Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Eliane Pereira

SKY, 7 ANOS

“Sky comemora sétimo aniversário e apresenta sistema de gravação personalizada”, copyright Meio e Mensagem, 10/11/03

“Disposta a firmar posição como empresa inovadora e líder em seu setor de atuação, a operadora de TV por assinatura via satélite Sky (uma associação entre as Organizações Globo, a News Corporation e a Liberty Media) está investindo R$ 2,5 milhões em campanha publicitária assinada pela Neogama para divulgar o Sky+, lançado oficialmente na semana passada. A empresa aproveitou a ocasião para apresentar seu novo logotipo e o primeiro número da Revista Sky, em comemoração ao sétimo aniversário de atuação no Brasil (ver box).

O Sky+ é um sistema avançado de gravação digital de imagens, semelhante ao Tivo e ao ReplayTV, disponíveis no mercado norte-americano. Com ele o telespectador pode programar de forma bastante simplificada a gravação de suas atrações favoritas na TV, ou assistir a um programa enquanto grava outro, ou ainda utilizar o recurso live pause (pausa ao vivo), que permite parar de assistir um programa que está sendo transmitido e voltar a vê-lo do ponto que parou, enquanto o equipamento continua gravando as imagens na seqüência.

Diferentemente de seus congêneres americanos, entretanto, o Sky+ não vai pular os comerciais; a programação será gravada na íntegra. As imagens serão armazenadas num disco rígido, com capacidade para até 50 horas de gravação, e ficarão disponíveis para serem assistidas no horário desejado. Graças a essa característica o sistema é apresentado como uma inovação que permite ao telespectador criar o seu próprio canal de televisão, na medida em que pode escolher (e gravar) apenas os programas de seu interesse e assisti-los quando quiser.

Isso também pode ser feito com o bom e velho aparelho de videocassete, mas o sistema de gravação digital personalizada tem a vantagem de ser muito mais ?amigável?, pois possibilita programar a gravação apenas selecionando os programas desejados no Guia Eletrônico de Programação. Além disso, oferece recursos que o videocassete não dispõe – live pause, assistir um programa e gravar outro, proteger gravações para que não sejam apagadas, entre outras opções. ?Trata-se do estado da arte, em termos de tecnologia, mas de forma fácil de ser usada?, afirma Rosamélia Girão, gerente de produto da operadora.

O serviço é conhecido internacionalmente pela sigla PVR ( personal video recorder), mas a Sky prefere evitar o termo para não causar confusão com o sistema lançado pela DirecTV também na semana passada (um dia antes da concorrente) e batizado DPVR. Este consiste num software, já instalado nas caixas decodificadoras de sinal, e num cabo para conexão com o videocassete. Com isso o assinante pode usar seu decoder para programar a gravação pelo videocassete – diferente do sistema da Sky, que traz uma solução de gravação digital incorporada ao decoder.

Para divulgar a novidade a Neogama preparou campanha, que estreou na quarta-feira, dia 5, nos jornais, com o tema ?Sky+, a maior invenção da TV desde a invenção da TV?. A campanha inclui anúncios em revistas de circulação nacional, outdoor e filme para TV.

Pioneirismo

Para ter acesso ao novo serviço os assinantes da Sky terão que comprar um modelo especial de decodificador, que custará R$ 1.499, mais o valor da mensalidade (R$ 19,90). A expectativa da operadora é a de que 10% de sua base de clientes (hoje na casa dos 770 mil) se interesse pelo Sky+. ?O número de assinantes vem crescendo em média 3% a cada trimestre e acreditamos que o produto tenha potencial para atrair novos clientes, embora nossa prioridade seja atender quem já está na base?, afirma Ricardo Miranda, diretor geral da Sky no Brasil.

Tanto o equipamento (hardware) quanto o software que gerencia as funções foi desenvolvido especialmente para o mercado brasileiro, o primeiro pela empresa sul-africana UEC , e o segundo pela israelense NDS. Apenas no desenvolvimento do produto foi investidos US$ 1,5 milhão. O primeiro lote de equipamentos, importado, chega ao Brasil na última semana de novembro, mas a partir do ano que vem as caixas serão produzidas na Zona Franca de Manaus.

O Brasil é o primeiro país da América Latina e o quinto no mundo (depois de Inglaterra, Estados Unidos, França e Canadá) a contar com o serviço. Pesquisa realizada pelo instituto C-Cubed com 573 usuários de PVR revelou que o tempo médio que essas pessoas passam em frente à TV subiu de 17,3 para 20,8 horas semanais e que os aspectos mais valorizados são o controle e a personalização da programação.”

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“Operadora lança revista para assinantes”, copyright Meio e Mensagem, 10/11/03

“Publicação nasce com tiragem de 900 mil exemplares

Aproveitando o mote do sétimo aniversário de atuação no Brasil, a Sky está distribuindo o primeiro número da Revista Sky. Com tiragem de 900 mil exemplares e distribuição gratuita para assinantes, além de companhias aéreas e hotéis, a publicação é uma produção da Pool Editora, empresa do grupo LM&X. Das 108 páginas, 12 foram vendidas para anunciantes como Philips, Embratel e Credicard, além de canais pagos.

Não se trata propriamente de uma revista de programação: o objetivo principal é facilitar o entendimento do cliente sobre os serviços oferecidos pela operadora. A publicação traz ainda matérias sobre comportamento, cinema, esportes e entretenimento. Este primeiro número aborda também o lançamento do Sky+ e explica as funcionalidades e características do sistema. Foi incluído um caderno destacável, com 12 páginas, dedicado ao público infantil.”

 

ENTREVISTA / RATINHO

“Eu sei ganhar dinheiro”, copyright Meio e Mensagem, 10/11/03

“Em 1997, depois de fazer sucesso com o programa policial 190 na rede paranaense CNT transmitido na capital paulista pela TV Gazeta, Carlos Roberto Massa, o Ratinho, flertou com diversas emissoras de São Paulo. Falou com Silvio Santos, mas não deu certo porque o homem do Baú lhe ofereceu um salário menor do que o que ganhava em Curitiba. Foi sondado pela Globo para fazer um programa somente para São Paulo, mas não aceitou. ?Fiquei com medo?, diz. ?E depois, de quem eu ia falar mal?? Chegou a acertar com a Bandeirantes, porém, no dia da assinatura do contrato, o negócio foi desfeito. Eduardo Lafon, falecido em 2000, na época diretor da Record, o aguardava na saída e o convenceu a trabalhar na emissora do bispo Edir Macedo, onde ficou por um ano até transferir-se para o SBT e ter, agora, segundo suas palavras, o maior salário da televisão brasileira, além de comandar um grupo que licencia marcas de alimentos, produtos para construção e ração canina. Ratinho diz que tem mais habilidade para ser apresentador do que empresário, mas isso não o impede de ser bem-sucedido nos negócios: ?Eu sei ganhar dinheiro?.

Ratinho: minha veia brincalhona tem que superar a da polêmica

Meio & Mensagem – Até pouco tempo atrás, os chamados grandes anunciantes evitavam veicular publicidade em seu programa. Alegavam que não queriam associar suas marcas aos quadros exibidos, como o das solicitações de exames de DNA para averiguação de paternidade. Recentemente, companhias como Tigre, Perdigão, Roche e Schering-Plough quebraram essa regra. Foram os anunciantes que mudaram ou foi o seu programa que mudou?

Ratinho – Meu programa sempre vendeu bem. Para mim e, acho, para o SBT, o dinheiro de uma grande empresa tem o mesmo valor do de uma pequena. A mudança foi mais em função da audiência, da necessidade de nos diferenciar. Quando comecei na TV, havia somente um programa policial. Hoje são cinco, todos fazendo a mesma coisa. Mesmo os jornalísticos matutinos começaram a explorar o assunto. Às 9h30 da noite, quando entro em cena, as pessoas já estão enjoadas de notícias policiais e de violência, até mesmo nas novelas. Estou mudando porque tenho uma veia humorística, que eu gosto mais. Depois de atingir o pico de audiência na Record e no SBT, acho que tenho de fazer aquilo que gosto na televisão. E eu gosto de fazer aquela zorra mesmo, sem violência. Só para citar um exemplo, num dos programas o Marquito (um de seus humoristas) me botou uma peruca e uma saia de índio. Conseguimos 19 pontos no Ibope e 23 no Datanexus. Isso prova que o meu público prefere as brincadeiras. Estou mudando bastante em função disso, e não dos comerciais. É lógico que fico orgulhoso de ter Tigre, Perdigão e Schering-Plough como anunciantes. Mas também fiquei feliz em anunciar Foster, que não existia e é uma marca minha, hoje a quarta ração canina mais vendida do mercado. O Brasil tem 1,3 mil marcas de café. O Café no Bule está entre as dez mais vendidas. Quando pegamos a Kolumbus (loja de móveis), ela tinha cinco lojas. Hoje tem mais de 70, e faz propaganda até na Globo.

M&M – E por que não faz mais no seu programa?

Ratinho – Vai voltar ainda neste ano. Mas ficou dois anos sem ter contrato comigo e continuou crescendo. Ela acreditou na propaganda. Acho que a grande função que o meu programa tem tido nos últimos tempos é fazer com que as pessoas acreditem na propaganda, porque ela funciona. Em julho, a cerveja Colônia teve um crescimento de 153% em relação ao mesmo mês do ano passado. Ela só faz propaganda no meu programa e disputa um nicho antes ocupado pela Schincariol, que agora está em outro patamar, com a Nova Schin. A Colônia só não cresceu mais porque é preciso adequar a capacidade de produção da fábrica, que vende tudo o que produz. Quando for inaugurada outra unidade, daremos continuidade à divulgação da marca. Mas para mim, o grande vilão que está sugando a verba antes destinada à propaganda são os hipermercados, que cobram pedágio para vender qualquer produto.

M&M – O senhor acha que a Justiça agiu corretamente ao aplicar uma suspensão no programa Domingo Legal por causa da entrevista com os falsos integrantes do grupo criminoso Primeiro Comando da Capital (PCC)?

Ratinho – Achei errado. Foi censura prévia. Se o Gugu errou, a Justiça teria de julgar o caso e aplicar as penalidades após o julgamento, não previamente.

M&M – O último ranking da campanha ?Quem financia a baixaria é contra a cidadania?, que a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados divulgou em outubro, aponta seu programa como um dos líderes em queixas. Qual sua opinião sobre esse ranking? O senhor acredita que ele afugente patrocinadores?

Ratinho – Não. Esse ranking não existe. O universo de pessoas que ele atinge é muito pequeno. Somos 170 milhões de pessoas no Brasil, e menos de 750 pessoas votaram. Na novela Malhação, uma menina de 15 anos incentiva a outra a transar com camisinha. Você está assistindo à novela das 8 com a sua mulher e a filha de 8 anos e vê a Malu Mader transando com o Thiago Lacerda. Se for para censurar, então vamos fechar a televisão, e não achar que programa popular é baixaria. A grande censura da televisão hoje é o controle remoto. Acho que a rejeição ao meu programa existia porque, num primeiro momento, quando vim para a televisão, tinha que me firmar como polêmico. E a polêmica espanta o freguês.

M&M – O senhor diria que hoje estamos diante de um Ratinho mais suave?

Ratinho – Acho que a população se acostumou comigo, e eu diminuí a polêmica. Atualmente não preciso mais ganhar audiência. Ela se consolidou. A prova é que os produtos que anunciamos, que são marcas próprias, cresceram mais de 100%, enquanto todo mundo está reclamando.

M&M – A inclusão de um quadro às quartas-feiras com cantores afastados da mídia tem algo a ver com esse intuito de diminuir a polêmica? Quais os resultados comerciais dessa estratégia?

Ratinho – Foi uma estratégia de público. Na quarta-feira tem jogo de futebol. Quem gosta de futebol? O homem. A Record e a Globo colocam futebol. Temos de passar alguma coisa para as mulheres, pois a maioria delas não gosta de futebol e pode vir para o nosso lado. O público feminino com 40 anos de idade quer ver aqueles cantores que escutava quando tinha 18 anos. Busquei essas pessoas que estão fora da mídia, mas têm fãs espalhados pelo Brasil inteiro: Márcio Greick, Benito de Paula, Luiz Ayrão e muitos outros, cujos discos venderam 1 milhão de cópias. O público deles não morreu. Tiro por mim. Quando os Pholhas foram ao programa, venderam 136 shows no País. Levar esses artistas foi uma estratégia de buscar um público que não tinha ao que assistir. Ao mesmo tempo, não deixa meu programa ser enjoativo. Em seis anos, fiz mais programas que o Fantástico, que tem 30. E a nova estratégia para o ano que vem é fazer um programa diferente por dia, em que eu use mais as pessoas e menos a mim.

M&M – Onde o senhor busca inspiração para os seus programas?

Ratinho – Eu não criei nada. Por exemplo, o quadro Portal dos Sonhos é a Porta da Esperança, do Silvio Santos, porém com menor duração, adaptado para o meu formato para não enjoar. Mas, de uma forma geral, a população ficou sabendo o que era DNA por meio do nosso programa. Hoje ele ganhou um tom mais engraçado, com uma historinha no meio para tirar o asco da violência, mas não pretendo manter o quadro. Estou mudando o programa. A minha veia brincalhona tem que superar a veia da polêmica. Não quero passar para a história como um homem polêmico, e sim como alguém que deixou a televisão alegre. Quando vou dar palestras, as pessoas gostam porque eu faço o pessoal rir. No entanto, quando fui ao MaxiMídia, em 1999, virou polêmica. O Miguel Jorge (vice-presidente de Assuntos Corporativos do Santander) fez uma colocação, meio que desvalorizando o meu programa, e faltei com o respeito. Depois, assistindo a fita, concluí que ele não queria me ofender. Eu me arrependi muito do que fiz. Era uma posição dele e eu tinha que respeitar. Ainda não achei oportunidade para pedir desculpas à ele pessoalmente. Acho que ele nem vai me receber.

M&M – Qual o perfil do público que assiste ao seu programa?

Ratinho – Temos muitos caminhoneiros, por exemplo. O primeiro programa do motorista de caminhão é o Jornal Nacional. Na seqüência, ele parte para o meu. Há muitos pedreiros e pintores também. Aliás, vamos criar uma marca de tinta, chamada Zulin.

M&M – O que determina o lançamento dessas marcas?

Ratinho – Darei o exemplo da tinta. Tem alguém interessado em lançar esse produto. Se ele for bom, mas o camarada não tiver condições de jogar essa tinta para o Brasil inteiro através da mídia nem capacidade de produção suficiente, nosso grupo participa como sócio. Entramos com cerca de 12% e ficamos com uma parte da marca.

M&M – Isso ocorre também com o Café no Bule e a Foster?

Ratinho – O Café no Bule é 100% nosso. Agora, vamos partir para a linha de produtos matinais, como margarina e bolacha, com a marca Café no Bule. Estamos criando uma marca para a hora do almoço, o Pulo do Campo. Geralmente, alguém tem uma marca mas não tem dinheiro para anunciar. Fazemos um contrato de risco com as empresas que consideramos boas, mas não têm capital de giro para crescer. Injetamos dinheiro no negócio e fazemos a propaganda. Depois elas nos pagam ou viramos sócios.

M&M – Quais os critérios para ter um parceiro nos negócios?

Ratinho – Primeiro, o produto tem que ter qualidade. Depois, verificamos se tem uma boa distribuição. Se anunciamos um produto, o consumidor precisa achá-lo nas lojas.

M&M – Quanto fatura o Grupo Carlos Massa?

Ratinho – Quatro milhões de reais por mês. Empregamos diretamente 300 funcionários e, indiretamente, 3,5 mil.

M&M – Incluindo todas essas empresas cujas marcas são licenciadas?

Ratinho – Sim. Temos até uma fábrica de sofá que eu nem anuncio. Ela emprega quase 300 pessoas diretamente.

M&M – O senhor nunca pensou em explorar a marca Ratinho?

Ratinho – Fizemos uma pesquisa e constatamos que a marca Ratinho não vende. O que vende é aquilo que o Ratinho anuncia. Acho que ninguém vai querer usar uma calça com a marca Ratinho. Temos que ser inteligentes e saber onde é o nosso limite. Não adianta anunciar relógio da Natan em meu programa porque não vai vender, como não adianta anunciar Volkswagen no programa do Jô. Quem compra Gol é quem assiste ao meu programa. Aquele que vê programas elitizados não compra Gol, e sim carro importado.

M&M – Que tipo de cuidado o senhor tem para que os produtos anunciados em seu programa não colidam com os de anunciantes do SBT?

Ratinho – O SBT é muito correto nisso. A direção da emissora nos pergunta que produtos queremos anunciar e escolhemos. Tomo o cuidado de saber se a empresa é boa, se o produto não compromete. Por exemplo, não tenho nenhum problema de anunciar um livro de plantas, porque sei que é bem-feito. Agora, livro de vidente, pode me pagar o que quiser que não anuncio, porque não acredito, assim como remédios ?milagrosos?.

M&M – Existe limite de merchandising por programa?

Ratinho – São quatro por programa. Dois meus e dois do SBT. Esse é o meu contrato com o Silvio.

M&M – O Grupo Carlos Massa já tem agência de publicidade?

Ratinho – O Bá Assumpção, da Popular, nos dá uma assessoria. Mas queremos ter uma estrutura própria quando nosso faturamento mensal alcançar R$ 5 milhões, o que deve ocorrer até julho de 2004. Aí sim vamos montar um departamento que será comandado pela Leninha (Maria Helena Marçal, atual assessora de imprensa do grupo), com uma equipe de comunicação e uma de marketing para fazer com que as nossas marcas cresçam e anunciem em outros veículos também.

M&M – A Globo aceitaria veicular anúncios desses produtos?

Ratinho – Tenho a impressão de que, se o produto for muito a minha cara, a Globo não toparia. Mas se for a ração Foster, por exemplo, acho que não haveria problema.

M&M – Quem produz o Café no Bule?

Ratinho – Eram 48 empresas. Hoje, estamos com 23 e a pretensão é ficar com seis grandes indústrias, boas parceiras, para garantir a qualidade do produto. Quando fizemos contato com a Braswey para produzir a margarina Café no Bule, o senhor Daniel, um chinês maravilhoso, de 80 anos, nos disse que só não podia fazer produto de baixa qualidade. ?Senão vou ofender o consumidor?, ele falou, e adotei esse lema. Em uma semana, vendemos 180 toneladas de margarina.

M&M – Como o senhor descobriu que tinha talento para ser empresário?

Ratinho – Acho que não sei ser empresário. Tenho que ser muito sincero. Acho que sou um camarada de televisão.

M&M – Mas o senhor demonstra ter bons conhecimentos de marketing…

Ratinho – Eu sei ganhar dinheiro. Leio muito. Por exemplo, em 2001, li na Gazeta Mercantil que o mercado de ração ia crescer 10%. Fui atrás e criei a minha marca.

M&M – Que tipo de leitura o senhor prefere?

Ratinho – Só jornal e revista. Não gosto de livros.

M&M – Como é sua rotina de leitura?

Ratinho – Às sete da manhã eu começo com o jornal Agora, para ver se tem alguma coisa que eu possa aproveitar para o meu programa. Depois pego a Folha de S. Paulo e, em seguida, o Estadão e o Diário de S. Paulo. À tarde procuro ler sobre economia e negócios, principalmente na Gazeta Mercantil. Recentemente, comecei a ler o Valor também. Mas leio só o que me interessa.

M&M – Quais são seus programas preferidos na televisão?

Ratinho – Gosto de tudo, menos de programa infantil, porque não entendo esses desenhos de japonês. Eu gostava do Nacional Kid.

M&M – Qual sua opinião sobre a qualidade da televisão brasileira?

Ratinho – Acho que ela é a mesma coisa sempre. O tempo é que mudou. Antigamente, as pessoas tinham paciência de ver um cantor ficar seis minutos cantando. Hoje, ninguém agüenta. Muda de canal. O povo gosta da conversa. Por isso fiz um espaço de um bar em meu programa. O musical em si não dá mais audiência. Tanto que ninguém tem mais musical. O Faustão hoje dá mais audiência conversando com o câmera do que colocando alguém para cantar. Entendeu? Mas é o mundo que mudou. Não a televisão. Até os reality shows já estão enjoando. Agora, há certas coisas que se perpetuam, como os concursos. O povo gosta de ver disputa.

M&M – O senhor usa pesquisa para orientar o que vai ser exibido em seu programa?

Ratinho – Não.

M&M – E não se sente escravo dos índices de audiência?

Ratinho – Não. Nem pergunto quanto é que está a audiência. Quando alguém me mostra, até comento. Mas não me preocupo. Tenho um público de 13 pontos no Ibope garantido, independentemente do que tenha a concorrência. No Datanexus são 16 pontos. Possuo um público fiel. Muita gente dizia que na Record eu fazia 20 pontos, e agora tenho 13 no SBT. Nunca fiz mais do que 12 pontos em cima de novela. O telespectador de novela só passa para o nosso programa na hora do comercial. Ele gosta de novela e não vai mudar. Quem não gosta de novela não assiste de jeito nenhum. É esse público que estou pegando.

M&M – Em seu livro biográfico, o senhor diz que quer produzir um filme no qual seria um dos atores. Como está esse projeto?

Ratinho – Ser ator, já cheguei à conclusão de que não dá, mas continuo querendo produzir um filme. Quero ganhar dinheiro com cinema, e não fazer um projeto cultural. Veja o Central do Brasil. Um filme com aquela fotografia, bonito, um elenco maravilhoso. Mas termina com todo mundo ferrado. No meu filme, o mocinho vai ganhar sempre.

M&M – Então, o projeto está engavetado?

Ratinho – Está aguardando uma brecha. Agora, não sou ator. Não sou escritor de filme. Vou lá dar palpite. E se o meu palpite não valer, eu paro o filme. Não pago.

M&M – Falando em mocinho, o senhor se inspirou em alguém para fazer seus programas? Muita gente chega a compará-lo com o Chacrinha.

Ratinho – Acho que sou parecido com o Mazzaropi, inclusive fisicamente. É só ver o filme O vendedor de lingüiça. O jeitão de caipira, de falar errado. Não sou um homem preparado para televisão. Mas, modéstia à parte, não tem na televisão brasileira alguém que se pareça mais com o povo do que o Ratinho. É por isso que eu vendo. Meu programa está todo vendido até 2004.

M&M – O senhor acredita que sua imagem passa credibilidade?

Ratinho – Minha imagem é muito parecida com a das pessoas que estão me assistindo. É como se dois compadres estivessem num bar e um dissesse paro o outro tomar uma cachacinha porque ela é boa. É assim que me sinto. Tanto que não sou visto como astro. Não sou convidado para ir ao camarote da Brahma. Não sou chamado para nenhuma festa de artista, porque não sou visto como artista.

M&M – Isso o chateia?

Ratinho – Não. Chateava num primeiro momento. Mas daí eu li a história do Cantinflas, de quem eu gosto muito. Ele era mais ou menos assim no começo. Até que chegaram à conclusão de que era um baita de um artista, e de que o Mario Moreno Reyes (nome verdadeiro de Cantinflas) era um baita de um empresário. E começaram a valorizá-lo, mas ele já estava muito velho.

M&M – O mesmo pode acontecer com o senhor?

Ratinho – Não posso ser considerado um fenômeno como o Cantinflas nem como o Mazzaropi. Eles eram gênios. Eu sou um cara comum que está dando certo na televisão por enquanto.

M&M – O senhor acha que muita gente ainda tem vergonha de admitir que assiste ao seu programa?

Ratinho – Existe uma classe no Brasil que quer ser rica, mas não é. Tem que ser pobre, mas não quer ser. Fica nesse meio. É aquele que precisa ter um carro importado nem que seja um Lada. Quem fala mal do meu programa são os intelectuais de final de semana. Isso não me incomoda. A partir do momento em que você está vencendo, não incomoda nada.

M&M – Quando o senhor deixou a Record para trabalhar no SBT, falava-se que o seu salário seria o maior do mercado. Era verdade?

Ratinho – Por razões contratuais, não posso falar quanto, mas sou o homem de maior salário do SBT e, provavelmente, da televisão brasileira. Quando o Silvio Santos me contratou, me falou que sabia que estava pagando muito caro. Mas, comigo, a Record conquistara o segundo lugar do SBT, no meu horário. No livro dos 50 anos da Record, eles me colocaram com pouco destaque pelo que fiz durante um ano lá.

M&M – O senhor considera esse fato um ressentimento da Record?

Ratinho – Mas num livro histórico não tem que ter ressentimento. Então não colocasse nenhuma menção. Respeito o ressentimento. Eles ficaram chateados porque eu saí, mas a multa foi paga.

M&M – O senhor é seduzido atualmente por outras emissoras?

Ratinho – Não, porque existe um código de ética das emissoras, de que ninguém tira ninguém até que termine o contrato. O meu vai até janeiro de 2005. Mas todos sabem que me dou muito bem com o Silvio. Eu estou ganhando o que quero ganhar no SBT. E o SBT está ganhando o que quer ganhar comigo.

M&M – O senhor tem pretensões políticas ainda?

Ratinho – Não. Eu fui um péssimo político. Eu não tenho paciência com o parlamento. Se eu fosse político, eu ia ser executivo. Mas daí eu tinha que ter paciência com o Legislativo e com o Judiciário. Eu não tenho essa paciência. Se eu mandasse uma lei para a Câmara dos Vereadores de São Paulo e ela demorasse para votar, eu ia lá brigar com todo mundo. Então não sirvo para isso. Eu sirvo para ser ditador. Se me derem a chance de ser um ditador – como Fidel Castro – no Brasil, eu topo. É comigo mesmo. Mandar sozinho. Daí sim. Ia fazer muita coisa errada, mas ia acertar pra caramba. Sou democrático, mas não sirvo para usar um cargo dentro da democracia, porque não sou a favor da barganha. Eu não faço isso. Eu gosto de fazer palhaçada na televisão.

M&M – Qual sua avaliação do governo Lula?

Ratinho – Acho que o Lula está fazendo algumas coisas certas, mas vai demorar muito para acertar. Criou muitos ministérios sem verba para tocá-los. Discuto a competência da Benedita da Silva, do José Graziano. Para conduzir o Fome Zero, tinha que pôr um tocador de obra como o Abílio Diniz, o Antônio Ermírio de Moraes ou mesmo eu, desde que nenhum deputado venha me aborrecer. Acho que o dinheiro que a Petrobras está gastando na mídia por causa de seus 50 anos poderia ser usado no Fome Zero. Daria o mesmo resultado em marketing.

M&M – Se na programação de mídia da Petrobras estivesse incluído merchandising no seu programa, o senhor não faria?

Ratinho – Faria.

M&M – Mesmo não concordando?

Ratinho – Se o SBT me mandasse fazer, faria. Sou empregado da emissora. Mas penso que o dinheiro poderia ser aplicado de forma diferente. Como eu acho um erro o Banco do Brasil patrocinar o vôlei. Tem que patrocinar partida de futebol no interior, torneio de várzea na área das fazendas, que é de onde o Banco do Brasil tira a maior parte de seu lucro. Nunca ouvi falar que agricultor joga vôlei. É por isso que eu nem tenho conta no Banco do Brasil.”