Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Futurologia pode influenciar eleitores

Em artigo para o Los Angeles Times [2/2/04], David Shaw critica a imprensa por, mais uma vez, estar fazendo previsões sobre as eleições. No afã de oferecer uma ‘análise’ da corrida presidencial, emite-se uma opinião, aparentemente sem fundamento, sobre quem será o oponente democrata de George W. Bush. ‘Jornalistas não são – ou, ao menos, não deveriam ser – astrólogos. Quando os jornalistas políticos prevêem o futuro, suas previsões muitas vezes parecem eclipsar – e, às vezes, servir de substituto para – a apuração que deveriam estar fazendo’, escreve Shaw.

Suas críticas têm relação com a péssima repercussão dada pela mídia ao grito que o pré-candidato Howard Dean deu em comício no estado de Iowa, após ficar num decepcionante terceiro lugar na primeira votação prévia do Partido Democrata. Para o colunista, ao contrário do que se tem comentado – de que o berro foi uma expressão de desespero por iminente derrota -, Dean apenas estava tentando animar seus partidários. A cobertura teria sido mais histérica que o fato, com repetições incessantes na TV e comentários exagerados nos jornais. O problema todo reside no fato de que a mídia está dizendo que os eleitores teriam ficado com péssima impressão da atitude de Dean, praticamente liquidado na corrida presidencial, sendo que essa impressão teria sido criada pela própria imprensa.

Mas esse tipo de situação não é novidade. Segundo Thomas Patterson, da Escola de Governo John F. Kennedy da Universidade Harvard, em 1976, a mídia passou a percepção de que Jimmy Carter tinha amplo apoio da população porque, após o escândalo de Watergate, envolvendo o republicano Richard Nixon, os eleitores estariam buscando alguém mais confiável. Mas estudos mostraram, posteriormente, que essa imagem de Carter, de alguém em quem as pessoas acreditavam que podiam confiar, foi uma idéia, em grande medida, inventada pelos meios de comunicação.