Sunday, 06 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

A figurinha carimbada

MÍDIA ESPORTIVA

Raphael Perret Leal (*)

Na Copa de 1994, a imprensa, de modo geral, esforçou-se ao máximo em transformar Romário no único herói do tetracampeonato conquistado pela seleção de futebol. O objetivo ficou claro quando, em 5 de julho, O Globo dava como manchete que Romário salvara o Brasil após a apertadíssima vitória sobre os EUA, por 1 a 0. Abaixo do título, uma foto do autor do gol, que praticamente não mereceu nenhuma glória pelo feito: Bebeto.

Em 2000, Romário foi apresentado novamente como solução para as más atuações da Seleção nas Eliminatórias. Fez alguns gols contra Bolívia e Venezuela, e hoje já não é mais unanimidade, nem entre a torcida nem na própria imprensa. O mesmo produto (a celebridade, não o jogador) que a mídia criou já ganha ares de atleta desgastado, infrutífero, sem valor.

Isso, porém, não justifica as falhas cometidas pelos dois principais jornais do Rio de Janeiro, nas suas edições de sábado [14/7/2001]. Não passa pela minha cabeça dizer que ambos erraram de propósito, mas certamente cometeram duas injustas impropriedades.

O Jornal do Brasil, por exemplo, confirmou declaração do presidente do Flamengo, Edmundo Santos Silva, de que fez bem em vender Romário em dezembro de 1999: enquanto o jogador esteve no clube, informou, o time conquistou dois títulos estaduais. "Sem Romário, o Flamengo conquistou a Copa Mercosul, em 1999, os estaduais de 2000 e 2001 e, por fim, a Copa dos Campeões."

Realmente, Romário não participou das finais da Copa Mercosul de 1999. Entretanto, foi um dos responsáveis pela conquista. Afinal, o polêmico atleta não só foi o artilheiro da competição, com nove gols, como participou de sete dos 12 jogos da vitoriosa campanha, e só não esteve presente em outro por suspensão.

Primeiro os fatos

Já o Globo fazia estardalhaço sobre os últimos e vexatórios jogos da Seleção Brasileira. O jornal lembra que são quatro derrotas seguidas, a pior campanha do Brasil em 80 anos. O diário, então, resolveu apresentar o nome do presidente da CBF, dos técnicos e dos jogadores responsáveis pela decepcionante façanha.

Curiosamente, o nome de Romário não apareceu na lista. Vá lá, ninguém lembra mesmo que ele entrou em campo na derrota por 1 a 0 para o Uruguai, em Montevidéu. Mas Rivaldo e Roberto Carlos também aparecem na lista, embora, como Romário, só tenham jogado contra o Uruguai. Pareceu proteção. Ou seria uma anistia pelo tetracampeonato? Tolice: Cafu estava tanto na lista quanto na seleção da Copa de 1994.

Que Romário é polêmico, ninguém duvida. Que está em decadência, pode ser discutível. O que não deve gerar nem discussão é o papel da imprensa: envolvendo uma celebridade, produto da mídia, decadente ou não, herói, culpado ou vítima, não importa. Os fatos existem e são imutáveis.

(*) Jornalista e analista de sistemas

    
    
              

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