Sunday, 05 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

A tucana folha antipetista

MÍDIA & GOVERNO

Silas Corrêa Leite (*)


"… Que nada nos limite/ Que nada nos impeça/ Que nada nos sujeite/ Que a liberdade seja/ A nossa própria substância" (Simone de Beauvoir)


Enquanto FHNistão, o "Pai da Fome", numa boa dilapidava o patrimônio público brasileiro, suspeitamente emprestava a fundo perdido uma altíssima verba a falido banco privado do qual um parente seu era diretor, enquanto a verdadeira realidade financeira que camuflava a inflação enrustida era uma, e a realidade (dívida social impagável e aumentada) era outra, a gloriosa Folha de S.Paulo levava o tucano aos céus, cerceava a crítica ao presidente em seu Painel do Leitor ? só valia cartinhas com ataques ao PT ?, até que, finalmente, houve a bancarrota do Serra.

Mas a Folha, claro, envolvida no arresto da opinião pública, desconversou como se estivesse saradinha, fez que não era com ela o "jornalismo" chapa-branca, não cobrou de seu ocasional amiguinho os podres poderes em favor de antros de escorpiões e, quando um leitor mais politizado, culto ou com poder de verbo escrevia ao jornal cobrando, sua carta era dada como injuriosa ou censurada, jamais saía publicada, e, por incrível que possa parecer, só saíam tardios e bobos elogios a FHC como se ele fosse o Deus de barro da FSP, que não podia ser atingido, não devia ser cobrado, até porque, diga-se de passagem, o Pai da Fome ? com medo de acontecer com ele o que aconteceu com Menem na Argentina ? engessou o Tribunal Superior e soltou o estopim da bomba social e financeira pro Lula.

Curto e grosso: FHC estranhamente não fez as reformas em oito anos com todo o aparato até imoral que teve, e agora o tucanato, com pose de moralista (os derrotados das urnas) cobra o que não sabe, como se não soubesse do que está falando, mas tem, estranhamente, ótimo espaço ainda na mídia, principalmente nos canais públicos em poder do PSDB (vide TV Cultura) e, claro, na Folha também. Pois o jornalão deveria se chamar a Folha do PSDB. Ou a Folha do FHNistão. Perdão, José Simão.

Medo de quê?

Eleito o Lula Light, a Folha revelou o que é, com um e outro ombudsman e tudo: tucana. Se Lula ou trupe erra acidentalmente, manejo ou percurso, técnico-funcional ou jurídico, a FSP de presto e incontinenti deita falatório, seus colunistas e articulistas vão na onda, com a cara, a coragem e o respaldo rococó suspeito (e amoral) de meio. Se Lula acerta, ou não dão nada ou fazem ironia, piadas marotas (cadê o bendito manual da casa?), ou suspeitamente ouvem a opinião (sic) de um oportuno derrotado do tucanato (Zé Aníbal, por exemplo), que aproveita para dizer que o que de bom está sendo feito é, acreditem, "idéia" deles que lá estiveram oito anos.

A Folha tucanou e perdeu as estribeiras. Ética jornalística? Isso é outra coisa. Manual? Para que serve mesmo? Se seguirem direitinho o modus operandi da casa, Lula e o PT serão o alvo da vez, fazendo cabeças, jogando contra, apostando no fracasso, talvez já pensando na volta (vade retro!) de FHC e seus neoliberais de ocasião, panelas por atacado. Moralidade pública? Isso é apenas gancho para atacar o PT. Coisa que a FSP não fez com o tucanato em geral. A Folha sempre foi antipetista por natureza, não sabe perder, não sacou o novo tempo, esqueceu conceitos básicos de imprensa séria e transparente, e agora quer fazer uma oposição de araque, mesmo que jogando sujo.

O presidente do PT ganhador não tem um tico de espaço na Folha. É como se não existisse. No entanto, o loquaz e inconseqüente Zé Aníbal está em toda edição, aqui e ali, valorando o inócuo, apostando todas as fichas nos erros do PT, fazendo vistas grossas para o resultado das urnas (o povo quer mudanças até além do que o próprio Lula começou), e ainda atacando os vários gomos do PT, o que torna o partido realmente cheio de fermento para mudanças, reclamos, questionamentos e posturas internas divergentes mas hábeis, necessárias e transparentes. Zé Aníbal tem moral para falar mal do PT? Foi repudiado nas urnas pelo povo paulistano, tomou um baita vareio. Pois a FSP lhe dá um tendencioso espaço abundante. Estranho?

A turma do Casseta & Planeta, na sua sabedoria jugular, diz que partido de direita no Brasil é como Festa de São Pedro ou São João, antes de fundar tem que formar quadrilha. Não é o caso do PT. Mas o bloco tucano não sabe perder, como, também, pelo jeito, não soube ganhar (o eleitoreiro Plano Real do FMI), pois, em oito anos destruiu o Estado público, promoveu o neoescravismo da terceirização, enquanto banqueiros agiotas do capital emboaba punham tapetes vermelho para o Pai da Fome em inúmeras viagens ao exterior, e aqui, com apoio da FSP, o Brazyl S/A afundava a todo vapor, acabando com a perdida classe média e aumentando o miserê da periferia sociedade anônima. Bandas cambiais, dígitos de estatísticas e montados "sucessos" de ocasião, não pagam dívidas sociais históricas e nem colocam pão na boca faminta do povo. Por que será que a Folha quer fazer suspeita e acirrada oposição ao Lula do PT? Tem medo do quê? De ser investigada pela PF? De ter o rabo preso com o insano palácio em Era Tucana? Por que a Folha tem medo de Lula e do PT? Por que o PT e Lula costumam investigar transações suspeitas e antros de podres poderes com aliados do alheio? Suspeito.

Disparidades e posturas

A Folha, que em épocas remotas já vendeu assinatura eterna a incautos assinantes e depois revelou-se numa histórica improbidade, bem que poderia servir melhor à nossa frágil democracia, defendendo os interesses do povão, da maioria absoluta da população, entre a fome, a violência, a miséria e a impunidade, independentemente deste ou daquele governo, desse ou daquele ídolo ou partido, não ter tucanado por interesses escusos e dado literalmente com os burros n?água; e agora, pior, que o PT começa devagar com as suas necessárias mudanças limpas, tem medo de, no frigir dos ovos, mostrar realmente a sua cara. Afinal, que cara realmente tem a Folha? Ler pra crer. Tudo a ser? Qual o papel de uma imprensa conivente em gestão anterior? Por que a FSP não investiga sobre o promotor que foi promovido no governo do estado (uma autarquia?), para parar de investigar as, ponhamos, ocorrências financeiras nefastas, do altamente suspeito projeto do Rodoanel? Essa dica para faro fino de reportagem concedo gratuitamente à FSP, para ver que apito ela toca no seu eixo jornalístico. Ou se é só, como agora, mera oposição de ocasião…

Eu, por mim, gostaria de saber até aonde (e com interesses escusos) vai o interesse radical da Folha contra o PT e pró FHC. Aí tem coisa. Só algum repórter bicudo fora do contexto para sacar, investigar. Ou, se o Lula for impetuoso como reza a lenda mesmo, acionar a Polícia Federal. Vai ser um quiproquó? Eu contesto essa Folha tucana, quero uma Folha com jornalismo sério, transparente, motivador, investigativo, inovador. Não tendencioso, parcial. Quem tem medo do Lula e do PT merece respeito? Pior: quem apoiou FHC a todo vapor (que preço isso teve?) merece crédito inteiro?

A propósito e encerrando, cito agora a clara voz ética de Bernardo Ajzemberg, ombudsman do jornal (o sexto), jornalista e romancista, que, de certa forma até confirmando o que ora reclamo (edição 9/3/3) afirma, entre outras coisas:


"Está na hora de uma reviravolta no jornal (…). Tínhamos por meta alcançar uma postura crítica menos retórica e mais técnica, produzir textos de maior qualidade e selecionar melhor os assuntos que iríamos publicar (…) A Folha continua padecendo de um texto que, na média, é apenas regular e de uma abordagem crítica muitas vezes superficial (…) A Folha não atingiu o destino almejado (…) A grave crise que afetou a mídia brasileira, não pode servir de desculpa para a ausência de qualidade e criatividade (…) O jornal deve buscar a independência, apoiando o que julga correto e questionando, com dados concretos e análises qualificadas, o que acha errado (…)"


Essa postura louvável, essas declarações honestas, valoram o jornalismo e o jornalista Bernardo Ajzemberg, e, claro, nos dão esperanças, ao passo que confirmam e de certa forma afirmam as disparidades e posturas da Folha, que precisa se assumir mesmo como jornal democrático, ético, verdadeiro, dinâmico.

(*) Poeta, educador, jornalista