Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Estudo mapeia hábitos de consumo de mídia

SPACCA banca celularAs organizações jornalísticas terão que ser “mais inventivas do que nunca com estratégias digitais se quiserem sobreviver”. O alerta é do estudo anual do Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade Oxford, que mapeia os hábitos e comportamentos de consumo de mídia em diferentes lugares do mundo. São mais de cem páginas com dados sobre como as pessoas acessam as notícias e como pagam – ou não – por elas.

Para a pesquisa, feita em parceria com o Tow Center for Digital Journalism, de Columbia, foram entrevistadas mais de 20 mil pessoas em 12 países – Brasil, EUA, Reino Unido, Irlanda, Alemanha, França, Itália, Espanha, Dinamarca, Finlândia, Japão e Austrália.

Em resumo, constatou-se um aumento no uso de mídias sociais e plataformas móveis, foi reconhecida a crescente importância do Facebook como fonte de notícias, e descobriu-se – sem surpresa – que o público não está nada satisfeito com a publicidade online.

“Entre os pontos positivos do relatório está o fato de que as pessoas estão consumindo bastante as notícias. Mas as notícias não estão vindo dos lugares usuais, e a grande maioria do público não paga por elas – e diz que provavelmente nunca irá pagar. Isso é ótimo se você está interessado em disseminar as notícias e o jornalismo, mas provavelmente não tão bom se você é um veículo de mídia tentando construir um modelo de negócios sustentável”, avalia o jornalista Mathew Ingram em artigo na Fortune.

Facebook no celular

No total dos países pesquisados, 46% dos entrevistados acessam notícias semanalmente através de smartphones, em comparação a 37% no ano passado. Já o uso de tablets, curiosamente, está em declínio. A maioria das pessoas que acessam as notícias pelo celular o faz pelo browser de internet, e não por meio de aplicativos – apesar de 70% delas terem pelo menos um aplicativo de notícias instalado no telefone.

like facebookEntre as mídias sociais, o Facebook aparece em primeiro lugar como fonte de notícias – o Brasil teve um dos maiores índices de crescimento no uso do site com este fim. Acessa-se cada vez mais a rede para se compartilhar e comentar notícias. Entre os entrevistados, 40% disseram ter usado o Facebook para acessar notícias na semana anterior. O YouTube ficou em segundo lugar e, em terceiro, aparece o Twitter.

O estudo aponta, no entanto, que o comportamento dos consumidores nas redes sociais segue padrões diferentes. As pessoas não entram no Facebook diretamente atrás das notícias, como o fazem no Twitter. “Nós procuramos as notícias no Twitter, mas esbarramos nelas no Facebook”, diz o relatório. O grande número de pessoas que acabam “esbarrando” em notícias no Facebook reforça, desta forma, a importância da filtragem de algoritmos e seu impacto sobre o que chega até os usuários.

Não está fácil pra ninguém

A televisão ainda aparece, em alguns países, como fonte principal de notícias, junto com as plataformas online. Questionados sobre quais meios haviam usado na semana anterior como fonte de notícias, os entrevistados responderam, em sua maioria, TV e mídia online (incluindo redes sociais), seguidos por rádio e mídia impressa. Na França, no Reino Unido e no Japão, a TV ultrapassa o consumo de mídia online; o oposto ocorre em países como os EUA (onde 64% haviam usado a TV como fonte de notícias, 74% a mídia online, 26% rádio e 23% jornais), Espanha (82% TV, 86% online, 40% rádio e 47% jornais) e Brasil (81% TV, 91% online, 39% rádio e 33% jornais).

No consumo de notícias online, a proporção da busca por marcas tradicionais do jornalismo vs. empresas nascidas no meio digital, como Huffington Post e BuzzFeed, varia de acordo com o país. No Reino Unido e na Alemanha, por exemplo, é maior o número de pessoas que dizem acessar as notícias por empresas tradicionais; já nos EUA e na Austrália, a maioria dos entrevistados afirmou que acessa mais fontes originalmente digitais.

A notícia ruim é que, independente do tipo de empresa, o público não está lá muito disposto a pagar por conteúdo online. O número de pessoas dispostas a pagar uma assinatura não vem aumentando. Nos EUA, 67% dizem que nunca pagariam por notícias, independentemente do preço; no Reino Unido, este número chega a 75%.

Para piorar, não dá nem para contar com a publicidade: é cada vez maior o número de pessoas que usam softwares para bloquear anúncios – no Reino Unido, chega a 39%; nos EUA, a 47%. Por outro lado, mais de um terço dos entrevistados afirmaram que já se sentiram enganados ou desapontados com alguma peça de publicidade nativa ou conteúdo patrocinado.

“Os leitores deploram os anúncios online, particularmente aqueles personalizados que os seguem de site em site. Eles ainda não querem pagar pelas notícias. Eles não acham que os tablets são bons para ler as notícias. E a homepage está sumindo rapidamente, usurpada pelo Facebook. A grande surpresa: o uso de aplicativos para bloquear anúncios virou mainstream”, enumera o jornalista Michael Rosenwald em artigo na Columbia Journalism Review. “Postas juntas, estas regras duras representam ameaças econômicas não apenas para marcas de notícias tradicionais, mas até para aquelas que se apoiam primordialmente nas notícias digitais, como Huffington Post e BuzzFeed”.

Notas sobre o Brasil: demissões e ZapZap

O estudo do Reuters Institute apresenta o Brasil como o maior mercado de mídia da América do Sul e afirma que os brasileiros estão entre os maiores consumidores de blogs e redes sociais do mundo. Cita ainda o declínio da economia brasileira para notar os recorrentes cortes e demissões na mídia tradicional. “O debate é o mesmo de Nova York ou Madri: como compensar pela queda na receita publicitária”, afirma o relatório, ressaltando que, entre os maiores jornais do país, a Folha de S. Paulo vem fazendo experiências com vídeo, enquanto o Estado de S. Paulo testa novos modelos de negócios, entre eles o de conteúdo patrocinado.

whatsappO uso de tablets por aqui parece ter estacionado, como em outras partes do mundo: os aparelhos estão sendo substituídos por celulares mais baratos com telas grandes. O estudo aponta que “2014 foi o ano do WhatsApp – ou ZapZap, como é conhecido no Brasil”. Veículos de mídia têm encorajado o uso do aplicativo para construir redes colaborativas de compartilhamento de informações.