus novos repórteres, diz que, em certo sentido, o papel da unidade será “completamente clássico”. Isso significa perseguir “histórias que precisam ser contadas. [Sobre] Traição da confiança. Abuso de poder. Ir atrás de transgressão e condutas ilegais do governo e das grandes empresas”.

O criador do BuzzFeed, Jonah Peretti, não vê o novo formato como repelente dos antigos leitores, que costumam ir ao site em busca de humor. “As pessoas estão acostumadas a ter tudo misturado em um feed de notícias do Facebook”, diz ele. “Uma história sobre a Primavera Árabe estará ao lado de uma foto de bebê de sua irmã. Por que não ter um site de publicação que abraça estes universos antagônicos?”. Schoof complementa: “Nosso negócio está crescendo e se reinventando. Vamos continuar a fazer coisas que surpreendem as pessoas”.

BuzzFeed no Brasil

No segundo semestre do ano passado, Ben Smith, editor-chefe do BuzzFeed, anunciou em seu Twitter a contratação da jornalista e estrategista de mídias sociais Conz Preti – que tem em seu currículo passagens pelo Mashable e pelo MySpace – para cuidar do conteúdo da versão brasileira do site. No entanto, ao passo que o site americano já apresenta notícias sérias em sua home, a página brasileira não aderiu ao novo formato e pelo menos por enquanto reúne apenas o humor tão marcante na história do BuzzFeed.