Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Governo esconde detalhes de desastre ecológico

A mídia chinesa demorou a cobrir as conseqüências da explosão de uma indústria química em 13/11 em Jilin, cidade localizada ao noroeste do país, próxima ao rio Songhua. A explosão, que matou cinco funcionários, foi noticiada. A contaminação que ela causou ao rio, entretanto, foi mantida sob sigilo, como informa Richard McGregor [Financial Times, 26/11/05].

Um dia após a explosão, o governo de Jilin afirmou que o meio ambiente nos arredores da indústria não havia sido contaminado, enquanto tentava, ao mesmo tempo, resolver discretamente o assunto, ao liberar água de um reservatório próximo ao rio para diluir os efeitos de um possível derramamento de produtos tóxicos.

O governo só anunciou que o rio Songhua – principal fonte de água da área metropolitana de Harbin, cidade de nove milhões de habitantes perto de Jilin – havia sido poluído uma semana após a explosão. O atraso no anúncio foi justificado por Zhang Lijun, vice-diretor da Agência Estatal de Proteção do Meio Ambiente. ‘Há muitas maneiras de se divulgar as informações. Tornar público [pela imprensa] é uma delas e informar os governos locais e empresas ao longo dos lugares que foram contaminados é outra’, afirmou.

A explicação não convenceu. ‘Eles realmente não tinham conhecimento [da séria contaminação] ou eles deliberadamente ocultaram isto?’, questionou o jornal China Youth Daily. Desde que foi revelado que o rio havia sido poluído, a mídia local vem cobrindo abertamente as conseqüências da explosão e acusando os governos da província e da cidade por terem omitido a informação do público. A tentativa de mascarar as informações é tão grande que quando foi anunciado, em 22/11, que a água de Harbin tinha de ser fechada por quatro dias, o governo alegou que era para manutenção – e admitiu horas depois que a real razão era a contaminação do rio.

A mídia local, que até setembro era proibida de cobrir mortes em desastres naturais sem a permissão expressa do governo, foi extremamente crítica à questão. ‘Se líderes individuais mentem de forma irresponsável, isto é um crime terrível contra a sociedade, porque um rumor pode provocar um desastre social’, afirmou o China Economic Times. Os jornais em Pequim e Xangai foram os mais críticos, já que gozam de maior liberdade do que a mídia em Harbin, controlada diretamente pelas autoridades de propaganda da cidade.

Alarme falso

No meio da crise de Sars em 2003, a China parecia ter entrado em uma nova era de transparência, com o prefeito de Pequim e o ministro da Saúde demitidos por não divulgar bem as informações. No entanto, depois que a crise passou, o governo em Guangdong, ao sul da China, demitiu ou rebaixou editores de jornais que haviam publicado matérias expondo a epidemia na primeira página. Pouco tempo depois, jornalistas e editores foram presos por supostamente desviar dinheiro dos jornais – acusação que, alegam, foi feita por vingança.

Já com a crise em Harbin, os jornalistas ainda desfrutam de algum grau de proteção, em parte porque não é possível se ignorar um desastre que envolve o derramamento de 100 toneladas de benzeno em um dos principais rios do país. O acidente ocorreu em uma fábrica de propriedade e administração da estatal PetroChina, maior empresa de energia chinesa. A PetroChina só assumiu a responsabilidade da poluição do rio dez dias após a explosão.

Recentemente, o primeiro-ministro Wen Jiabao pediu aos governos locais que coloquem questões ligadas ao meio ambiente acima das de crescimento econômico. A preocupação governamental sobre o tema faz com que a cobertura do incidente seja mais tolerada pelas autoridades locais.