Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Jornalistas protestam contra censura com greve de fome

Três jornais do Sudão organizaram manifestações esta semana para protestar contra a censura no país. Mais de 150 jornalistas e assistentes de mídia participaram de uma greve de fome de 24 horas, na terça-feira (4/11), e os três diários de oposição ficaram fechados por três dias; em apoio ao movimento, articulistas de outras publicações suspenderam suas colunas. ‘Somos censurados todos os dias’, afirma Saleh Ahmed Mohammed Elhag, chefe de redação do Ajras al-Huriya – que organizou o protesto junto com o Rai al-Shaab, ligado ao partido de oposição Congresso Nacional Popular, e o Al Midan, próximo dos Comunistas do Sudão.


A liberdade de imprensa foi garantida no Sudão por meio de um acordo de paz, em 2005, que encerrou mais de duas décadas de guerra civil entre o norte e o sul do país. Jornalistas reclamam, entretanto, de visitas noturnas de agentes de segurança às redações para checar cópias das edições do dia seguinte e remover artigos com temas sensíveis ao governo. Segundo organizações em defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa, a atual onde de repressão teve início em fevereiro, depois que alguns jornais publicaram relatórios acusando o governo de apoiar rebeldes chadianos em uma tentativa fracassada de golpe. O governo nega a acusação.


Elhag conta que já recebeu tantas ordens para remover artigos que chegou a ser obrigado a cancelar edições inteiras, mais de 20 vezes, desde o lançamento do Ajras al-Huriya, em abril. O jornal é fortemente ligado ao Movimento para a Libertação do Povo do Sudão (SPLM), principal partido político do sul e membro do governo de coalizão estabelecido após o acordo de paz.


O governo semi-autônomo do sul do Sudão, administrado pelo SPLM, também é acusado de censurar a mídia. Um editor ficou detido por três dias, no mês passado, depois de publicar artigos criticando os altos salários de funcionários governamentais. O político Edward Lino, do SPLM, participou da manifestação e contou que o partido ordenou que uma entrevista com ele fosse removida do Ajras al-Huriya. ‘A censura vai afetar o modo como as pessoas vão fazer campanha nas eleições [prometidas para 2009 pelo acordo de paz]. Irá afetar o modo como as pessoas vão mostrar o que está acontecendo e irá afetar também os resultados’, acredita Lino. Informações de Andrew Heavens [Reuters, 4/11/08].