Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Murdoch desiste da BSkyB; FBI abre inquérito nos EUA

Rupert Murdoch retirou, na quarta-feira [13/7], sua oferta de US$ 12 bilhões pela compra da operadora de TV por satélite British Sky Broadcasting (BSkyB), diante das críticas crescentes por conta do escândalo dos grampos telefônicos do News of the World. Membros dos três principais partidos do Parlamento britânico – o de oposição, trabalhista; o conservador, de situação; e o democrata liberal – juntaram-se em campanha contra a compra da maior operadora do país, da qual a News Corp, companhia do empresário australiano, já detém 39%.

A revelação de que o tabloide dominical teria grampeado as caixas de mensagens dos telefones celulares de mais de quatro mil pessoas – entre celebridades, políticos, membros da família real e parentes de vítimas dos ataques terroristas em Londres em 2005 e de soldados mortos no Afeganistão e Iraque – prejudicou duramente a imagem da News Corp. Na semana passada, quando se descobriu que o jornal teria invadido e manipulado mensagens deixadas na caixa postal de uma adolescente assassinada em 2002, a ação tomada para conter os danos foi rápida: o News of the World teve sua última edição publicada no domingo [10/7], depois de 168 anos de história. Críticos viram a medida como uma tentativa de evitar que a compra da BSkyB fosse pelos ares. Mas a pressão foi grande demais, até para Murdoch – tido como grande influenciador de políticos e afins.

Regulação em debate

O caso fez com que fosse dado início a um pertinente debate sobre a eficácia do órgão independente e auto-regulatório da imprensa britânica. O primeiro-ministro, David Cameron (que também se tornou alvo de críticas durante a semana), concordou que do jeito que está não dá para continuar e sugeriu a criação de um novo sistema de regulação. Cameron defendeu também a abertura de um inquérito independente que, se der certo, promete mudar para sempre as relações questionáveis entre políticos e empresários de imprensa.

Ed Miliband, líder do Partido Trabalhista, e Nick Clegg, vice-primeiro-ministro, também argumentaram a favor de uma ampla avaliação sobre os padrões éticos dos veículos jornalísticos do país. Clegg argumenta que não é mais aceitável, por exemplo, que um político do alto escalão – incluindo o primeiro-ministro – tenha conversas com um proprietário de organizações de mídia e mantenha em segredo o que foi dito na reunião, alegando se tratar de um encontro particular.

Segundo as propostas dos políticos, a primeira investigação examinará o caso específico dos grampos, incluindo a relação entre a mídia e a polícia – entre as descobertas sobre as práticas do News of the World está o pagamento de propina a policiais em troca de informações. Já a segunda investigação avaliará as lições a serem aprendidas com o escândalo. Miliband pediu a Cameron que mantenha o princípio da auto-regulamentação da imprensa, mas torne-o mais duro. “Nós não queremos ir pelo caminho da regulamentação estatutária”, afirmou um membro do partido trabalhista. “Não queremos declarar guerra aos jornalistas”.

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Murdoch e seu filho James, presidente da News International, que inicialmente afirmaram que não iriam responder perguntas do comitê de mídia do parlamento, voltaram atrás na decisão depois que David Cameron argumentou que os dois deveriam comparecer. Rebekah Brooks, executiva-chefe da News International e ex-editora do News of the World, já havia concordado em passar pela sessão de perguntas no parlamento. Rebekah editava o tabloide quando o telefone da menina Milly Dowler, desaparecida em 2002, foi grampeado e teve mensagens apagadas, dando falsas esperanças à família de que a adolescente estava viva e atrapalhando a investigação policial.

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Logo após o fechamento do News of the World, o ex-premiê Gordon Brown lançou um ataque à News International, braço britânico da News Corp, acusando a organização de usar “relações com o mundo criminoso” para obter informações de indivíduos. Brown alega que o Sunday Times, também do grupo, fez uso de “táticas repulsivas” para ter acesso a seu banco pessoal e documentos legais quando era ministro da Fazenda. O político lembrou também da vez em que o tabloide The Sun, de Murdoch, revelou que seu filho, com então quatro meses de idade, tinha fibrose cística. Ele afirma não saber como o jornal pode ter descoberto isso por meios legítimos – o Sun alegou que obteve a informação por meio de um cidadão comum cuja família passou por experiência semelhante e foi ao jornal a fim de chamar atenção para o tema.

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Na quinta-feira [14/7], um primo do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela polícia londrina por engano em 2005, após os atentados ao sistema de transportes da cidade, afirmou à Folha de S. Paulo que pretende processar a News Corp depois que descobriu que seu telefone foi grampeado.

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Também na quinta-feira, o FBI abriu uma investigação para determinar se funcionários da News Corp teriam tentado invadir chamadas e registros telefônicos de vítimas e parentes de vítimas dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

O inquérito foi aberto a partir de pedido do deputado republicano Peter King, que lidera o Comitê de Segurança Nacional da Câmara, e tentará descobrir, além da existência de grampos, se houve tentativa de suborno de policiais para se obter dados sobre as vítimas e seus familiares.

No início da semana, o jornal britânico Daily Mail reportou que repórteres do News of the World teriam tentado hackear mensagens de voz de vítimas do 11 de setembro. O jornal citou um policial de Nova York, não identificado, que afirmou que jornalistas do tabloide ofereceram dinheiro a ele.

 

Com informações do Financial Times, Washington Post, Reuters, New York Times e Wall Street Journal [13 e 14/7/11]. Edição e tradução: Leticia Nunes e Larriza Thurler

 

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