Sábado, 19 de abril de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 2025 - nº 1334

Fórum Internacional do Meio Ambiente coloca o bioma Pampa no centro dos debates

(Fernando Frazão/Agência Brasil)

A 13ª edição do congresso contou com dois dias de discussões intensas sobre a preservação da vegetação nativa, evento repercutiu de forma diversa na imprensa

O bioma Pampa foi o centro dos debates ocorridos nos dias 26 e 27 de março durante o 13º Fórum Internacional do Meio Ambiente, promovido pela Associação Riograndense de Imprensa no auditório do Memorial da Assembleia Legislativa do Estado. Durante dois dias, os participantes puderam assistir palestras abordando temas cruciais para a proteção do Pampa, que ocupa 69% do território gaúcho e é compartilhado com o Uruguai e parte da Argentina.

Os painéis contemplaram os impactos das mudanças climáticas e projetos e práticas agropecuárias agressivas ao bioma, a regularização ambiental nos próximos anos, o potencial da pecuária para preservação e recuperação ambiental, geração de renda e produção de alimentos, o Pampa nos meios de comunicação e o potencial turístico e comercial do bioma. O evento teve a participação especial do cineasta Rogério Atama Rodrigues, diretor do filme Sobreviventes do Pampa (2025), que comentou a obra lançada em Porto Alegre. O longa mostra a relação de pessoas quilombolas, agricultores familiares e assentados da reforma agrária com a região.

Pesquisadores, ambientalistas e jornalistas participaram e debateram os temas apresentados. Eles evidenciaram que, mesmo com sua beleza paisagística, riqueza cultural, sociobiodiversidade e potencial para a pecuária orgânica, o Pampa é um bioma ameaçado pelo avanço das monoculturas da soja e da silvicultura. As plantações de videiras e oliveiras foram apresentadas pelos palestrantes do evento como alternativa econômica para a região, desde que não sejam transformadas em monoculturas.

No entanto, a ameaça do avanço da soja e do eucalipto traz consigo o uso dos agrotóxicos, como o 2,4 D, que prejudica as oliveiras e videiras com grandes quebras na produção, gerando um movimento para proibir o uso desse veneno na agricultura. Este agrotóxico também provoca graves doenças nos animais e seres humanos, sendo uma das causas de cânceres, conforme dados apresentados pelo Instituto Nacional do Câncer. A pecuária tradicional foi apresentada como importante prática para a  conservação das áreas campestres e destacada pela profunda relação com a cultura gaúcha e com o próprio artesanato de lã.

O fórum teve repercussão na imprensa em jornais como Correio do Povo, Jornal do Comércio, Brasil de Fato, Sul21, além de televisões e rádios. Os veículos destacaram tanto a necessidade de preservação do Pampa pela sua importância econômica como pela riqueza ambiental. O Correio do Povo, em 29/03 destacou o potencial econômico do bioma Pampa por meio do turismo, agricultura e pecuária com a manchete: “Fima debate potencial econômico”. O Jornal do Comércio de 28/03 também citou o potencial econômico do bioma, com a manchete de “Especialistas apontam potencial turístico do Pampa durante fórum em Porto Alegre”. Nesta reportagem, foi abordado o  uso indevido do agrotóxico 2,4 D, já que pode diminuir a potência econômica do local.

Por sua vez  o Brasil de Fato, em 28/03, realçou a carta compromisso assinada em defesa do bioma.  O Sul21, em 27/03, destacou as mudanças climáticas como fatores de impacto da agricultura nas próximas décadas. Na Zero Hora, o presidente da Associação Rio Grandense de Imprensa, José Nunes, em 28/03, apelou para  a população gaúcha agir em defesa do bioma Pampa. O Fórum também foi mencionado na coluna da Juliana Bublitz, em 26/03.

A divulgação do Pampa pela imprensa deveria ser constante em virtude das ameaças que sofre permanentemente e não ficar na dependência de eventos. No texto “As respostas do Pampa para as mudanças climáticas” as colegas Eliege Fante e Carine Massierer já discorreram sobre a relevância do bioma, enfatizando que mesmo esquecido pelas políticas públicas e pela imprensa, ele possui uma pecuária familiar tradicional em campo nativo que é sustentável ambiental e economicamente.

É necessário, assim, ressaltar que o Pampa tem uma biodiversidade que compreende cerca de 480 espécies de aves, quase cem espécies de mamíferos, 66 espécies de anfíbios e 97 répteis. Além disso, os povos e comunidades tradicionais do Pampa como indígenas, quilombolas, pecuaristas familiares, entre outros, que conferem outro olhar para a região, precisam ser conhecidos e valorizados.

Ao concluir este texto e reconhecer a importância do 13º FIMA para chamar atenção para o Pampa, nos perguntamos: quando os problemas que afetam a existência do bioma serão resolvidos?

Publicado originalmente em Observatório de Jornalismo Ambiental.

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Isabelle Rieger é estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS). E-mail: belle.rieger@gmail.com

Ilza Maria Tourinho Girardi é jornalista, professora titular aposentada/UFRGS, professora convidada no PPGCOM/UFRGS e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental CNPq/UFRGS e coordenadora do Observatório do Jornalismo Ambiental/Fabico/UFRGS. E-mail: ilza.girardi@gmail.com