Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Eduardo Ribeiro

SERVIÇO PÚBLICO

"Prato cheio para a reflexão", copyright Comunique-se, 20/3/03

"O governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, no seu jeito manso e discreto, tem dado mostras de que não foge de uma briga, nem se intimida frente às adversidades. E estão aí seus atos e atitudes, sobretudo após a dolorosa morte do governador Mario Covas, e sua própria reeleição para governar o Estado de São Paulo ? mesmo enfrentando o aguerrido PT e a força populista de Paulo Maluf ? para mostrar sua força e respeito.

Em agosto de 2001, Alckmin, ao falar na abertura solene do 1? Congresso Brasileiro de Comunicação no Serviço Público, fez uma serena reflexão sobre o uso da Comunicação na esfera pública: como evitar os exageros de uma divulgação personalista e com fins demagógicos e eleitoreiros, sem cair também no outro extremo de nada fazer, pecando por omissão e deixando a sociedade sem as informações básicas e essenciais para poder acompanhar e fiscalizar suas autoridades. E saiu-se com essa: ?Não há receita, nem verdade absoluta. Um homem público, nesta questão, tem de se pautar por uma palavra: razoabilidade. E usar o bom senso para distinguir o que é meramente propaganda do que é efetivamente comunicação de governo?.

Marcou um gol de craque e foi muito aplaudido pelos quase 600 colegas que lá estiveram para ouvi-lo.

O mesmo Alckmin acaba de participar da aula de abertura da edição 2003 do curso Master em Jornalismo, dirigido pelo professor Carlos Alberto di Franco, e que tem a supervisão da Universidade de Navarra, da Espanha. É um curso voltado para a elite do jornalismo, que tem por objetivo ajudar as empresas jornalísticas a formar quadros de direção, dando ao jornalista um preparo que ele não encontra em outros cursos, nem na prática de mercado, sobretudo para a difícil missão de gerir uma redação.

Na palestra que fez, como uma espécie de aula magna, para os participantes da sétima edição do curso, o governador foi fundo na questão da cobertura de governo feita pela imprensa e levantou aspectos que certamente levaram todos a refletir sobre erros e acertos que se tem cometido ao longo da história neste ambiente. Não execrou as críticas, ao contrário, elogiou a postura investigativa da imprensa, mas exortou os profissionais a atuarem sem preconceitos e com imparcialidade, de modo a separar o joio do trigo. Se é bom para a sociedade conhecer as mazelas dos seus homens públicos é também importante saber o que de bom tem sido feito, valorizando também o lado bom e honesto dos homens públicos.

Não estou aqui, obviamente, para ser um porta-voz ou defender as teses do governador Alckmin, mas suas colocações são muito serenas e oportunas, a ponto de ele ir buscar, no fundo do baú, uma famosa frase atribuída ao Ricardo Kotscho, cunhada nos anos de chumbo: ?Jornalismo é oposição. O resto é press-release?. Alckmin lembrou que ?Kotscho hoje é assessor de imprensa do presidente da República. Não mudou seu padrão ético e profissional, mas ? até por dever de ofício ? seguramente mudou esse seu conceito sobre governo e jornalismo?.

Quero aqui tomar a liberdade de transcrever a íntegra da palestra do governador, que nem é tão grande assim, porque vale a pena compartilhar essas reflexões. Estamos num momento estratégico, de plenitude democrática, de liberdade de imprensa, mas ainda convivendo com uma nação conturbada por desigualdades sociais. Se buscamos saídas, inclusive para a imprensa, toda contribuição sempre será bem-vinda.

Segue a íntegra da palestra Governo e Imprensa proferida pelo governador Geraldo Alckmin, em 17/03, na aula inaugural do VII Curso Master em Jornalismo.

?Segundo uma ?Definição Definitiva? do grande humorista e pensador Millôr Fernandes, ?a opinião pública é uma opinião particular que saiu às ruas?.

Quem leva a opinião particular às ruas, para ganhar adeptos e se transformar em opinião pública são os profissionais dos meios de comunicação. Muito especialmente, os editores, que selecionam, não só as opiniões particulares que serão divulgadas, mas também os fatos que merecem destaque, suas versões e interpretações.

Como todo governo democrático tem a obrigação de estar atento à opinião pública, não pode haver dúvidas a respeito da importância do trabalho dos editores, no direcionamento de leis, projetos e ações governamentais que mexem com a vida de milhares ou milhões de pessoas.

Por isso, tenho dupla satisfação de vir falar aos senhores e senhoras reunidos neste simpósio. Satisfação por falar a profissionais de imprensa, aos quais sempre fiz questão de atender com toda atenção, pois entendo que isso não é apenas um gesto de cortesia, é obrigação de todos quanto ocupam cargos públicos e têm o dever de esclarecer e prestar conta de seus atos.

Satisfação maior ainda por ver que este ciclo de palestras, promovido pela sétima vez, tem objetivos que vão muito além de aprimorar conhecimentos e debater a evolução das técnicas dos meios de comunicação. Com a participação de renomados especialistas do assunto, ele trata profundamente de questões éticas diretamente relacionadas com a formação da opinião pública.

Disso, podemos concluir que este encontro seguramente servirá para avaliar o posicionamento dos meios de comunicação, diante das rápidas metamorfoses, que atingem todos os setores de atividade em todo o mundo; consequentemente, servirá para rever conceitos e comportamentos e, assim, servirá para melhor preparar editores para o desempenho de suas importantes tarefas.

Agora, os senhores e senhoras podem estar perguntando o que faz um médico anestesiologista e político no meio de tantos especialistas de comunicação.

Venho a este encontro como político, como governante e, principalmente, como cidadão que luta pelo aprimoramento da democracia em nosso país.

A informação é a mais preciosa das matérias-primas da democracia. É a informação que transforma indivíduos em cidadãos, ao despertar a consciência de direitos e deveres, através da exposição e debate dos problemas que nos cercam.

Portanto, informação também é assunto meu.

Mas, não venho a esse encontro para ensinar, para questionar ou propor qualquer novidade. Venho apenas para ? sem qualquer reclamação ou reparo ? apresentar para reflexão um ponto de vista de quem ?está do outro lado do balcão?, como vocês costumam dizer. O ponto de vista de quem é visto diariamente pela imprensa, nem sempre com uma visão simpática. Entendo que isso acontece por razões que vão além daquela máxima do jornalismo americano, segundo a qual ?bad news are good news?.

Creio que um dos maiores males causados pela ditadura e ? especialmente ? pela inominável censura à imprensa foi criar nos meios de comunicação um clima de aversão, de antipatia permanente, a tudo que se refere aos governos, de uma maneira geral e irrestrita.

Por vezes é até uma atitude parecida com a velha história do náufrago anarquista espanhol que chega exausto à praia de uma ilha desconhecida e pergunta à primeira pessoa que encontra: Nesta tierra hay gobierno? Ouve a resposta si e acrescenta: Entonces, yo soy contra!

Quer dizer: não interessa saber quem é o governante, nem o que ele faz: soy contra e está acabado… Isso faz sentido para um anarquista e, de certa forma, também fazia sentido entre nós, democratas, nos tempos da ditadura. Mas agora, felizmente, as coisas mudaram e creio que esse comportamento também está mudando.

Certamente já mudou para um respeitado jornalista, que ? nos anos de chumbo ? cunhou uma frase muito conhecida: Jornalismo é oposição; o resto é press-release. Esse jornalista, Ricardo Kotscho, hoje é assessor de imprensa do presidente da República. Não mudou seu padrão ético e profissional, mas ? até por obrigação do ofício ? seguramente mudou esse seu conceito sobre governo e jornalismo.

Reconquistamos a democracia. Agora, precisamos preservá-la e aprimorá-la. Para isso é fundamental a participação sem preconceitos dos meios de comunicação, especialmente para ajudar a população a separar o joio do trigo em nosso meio político.

O governador Mário Covas sempre afirmava que o povo é um juiz sábio e justo, que sabe o que quer e quer escolher as melhores pessoas para cuidar da cidade, do estado e do país. Ressaltava, porém, que para fazer a escolha certa, o julgamento justo, o povo precisa ter informações corretas e completas sobre o que vai decidir.

Entretanto, não é isso que acontece, normalmente, quando se trata do noticiário político-administrativo. Parece que há um entendimento generalizado em nossos meios de comunicação de que os maiores espaços devem ser usados para apontar erros e denunciar desmandos. Isso, seria o verdadeiro jornalismo. Noticiar coisas boas e importantes que os políticos e os governos fazem seria propaganda, coisa para ser tratada no balcão de anúncios e, não, na redação.

Respeito os que pensam assim e aceito tranqüilamente as críticas, pois acredito no ensinamento de Santo Agostinho: Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me adulam, porque me corrompem.

Entretanto, quero observar que levar notícias e comentários só para o rumo das denúncias é fazer justamente o jogo dos políticos corruptos, dos demagogos, dos incompetentes, dos que estão na vida pública apenas para se aproveitar do povo e do dinheiro do povo. Isso, porque o denuncismo iguala a todos. Resulta naquela afirmação míope e distorcida de que os políticos são todos iguais.

É preciso que haja mais informações a respeito do trabalho dos políticos sérios para que o povo possa fazer um julgamento justo e equilibrado. É preciso também noticiar o que é bom, para que o povo possa acreditar que este país tem solução e, não, mergulhar em ondas de pessimismo, que não contribuem para melhorar coisa alguma.

Por isso, acho que omitir informações a respeito de trabalhos importantes feitos pelos governos é tão grave quanto deixar de denunciar o que existe de errado na administração pública.

Em síntese: é preciso mais equilíbrio.

Mas, há ainda atitudes piores. Há ? ou pelo menos havia ? quem busque equilíbrio eximindo-se de fazer críticas ou elogios, de publicar boas ou más notícias, como acontecia com o editor de um jornal lá da minha terra, Pindamonhangaba, nos anos 70, que dizia ?aqui acontece pouca coisa e, quando acontece, as pessoas não querem que as outras saibam?.

Isso é coisa de um passado relativamente recente, mas parece passado remoto, coisa da Idade da Pedra, diante da extraordinária uvolução que teve a imprensa, de maneira geral, e muito especialmente a do interior paulista.

A imprensa é sempre o retrato de uma comunidade. Por isso, creio que a sensível melhora dos jornais, rádios e TVs do interior e de bairros da Capital reflete o desenvolvimento que todo o Estado de São Paulo tem tido nos últimos tempos.

Onde havia pequenos jornais ?feitos no chumbão?, com tipos catados nas caixas ? do mesmo jeito que Gutemberg fazia seus impressos há 550 anos ? hoje há modernas oficinas informatizadas, com velozes rotativas fazendo jornais coloridos de grande tiragem. A mudança não foi só da forma, mas também de conteúdo, graças a redações compostas por profissionais cada vez mais dedicados e competentes.

Aí está um bom exemplo de círculo virtuoso: o desenvolvimento impulsiona a melhora dos meios de comunicação e os meios de comunicação aceleram o desenvolvimento.

Da página virada das velhas e heróicas histórias da imprensa restarão muitas lembranças do quanto era difícil e espinhoso o trabalho de manter um jornal no interior. Certamente restarão também muito folclore e casos curiosos que marcaram a vida desses jornais. Histórias que, mesmo tratando de assuntos tristes, hoje nos fazem rir.

Lembro-me de uma delas, um erro de revisão em um convite para uma missa de sétimo dia. Era mais ou menos assim:

MISSA DE SÉTIMO DIA DE JOÃO SARDINHA

Maria Sardinha, Pedro Sardinha, Manoel Sardinha, Antonio Sardinha, Violeta Sardinha, …… Sardinha, ….. Sardinha e … Sardinha convidam para a missa de sétimo dia de seu saudoso esposo, pai, irmão, tio ….. João Sardinha.

Por este ato de caridade e fé cristã, a família enlatada antecipadamente agradece…

Caros amigos, como repórteres e editores, os Senhores e Senhoras fazem a nova história da imprensa e, como parte dela, escrevem e direcionam a nova história do Brasil.

Estejam sempre conscientes de que ? com mais equilíbrio, sem pessimismos e sem preconceitos ? é possível contribuir muito para a história real de um Brasil mais próspero, mais justo e mais feliz!?"

 

JORNAL DA IMPRENÇA

"No calor da batalha", copyright Comunique-se, 20/3/03

"Ardoroso fã do Jornal da Globo e de Ana Paula Padrão, tentei convencer Janistraquis de que estávamos diante do maior exemplo de grande jornalismo da história da televisão mundial. ?Que exemplo de jornalismo, considerado! Exemplo, isto sim, de imbecilidade!?, vociferava ele, como George C. Scott em Patton. E continuou a atacar, para meu desespero: ?Como é que se interrompe o clássico entre Vasco e Fluminense, decisão do Campeonato Carioca, que estava sendo visto pelo Brasil inteiro, para botar, ao vivo, imagens de uma cidade morta?!?.

Realmente, não era fácil explicar a repentina troca da ?Batalha do Maracanã? por aquelas duas imagens congeladas de Bagdá ao amanhecer. ?Isso é como instalar câmeras na Ilha do Governador e tentar mostrar um arranca-rabo que traficantes estariam travando na Barra da Tijuca!?, tornou meu secretário, numa explosão de intolerância. Porém, estava difícil absolver o gesto de quem dera a ordem para a emissora abandonar os minutos finais de um jogo eletrizante, no qual o Vasco tentava manter a vitória de 2 a 1, substituindo-o por aquela monotonia.

Está certo que a esforçada Ana Paula garantia, de vez em quando, que estava a escutar ruídos de batalha. Pelas duas câmeras da Ilha do Governador, Bagdá despertava; aqui e ali um automóvel piscava os faróis, como se avisasse a outro, em sentido contrário, que não ultrapassasse os 60 kmh para não ser apanhado pelo ?pardal? instalado no alto do poste. Vimos um veículo parecido com um ônibus. ?Tá vendo?! Até turistas madrugadores estão passeando na cidade que está sendo bombardeada pela Globo!?, indignava-se Janistraquis, àquela hora ocupado em fazer funcionar um radinho sem pilhas.

O tráfego aumentava na cidade sitiada. A voz de Ana Paula era um sussurro de velório, apesar das injeções de ânimo aplicadas por William Waack e um ?especialista em armamento?, empenhados em esquentar uma guerra que insistia em permanecer nos camarins.

O resultado do jogo, soubemos aqui na Internet: o Vascão mantivera a vantagem diante do inimigo enfurecido. E, segundo o lugar-comum de Janistraquis, a Globo foi a primeira vítima dessa invasão provocada pelos delírios fundamentalistas de um ?democrata fanático?; se Bush queria perturbar os sonhos de Sadam Hussein, o que conseguiu foi estragar a noite de Ana Paula Padrão.

***

Nas alturas

Por falar em batalhas de verdade, durante o grande clássico Vasco x Americano, dias atrás, o craque-comentarista do Sportv, Leovegildo Júnior, elogiou assim as firulas do jogador Fabrício Carioca: ?Apesar de baixinho, ele dá um trabalho danado…?. Janistraquis me passou a bola:

? Considerado, Maradona não era baixinho?

? Era e continua sendo…

? Romário não é tão baixinho que tem até o apelido de ?Baixinho??

? É.

? Apesar de nem ser muito alto, esse nosso conterrâneo Leovegildo tem cada uma!

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A anos-luz

Alguns leitores garantem, via e-mail, que Janistraquis ?inventou? o erro da semana passada ?para agitar a coluna e ganhar elogios?. Todavia, não é verdade; o erro aconteceu realmente, resultado da falta de atenção, e o tropeço, se pode ser perdoado no texto deste sexagenário já vacilante, vira coisa grave quando envolve inocente e correto comentário aqui postado.

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Errei, sim!

?Idade Mortal ? Robusto título da Folha de S. Paulo: Imperatriz Michiko desmaia ao comemorar seu 59? aniversário. Janistraquis ficou penalizado: ?Considerado, coitada da rainha; se ela desmaia ao completar apenas 59 anos, dificilmente deixará de morrer aos chegar aos 60?. Tem Lógica.? (janeiro/94)"