Saturday, 25 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1289

Bernardo Kucinski

CRÍTICA DIÁRIA

"Cartas ácidas", copyright Agência Carta Maior (www.agenciacartamaior.com.br)

"12/11/2001– A moratória silenciosa da Argentina

A Argentina está forçando a reestruturação da dívida através da ameaça de moratória. Bancos que não aceitarem ?voluntariamente?a proposta, arriscam-se a não receber nada. A moratória, portanto, é um instrumento da reestruturação. Uma não pode ser feita sem a ameaça da outra. A declaração de De lá Rúa, divulgada em matéria do Wall Street Jornal reproduzida no Estadão de hoje, negando que a reestruturação seja uma moratória, é portanto apenas uma tentativa de mistificação.

A mídia colabora com a mistificação usando o menos possível a palavra maldita ?moratória?. Também endossou a tese assoprada pelos banqueiros de que nossa economia começou a se ?descolar ? da Argentina. Assim, a nova palavrinha ?descolar? substituiu ?moratória? nas manchetes. Mas José Paulo Kupfer, na Gazeta Mercantil de hoje, revela a fragilidade da tese do descolamento.

A banca internacional deverá aceitar a reestruturação, depois de muito espernear, mas continua trabalhando para impedir que surja no Brasil uma consciência coletiva sobre a viabilidade dessa alternativa. No Estadão do domingo, pela primeira vez um analista do campo conservador fala dessa alternativa – levantada há dias por Cartas Ácidas. ?Moratória da Argentina pode ser um precedente para Lula? é o título do artigo de Reis Velloso.

Procura-se um candidato desesperadamente

Os jornais de hoje revelam que FHC continua sua tática de confundir o quadro sucessório: (a) colocando agora o nome do improvável Aécio Neves, como mais um pré candidato e (b) jogando o nome de Michel Temer para disputar a prévia do PMDB. Talvez o objetivo único dos dois lances seja barrar Itamar.

Mas Josias de Souza revela na Folha de domingo que a grande burguesia está aflita com a indefinição, e já tem dinheiro na mão para um candidato que possa derrotar Lula. Estão dispostos a gastar entre R$ 350 milhões e R$ 450 milhões para comprar uma ?apólice anti-PT?, ?conservar os mesmos privilégios de sempre? e ? manter o sistema de pilhagens? da economia . Palavras de Josias. A eleição presidencial continua sendo vista pela grande burguesia como momento de risco de ruptura, e não como exercício democrático regular, que implica numa alternância também regular do poder.

Mesmo se ganhar, não é para levar

A burguesia não aceita Lula e o jogo vai ser pesado – como nas eleições anteriores. Esse é o mote, também, da entrevista de Genoino na ISTOÉ deste final de semana. Ele diz que a elite brasileria não aceita mudanças e que por isso haverá todo tipo de baixaria na campanha. Mas há uma sutil diferença. Segundo a reportagem de Josias de Souza, desta vez a burguesia acha mais provável uma vitória de Lula e por isso procura uma garantia adicional, caso Lula vença. A idéia é eleger alguns governadores importantes e parlamentares de confiança , como um ?dique contra eventuais arroubos mudancistas.? Palavras de Josias.

As tabelinhas da corrupção eleitoral

Josias não cita fontes. Detalhes da matéria sugerem que ele falou pelo menos com um estrategista eleitoral do poder econômico. Dá estimativas de que com R$ 200 milhões podem ajudar a eleger Alckmin em São Paulo. No Nordeste, entre R$ 15 milhões e R$ 25 milhões elegem um governador. Em São Paulo, eleger um parlamentar sem rosto pode custar até R$ 10 milhões. Diz também que já estão sendo montados ardis mais sofisticados e modernos para camuflar as doações ilegais.

Do denuncismo ao cinismo

Josias de Souza costura as informações candidamente, com um ou outro toque de cinismo, fugindo do tom da denúncia. Aí está a maior gravidade de sua matéria, pois ele é, afinal, o Chefe da Sucursal da Folha em Brasília. Sua palavra tem o peso do jornal como instituição. Ao não nominar suas fontes, nem mesmo indiretamente, ele denuncia sem denunciar, transmite a desagradável sensação de que tudo isso vai acontecer, não importa o que se faça ou se deixe da fazer.

O PT e o financiamento de campanha

Josias divide o dinheiro de campanha em dois tipos: o oficial e o paralelo. Do oficial, diz que ?até Lula provará?. O paralelo, ilegal, é seletivo. Mas menciona o imbróglio em que se meteu o PT gaúcho, para sugerir que dinheiro ilegal financia também o PT. Os jornais de referência nacional continuam tratando o imbróglio gaúcho com relativa discrição. Isso dá ao PT espaço para reagir, e o único caminho é esclarecer tudo e punir os envolvidos em irregularidades.

A ética pode minar o PT

Nos jornais de hoje, correspondentes diversos mandaram variantes da mesma reportagem de Porto Alegre, baseada obviamente em declarações do relator da CPI da Corrupção que anteciparam que o relatório vai implicar a cúpula do poder petista, e vai abrir caminho a uma nova CPI.

Uma crise ética no PT é sempre uma crise grave porque o que une o PT não é uma doutrina, e sim um ethos, um conjunto de valores e comportamentos incorporados como a identidade dos petistas. Na Folha de domingo, Leo Gerchmann colocou o dedo na ferida: ?Crise do bicho acirra divergências no PT-RS?. Mostrou como diferentes correntes do PT estão adotando diferentes atitudes frente ao episódio. Se Josias estiver certo no seu cinismo, e o PT também receber dinheiro paralelo, de alguma forma o episódio gaúcho vai ser um marco na história do partido: elevando-o a um nível ético-operacional superior, ou atirando-o na vala comum da institucionalização política convencional.

Roseana na capa

Todas as revistas semanais deram grande destaque ao crescimento de Roseana nas pesquisas, desbancando Ciro Gomes do segundo lugar. O tratamento editorial é de um debate com as elites dirigentes sobre suas chances reais, sem desperdiçar a oportunidade de aumentar essas chances junto aos leitores. Veja adotou o tratamento mais glamoroso, mas revelou a tecnologia de marketing que a promoveu e apontou seus pontos fracos potenciais numa eventual campanha. Época ressalta sua saúde frágil e os indicadores sociais do Maranhão, ainda mais frágeis. IstoÉ trabalha o agravamento das divergência internas no bloco do poder, provocadas pela ascensão de Roseana.

Retrato do Brasil

A cada 35 horas um paulista é seqüestrado. A última modalidade é o seqüestro de um grupo da família, para que um testemunhe a tortura ou mutilações dos demais. Ninguém está imune. Resgates variam de R$ 500 a R$ 500 mil. Reportagem na Folha de domingo sobre o tema ocupa seis páginas. No caderno de economia do JB de domingo, outro Retrato do Brasil: os calotes cresceram 16,5% este ano e já há 16 milhões de brasileiros inadimplentes.

9/11/2001 -A traição de FHC

Está num pequeno box do caderno de economia da Folha desta sexta-feira o relato de como FHC garantiu a Bush que o Brasil não vai apoiar a política de moratória branca da dívida externa adotada pela Argentina para forçar uma renegociação com juros menores e prazos maiores. Esse era o grande medo do capital financeiro, e FHC foi lá assegurar que eles não precisam se preocupar. O Brasil vai ser um bom menino. FHC deve ter pedido em troca, mais uma vez, que os EUA apoiassem a indicação do Brasil para o Conselho de Segurança da ONU. ?O presidente afirmou ter relatado a Bush sua satisfação com o fato da economia brasileira estar se descolando da crise argentina. Disse que o problema da economia argentina é doméstico e cabe a eles solucioná-lo?. Uma traição completa, uma intervenção inadequada e desnecessária, uma falta de solidariedade no momento crítico. E uma oportunidade perdida de forçar concessões para o conjunto dos países endividados.

Confronto à vista no ABC

A cobertura da Folha sobre as demissões em massa na Volks, relatadas a partir da ótica dos trabalhadores e da sociedade civil, rompe a tradição da grande imprensa de relatar greves de um modo a ajudar a derrotar os grevistas. A reportagem deixa clara a violência social inerente à ação da Volks. Nas entrelinhas das declarações, tanto da direção da empresa, que mandou retirar os carros de seus pátios, como das lideranças sindicais, que falam em operações de surpresa, desenha-se um grande confronto físico, que pode ter importantes implicações políticas.

Ministro releva com quem está o governo

O ministro Dornelles não perdeu tempo em acusar a CUT, supostamente intransigente, pelas decisões da Volks. Confundiu central sindical com sindicato. O presidente do sindicato do ABC, Luiz Marinho, foi incisivo ao apontar a má fé do ministro. Para piorar a situação de Dornelles, a central governista Força Sindical saiu em apoio aos metalúrgicos do ABC.

O gesto de Dornelles, indo contra os trabalhadores, quando deveria agir ano sentido contrário, como representante de um governo, desvenda que interesses o governo FHC efetivamente defende.

A crise da indústria automobilística é estrutural, o sindicato admite esse caráter, e tem propostas de longo prazo para minimizar os danos sociais. Dornelles está sinalizando logo de cara que o governo se alinha com o discurso da indústria, que culpa vítima. A estratégia da indústria é minimizar os danos aos seus lucros. Assim como o governo FHC foi cúmplice dessas empresas ao promover os generosos incentivos fiscais à sua ampliação, usando para isso até mesmo Medidas Provisórias, agora está sendo cúmplice de sua estratégia anti-social de desmonte.

O desastre da indústria automobilística

A dimensão do desastre da indústria automobilística está bem retratada por Maria Fernanda de Freitas, no JB de hoje. Ela relata a confissão dos grandes executivos da indústria automobilística, num seminário realizado no Rio de Janeiro, de que erraram totalmente na sua estratégia de ocupação do Mercosul, superdimensionando investimentos, que chegaram a US$ 15,5 bilhões no Brasil e Argentina. Fábricas como o Chryslker do Paraná optaram pelo fechamento e outras ainda podem fechar. Muitas devem demitir em massa. A estratégia fracassou porque o Mercosul fracassou e nossos povos estão cada dia mais pobres.

Desgastar o PT, mas sem criar mártires

A mídia está trabalhando em manchetes ainda internas o desgaste do PT, enquanto a TV massifica o desgaste em escala nacional. Mas tudo isso é feito com muita cautela. Com o surgimento de novos fatos, a partir da invasão da residência de Diógenes de Oliveira, a mídia sente que o jogo se torna perigoso. Processos de impeachment se dão em torno não do geral, mas de um pequeno fato concreto. Como é o surgimento de uma testemunha que se confessou ?laranja?, expressão adotada pela Folha de hoje.

Se a dinâmica do caso levar à proposta de impeachment de Olívio Dutra, pode haver reação adversa da opinião pública, dada a desproporção dada ao caso, e a operação pode se voltar contra os acusadores. Tarso Genro, o prefeito de Porto Alegre, que nem sempre afina-se com Olívio Dutra, ganhou destaque nos jornais de hoje, inclusive no Estadão, apontando para os riscos à imagem do PT, e exigindo que o partido crie um procedimento específico para controlar doações e finanças. É uma meia admissão de que alguma coisa andou errado. Ao mesmo tempo, toda a cúpula do partido vai prestar solidariedade a Olívio.

A homenagem é necessária, mas a completa apuração do caso também é. O PT não tem outro caminho.E se for rigoroso na apuração, e transparente no contato com a mídia, acaba dando a volta por cima.

Não deixe de ler

O artigo ?O antraz dos ricos?, de Boaventura Sousa Santos, publicado na página 2 da Folha de ontem. O sociólogo analisa a duplicidade de valores dos americanos no debate da patentes de medicamentos. Enquanto a aids faz 39 milhões de vítimas na África, com 6 mil mortes por ano, patentes do coquetel anti-aids não se quebram e nem seus preços são substancialmente reduzidos; bastaram as quatro mortes por antraz nos EUA para que o preço do comprimido de Cipro fosse cortado de US$ 5 para US$ 0,95.

7/11/2001- O pesado cenário internacional

É preciso voltar a atenção ao aprofundamento da recessão nas grandes economias, e a seus possíveis reflexos no Brasil. Com a redução da taxa básica de juros nos Estados Unidos a apenas 2,5% anuais, a mais baixa em 40 anos, a economia americana passa a operar com juro real zero, já que lá o Índice de Preços ao Consumidor está subindo em torno dos mesmos 2,5% ao ano. O juro real zero é para tirar a economia americana da recessão. Mas o Japão segue a mesma política, operando com taxa real de juro próxima do zero há mais de uma década, e continua atolado na recessão. Essa analogia é feita hoje no caderno de economia do Estadão, em matéria traduzida do Wall Street Journal, que pergunta: ?No mesmo pântano??

Uma crise nos três pólos?

Uma nova crise no capitalismo será grave se for simultânea, nos seus três pólos: EUA, Japão e União Européia. Dos três, a crise só não tinha chegado à União Européia. Mas o FMI divulgou ontem suas previsões, dadas com destaque pelo Estadão de hoje, de que o crescimento será anêmico também na zona do Euro. A Gazeta Mercantil de hoje traz detalhes do andar da recessão na Europa, com aumento do desemprego e queda no ânimo dos consumidores, igualzinho o que o ocorre nos EUA. Outro sintoma do espalhamento da recessão é a queda na cotação do petróleo tipo Brent, para apenas US$ 19 por barril.

Guerra e economia

O FMI atribui o agravamento da crise ao ?grau incomum de incertezas provocado pelos ataques terroristas?. Ou seja: quem perpetrou os atentados não atingiu apenas símbolos do capitalismo global, atingiu o próprio capitalismo. Elio Gaspari, na sua coluna hoje, chama a atenção para o fato de que o uso da tortura para extrair informações dos suspeitos de terrorismo está sendo discutido nas páginas do jornal que representa, por excelência, o capitalismo: o Wall Street Journal. Segundo estudos citados na Gazeta Mercantil de hoje, as operações no Afeganistão podem estar custando até US$ 1 bilhão por mês em despesas adicionais.

A escalada da insensatez

O Estadão de hoje dá destaque (e uma enorme foto) à notícia de novos bombardeios do Afeganistão, com bombas ?corta-margaridas?, capazes de queimar tudo num raio de 500 metros. São semelhantes àquelas usadas no Vietnã. Talvez sejam um aperfeiçoamento tecnológico das estigmatizadas Napalms. E um aperfeiçoamento semântico. Por que não chamá-las de ? arrasa quarteirão??

Depois de um mês de bombardeios insensatos, nem por isso a determinação dos EUA arrefeceu. Ao contrário. A decisão da Alemanha de entrar na guerra, depois de decisão semelhante do Japão, são emblemáticas da determinação das potências centrais de abafar o espírito de rebelião que se espalha nos países periféricos. O que estamos assistindo pode ser o começo de uma grande varredura militar nas áreas periféricas do capitalismo, territorializando a presença armada americana, e consolidando seu capitalismo global

A reação do militante histórico

No seu depoimento de oito horas à CPI gaúcha, Diógenes de Oliveira fez jus à fama de valente e confirmou sua personalidade de combatente. Não só assumiu, como se esperava, toda a culpa por erros na condução do Clube de Seguros da Cidadania, como surpreendeu os inimigos do PT com um devastador ataque ao grupo RBS. O episódio lembra o discurso final do comunista búlgaro George Dimitroff, ao se defender na corte alemã da falsa acusação de ter posto fogo no Reischtag. Dimitroff ridicularizou Goering, e mesmo assim foi absolvido. Seu discurso é hoje um texto de referência.

O depoimento que nenhum jornal publicou

Diógenes ridicularizou a CPI ao mostrar que há meses colocou à disposição seus sigilos bancários e os do Clube de Seguros da Cidadania, e nenhum dinheiro do jogo do bicho foi encontrado. Acusou a RBS de maquinar toda a investida contra Olívio Dutra, arquitetando gravações e acusações falsas. Revelou ainda, através de um levantamento meticuloso, os empréstimos internacionais do grupo, sugerindo que o uso de empresas ?off-shore? possa esconder movimentações irregulares de divisas. Acusou o grupo de dar como garantia dos empréstimos as concessões de canais de rádio e TV em território brasileiro, o que seria uma afronta à soberania.

Concluiu que o grupo está em estado pré-falimentar, devendo R$ 760 milhões, valores de dezembro de 2000. Por isso fazem falta os R$ 60 milhões que o antigo governador Antonio Brito repassava mensalmente ao grupo RBS. Interessante que nenhum jornal se deu ao trabalho de transmitir o clima e a postura de resistência e combate de Diógenes. Muito menos o de publicar seu dossiê ou depoimento, nem mesmo um resumo para criticar. ( Os leitores podem encontrar a íntegra do dossiê e do depoimento de Diógenes no site da Agência Carta Maior, na seção Perspectivas.

Lula exige ética

Na TV, ontem à noite, Zé Dirceu e Lula disseram que o PT não tem nada a temer, cobraram o aprofundamento das investigações e a quebra do sigilo dos banqueiros do bicho do Rio Grande do Sul. O Estadão de hoje dá destaque a uma entrevista de Lula em Brasília, em que ele inteligentemente se coloca como fiscal das origens éticas do partido, exigindo um retorno ao contato com as bases. Lula dá também um recado aos governantes do PT : durmam com o livro de promessas da campanha debaixo do travesseiro e releiam todas as manhãs.

Direita intimidada

A direita gaúcha tem motivos para se sentir intimida com a contra-ofensiva do PT. E vai encontrar mais munição no Valor de ontem, que publicou uma interessante reportagem do jornalista Sérgio Bueno (página A5) sobre o amplo o envolvimento de pesos pesados do empresariado gaúcho com sonegação fiscal, incluindo o atual presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, Renan Proença, seu ex-presidente, Sérgio Schapke, e Carlos Alban, escolhido o ?empresário do ano? pela mesma Assembléia gaúcha que montou a CPI contra o PT. É grande a lista de empresários gaúchos condenados por sonegação. Alguns fugiram para o exterior para não serem presos. Outros estão criando empresas ?off-shore? no Uruguai, para escaparem do confisco. A reportagem mostra que só no Rio Grande do Sul eles de fato vão parar na cadeia. A reportagem tem o título ?Rio Grande do Sul vira um inferno para sonegadores?.

O rescaldo da CPI ainda é comprometedor

O acidente cardíaco sofrido por Diógenes, depois de oito horas de seu dramático depoimento, transtornou os planos da CPI, mas não livra o PT de um relatório que pode apontar alguns comportamentos irregulares. Daí a necessidade de manter a postura de esclarecimento total dos fatos ilícitos.

O tom geral da mídia nacional é de apontar para o que chama de ?respostas evasivas? de Diógenes a algumas perguntas. A mídia ainda não está despejando artilharia pesada. Mas vai despejar se o PT vacilar, tanto no contra-ataque, como na revisão de suas posturas.

Enquanto isso, ali pertinho, no Paraná…

Antológica a reportagem de Fernando Rodrigues, na Folha de ontem, sobre como operou o caixa dois da campanha de Cassio Taniguchi, em que ele derrotou o candidato do PT por pequena margem, na disputa pela prefeitura de Curitiba. Hoje, um dos tesoureiros da campanha confirma a autenticidade de vários dos recibos que sustentam a reportagem. Muito bem escrita, articulada e didática, as duas reportagens acabam com o futuro de Jaime Lerner e deveriam levar, se a justiça prevalecer, ao impeachment de Taniguchi.

A reportagem de Fernando Rodrigues foi possível graças à traição de membros do grupo dominante. Ela revela o perigo do uso de caixa dois, quando as alianças momentâneas se desfazem. Esse uso é disseminado no Brasil, para ludibriar a legislação eleitoral, como bem mostra a reportagem. A oposição deve insistir nas suas propostas de financiamento estritamente público de campanhas eleitorais, mas deve atentar mais para o fato de que isso não impedirá, por si só, o uso de caixa dois.

Nas entrelinhas

Finalmente o governo regulamentou o Fundo contra a Pobreza. O decreto de FHC saiu discretamente, e ninguém atinou para o fato de que é uma resposta tardia e enrustida ao Projeto Fome Zero, do Instituto Cidadania. Uma das críticas do projeto era a falta de regulamentação desse Fundo.

Teorema dos impasses

Impasse na greve do INSS, que já dura 92 dias; impasse na greve das universidades federais, que já começa a comprometer o ano letivo; impasse na greve dos servidores da justiça paulista, que já dura 73 dias; impasse na negociaç&atildatilde;o pelo reajuste das alíquotas do Imposto de Renda. Por trás de todos esses impasses, está a intransigência do governo e a Lei de Responsabilidade Fiscal, que engessou toda a sociedade brasileira na tarefa exclusiva e única de gerar um superávit primário nas contas públicas para pagar as dívidas interna e externa."