Tuesday, 10 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1317

Entrevista / Marcelo Beraba

PARAÍSO ARMADO

A história da criminalidade no Rio de Janeiro se confunde com a forma com que a imprensa a noticia. Décadas atrás, os jornalistas cariocas relatavam os fatos num estilo romanceado, praticamente transformando os bandidos em personagens de novela, numa postura que talvez tenha influenciado a glamourização do tráfico. Era possível encontrar nas redações profissionais que recebiam dinheiro e favores dos bandidos e da polícia. Depois de um saudável período de transição, a imprensa do Rio chegou aos anos 90 livre dessa imagem e retratando de forma cada vez mais audaciosa o crescimento do crime, até a tortura e execução do jornalista Tim Lopes por traficantes cariocas, em junho de 2002. Essa trajetória foi acompanhada de perto pelo carioca Marcelo Beraba, 52 anos, chefe da sucursal da Folha de S. Paulo no Rio. Beraba começou a trabalhar no Globo em 1971, na editoria de Polícia. Saiu em 1984 para a Folha, onde chegou a secretário de redação em São Paulo. De volta ao Rio, foi editor-executivo do Jornal do Brasil, passou pela TV Globo e voltou a chefiar a sucursal da Folha, onde estava quando a morte de Tim sacudiu a imprensa.

“O assassinato de Tim Lopes marca uma consciência em todos nós de que a violência ultrapassou um limite que a imprensa não imaginava”, acredita Beraba. A tortura e execução do jornalista da TV Globo provocou um terremoto entre os jornalistas. Tim ganhara o primeiro Prêmio Esso de Telejornalismo com uma reportagem sobre a venda aberta de drogas nas ruas da Rocinha, como numa feira livre. Foi capturado pelos traficantes na Vila Cruzeiro usando uma microcâmera numa reportagem sobre prostituição de menores no baile funk. Segundo a polícia, depois da tortura, os traficantes deram-lhe um golpe de espada no tórax, cortaram suas pernas e o queimaram ainda vivo dentro de pneus, o chamado “microondas”, na Favela da Grota. Antes do trauma, não era comum a discussão sobre questões de segurança e de risco de vida do jornalista, mesmo trabalhando em uma cidade conflagrada. O assassinato também levou a imprensa a rediscutir seu papel diante da complexidade da violência no Brasil e a necessidade de avançar nas investigações sobre práticas criminosas.

Em 7 de dezembro de 2002 foi fundada a Abraji (Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos), reunindo 150 profissionais de todo o país. Para presidi-la, o primeiro nome aprovado foi o de Marcelo Beraba. Ele acompanhou como poucos a evolução das editorias de polícia e cidade dos principais jornais do país. Em entrevista no seu espa&ccccedil;oso apartamento com vista panorâmica para a Lagoa Rodrigo de Freitas, criticou as políticas de segurança ? ou melhor, a falta delas ? nos governos fluminenses e apontou diferenças entre a imprensa carioca e a paulista. Ele não concorda com teses conspiratórias de que o Rio sofre o cerco da imprensa financiada pelo empresariado paulista interessado em roubar-lhe as empresas. Atribui a diferenças culturais o fato de a violência carioca ter muito mais destaque. E sentencia: se alguém estiver errado nessa história é o jornalista que não expõe as mazelas de sua cidade. É da exposição da tragédia carioca, na opinião de Beraba, que poderá sair uma solução, caso ela exista.

Como era a cobertura da violência urbana nos anos 70, quando você começou sua carreira?

Marcelo Beraba ? Os jornais do Rio sempre tiveram uma tradição grande de cobertura de cidade e polícia. Quando entrei no Globo, em 71, a polícia era separada da editoria de cidade. O Globo e o JB tinham as duas editorias fortes e separadas. Com a chegada do Evandro Carlos de Andrade e a reforma do Globo, mais adiante, fizeram uma limpeza na polícia, que era uma editoria realmente corrupta, os caras andavam armados, era uma bandidice.

Corrupta no sentido de aceitar favores?

Beraba ? Aceitava grana do jogo-do-bicho, dos delegados. Eu pessoalmente nunca assisti, mas vários colegas que estão aí até hoje, sim. Quando o Evandro assumiu, começam a fazer uma reforma grande de profissionalização. Mudam salários, fazem limpeza em várias áreas, trazem gente de fora e promovem o pessoal mais novo, que já vinha da universidade, como no meu caso. A limpeza não tirou a força da cobertura. Antes era um noticiário sensacionalista, com muita ficção, muita coisa inventada, e atendia muito aos interesses dos próprios policiais.

Como eram tratados a polícia e o traficante?

Beraba ? Nesse período não havia traficantes. Eram bandidos. A cobertura era do crime isolado e depois foi o esquadrão da morte. Eu cobri muito esquadrão da morte. Havia grandes casos de crimes isolados. Matavam alguém em Ipanema, a gente corria lá. A gente tinha tanta liberdade de escrever que era quase uma ficção. Havia páginas, laudas, de diálogos grandes, ambientação. Trabalhar era contar uma história.

Esse romanceamento pode ter sido a origem da glamourização da bandidagem, uma crítica à imprensa que depois passou a ser comum?

Beraba ? É possível. Existia o “Cara-de-Cavalo”, o “Mineirinho”, a imprensa dava um tchan. Lúcio Flávio tinha glamourização. Esses casos eram acompanhados quase que imediatamente por uma romantização, usando um personagem. O Globo e o JB tinham ótimos redatores. O Globo tinha Aguinaldo Silva, excelente redator, antes de fazer telenovela. Ele pegava alguns textos nossos e fazia cenas brasileiras para o jornal Movimento, geralmente de violência, criminalidade. Depois começou a fazer livros das histórias. A gente raramente tinha a preocupação da busca da questão social. Era a história e o desdobramento dela, quanto tempo pudesse durar. É um período de censura, em que as outras áreas do jornal eram atrofiadas, não havia economia, política. Em 74 ou 75, o Globo ressuscita a economia, criando uma editoria. A política foi mais tarde, na abertura. Enquanto isso, o peso do jornal era cidade e polícia. Quem queria melhorar, como o Globo, decidiu mudar o perfil, passou a investir em cidade, diminuindo um pouco o peso da polícia. Depois juntou polícia e cidade, já sem aquele sensacionalismo escancarado, sanguinolento. Havia uma divisão. Vários de nós nos considerávamos sérios. E tinha uns que não considerávamos sérios, gente que inventava pra cacete. Um deles, muito conhecido, era alcoólatra, coitado. Era um desespero. Para você fazer suíte (continuação da notícia original) das matérias desses jornalistas era o desespero total. Como eles não tinham esses pruridos, a grande contradição era essa: o jornal tinha se modernizado, evoluía, mas mantinha esses caras. A direção queria mudar, mas tinha um pé num jornalismo mais atrasado, segurava esse jornalismo.

A fase do sensacionalismo passou ou perdura?

Beraba ? O sensacionalismo persistiu muito tempo. O Dia, ao passar por uma reforma parecida com a do Globo, tomou um banho de loja e mudou. Hoje faz polícia completamente diferente do que fazia, e faz muito bem. Em São Paulo acho que fizeram uma coisa asséptica, limpa, sem sangue, só com a estatística, o número. No Rio é difícil fazer isso porque a gente tem a tradição de ir para a rua, subir o morro, encontrar a família. Mas temos avançado muito. Tem uma geração que melhorou. Agora, essa geração não conseguiu, no Rio, dar um salto e juntar todas as coisas, estatística, visão social, conhecimento profundo da área de segurança. Acho que isso a gente não conseguiu.

Você acha a imprensa carioca mais implacável com o Rio do que a imprensa paulista com São Paulo?

Beraba ? De jeito nenhum. A imprensa do Rio trata a miséria da cidade, na minha opinião, da maneira que deve tratar. Mostra a realidade. Acho o contrário. Quando a imprensa não pode mostrar essa miséria é que perdeu o rumo. Isso aconteceu quando houve a degradação, a especulação imobiliária no Rio, e a imprensa não podia falar. Hoje, se um cara faz um puxadinho na varanda, tem denúncia. Durante um tempão só podíamos mostrar polícia e buraco. Quando estava sumindo gente, muitos sendo torturados, desaparecendo, o esquadrão da morte, quem estava falando sobre isso? Eu não falava. Nós não podíamos falar. Isso era só codificado.

Recentemente, uma estudante foi morta num tiroteio numa estação do metrô no Rio. Foi manchete nacional. Duas semanas depois, quase da mesma forma, morreu um estudante no metrô de São Paulo. Os jornais paulistas deram pequenas notas e os do Rio nem publicaram. Por que acontece essa diferença?

Beraba ? Há vários aspectos. Um deles é a tradição diferente. A imprensa paulista, para o bem ou para o mal, nunca teve o olhar forte para a cidade. O Estadão sempre foi voltado para o exterior, até recentemente as manchetes eram internacionais. A Folha era na questão nacional. Quando a Folha se firma, nos anos 80, é na economia e principalmente na política. Ela se firma nacionalmente na cobertura das Diretas Já. Há uma discussão freqüente na Folha: por que não damos manchetes de cidade? No Estadão é mais raro ainda. No Rio, nossa tradição é de manchete de cidade, que foi sempre muito bem coberta. A cidade do JB tinha os melhores especialistas em tudo que é área e a do Globo também. A cidade, a infra-estrutura, o abastecimento de água, tudo. Outro aspecto é a geografia do Rio. Quando fui morar em São Paulo me sentia na Europa, porque da minha casa para o trabalho eu não via miséria. Quando saí de lá a miséria já era bem mais visível, mas ela está afastada, na periferia. Aqui está em todos os bairros. Um terceiro item é que as matérias do Rio publicadas nos jornais de São Paulo são feitas pelas sucursais, onde estão repórteres do Rio. É uma perspectiva de cobertura diferente da visão dos repórteres que estão em São Paulo.

As estatísticas mostram a violência alarmante em várias cidades. Foi a imprensa que tornou o Rio sinônimo de violência?

Beraba ? Em primeiro lugar, a violência no Rio é fortíssima mesmo, está na cara. Segundo, o Rio sempre teve repercussão nacional. Terceiro, os governantes fluminenses de uns 10 anos para cá puxaram essa coisa pra eles. “Olhem, eu vou acabar com essa violência…”. Então, a imprensa passou a cobrir não só os casos, mas também a política de segurança. Ficou claro que o Rio não tem política de segurança. Há uma violência desmesurada e é possível que nossa imprensa dê uma cobertura total, enquanto em outros lugares, não. A imprensa daqui cobra tudo. Quem está perdendo não é o cidadão do Rio, é o cidadão de São Paulo se lá existe uma violência com a mesma intensidade e os jornais de lá não estão cobrindo. Se a mesma coisa acontece na Paraíba e os paraibanos não estão cobrindo, eles é que perdem. Não vamos resolver esse problema diminuindo a cobertura do Rio, porque ela é que é a real, não é inventada nem omissa.

O que se discute é como cobrir, é o fato de o crime do Rio estar sempre na manchete. Isso não contribui para o esvaziamento econômico da cidade?

Beraba ? Mas e daí, pô? Eu sei lá se interfere?! Não vou raciocinar dessa maneira. Como diretor-executivo do Jornal do Brasil, responsável pela cobertura, eu não iria pensar dessa maneira. É possível que um dono de jornal, que um publisher, raciocine assim. Mas, como jornalista, se eu não mostrar como foi um fracasso a investigação da polícia no caso da Universidade Estácio de Sá, onde uma garota foi baleada dentro do campus, estarei sendo omisso, não vou estar contribuindo em nada para botar um tostão de capital estrangeiro na cidade, mas enganando os leitores, que vão acreditar que a polícia melhorou. São Paulo pode ter tido na mesma semana um caso parecido e os caras de lá não publicaram com destaque. E daí?

Não há uma motivação política nessas edições?

Beraba ? Não consigo identificar. Se a gente conseguir identificar, fazer uma denúncia do tipo “o empresariado de São Paulo arquitetou contra o Rio”, seria uma boa matéria. Mas eu passei muito tempo na Folha em cargos de decisão e nunca vi uma menção a isso. Pelo contrário. Aqui no Rio, eu botava fogo na fogueira, dizia: gente, isso é importante pra cacete, está acontecendo no Rio mas pode acontecer em São Paulo. No ano passado fui júri do Prêmio Folha. Algumas das melhores matérias foram de polícia, feitas pela Folha. E muitas delas foram escândalos monumentais que aconteceram em São Paulo e os jornais do Rio nem mencionaram. Aí é uma política de jornal. Não é verdade que os jornais de São Paulo não tenham aberto os olhos na questão policial. A Folha fez matéria, ano passado, mostrando a manipulação pela polícia paulista dos índices de violência. Na mesma época, o Garotinho manipulou os índices do Rio. Os jornais do Rio não deram a manipula&cccedil;ão dos 30 mortos a mais nas delegacias de Ribeirão Preto, mas os de São Paulo deram a manipulação do Rio. E aí?

Houve um tempo em que a imprensa subia o morro pra entrevistar bandido. Por que essa prática diminuiu?

Beraba ? Depois do Tim Lopes, os jornais diminuíram as entradas nas áreas de risco, mas há uma política de não dar voz a bandido já há muito tempo. Quanto a criar mitos, eu tenho dúvida. Não sei se, ao noticiar os crimes com destaque, existe essa transformação do criminoso em ídolo. Os veículos dão destaque à transferência do Fernandinho Beira-Mar de presídio porque o cara é poderoso mesmo. Ele foi feito poderoso pelo governo, não pela imprensa. Não tenho como medir o impacto disso, se criou mito ou não. Pode ser o contrário, que as pessoas digam “temos de melhorar essa cidade”. Se em alguns momentos a imprensa peca pelo excesso de espetacularização, em vários outros fez matérias que desmanchavam esses mitos. Além disso, ao se aproximar do crime e do criminoso, você descreve o miserê desse mundo. Às vezes a imprensa peca tentando fazer isso, mas há momentos de evolução. Eu faço um balanço positivo porque a imprensa retrata uma realidade da qual não temos como fugir, é uma besteira tentar esconder.

Tim Lopes é um divisor de águas na cobertura da violência?

Beraba ? Acho que sim. Marca uma consciência em todos nós de que a violência ultrapassou um limite que a imprensa não imaginava. O mais importante é que a cobertura da violência não só continuou como aumentou. A conseqüência nefasta é que a imprensa foi obrigada a sair do morro, das favelas. Os jornais pararam de cobrir a violência do ponto de vista do morador por pura impossibilidade de ir até ele, mas, para tentar entender a questão social por trás da violência, é preciso entrar na favela. Quem tem coragem de ir? Eu não mando repórter meu subir o morro, entrar na Maré. Nas investigações sobre a morte do Tim, a fonte de informação que sobrou foi a polícia, no máximo o Judiciário, a TV Globo e a família. Os testemunhos a gente não tem. Antigamente os fotógrafos subiam na frente dos policiais e ninguém era atingido, não éramos o alvo, o bandido não mirava na gente. E agora?

Você acha que os jornalistas passaram ser alvo porque o crime, articulado, concluiu que a imprensa é um poder a ser combatido?

Beraba ? Eles têm uma consciência maior sobre o que é a imprensa, sabem que a imprensa é mais crítica do que era, que não faz esse negócio de só ouvir uma fonte e pronto. O problema de voltar a poder investigar é uma questão séria para a imprensa carioca hoje. Acredito que em algum momento um jornalista vai conseguir investigar a morte do Tim. E, com isso, vai ficar claro se eles mataram o Tim porque era o Tim ou se matariam qualquer um.

Os jornalistas devem correr um certo risco para voltar a ter contato com a comunidade nas favelas?

Beraba ? Eu não vi ainda um caminho que substituísse a ida direta às favelas para buscar a informação. E essa ida direta eu continuo achando que tem um grau de perigo.

Devemos enfrentar esse risco?

Beraba ? Eu, como diretor da Folha de S. Paulo no Rio, acho que não.

Mas essa não é a vida do jornalista investigativo? Quando você denuncia o crime do colarinho branco não está correndo o mesmo risco?

Beraba ? É diferente. Você não está entrando na cadeia do Hildebrando Pascoal (deputado federal do Acre, cassado e preso), por exemplo. Devemos ou não continuar a subir o morro? Eu continuo respondendo: subir para quê? Qual é a matéria que justifica o risco de voltar a botar um repórter nosso num conjunto habitacional durante três ou quatro dias? Eu não nego que seja importante, mas eu acho que correr esse risco nesse momento ainda não vale.

Mas é da origem do trabalho do jornalista aproximar-se o máximo possível do fato pra mostrar…

Beraba ? Uma coisa é você fazer isso no geral, outra é você fazer num ambiente onde sabe que há uma hostilidade forte ainda. Se alguém entrar sozinho hoje na Favela Beira-Mar em Caxias tá fudido ou não? É importante, mas não vale a pena. Estamos em momento de risco. Pode ser que amanhã todo mundo se reúna e diga: Beraba, você é o último, a Folha está sendo babaca porque todo mundo está subindo o morro, vocês estão bobeando. Bom, vamos rever. Os repórteres estão doidos para subir o morro.

A gente vê o crime se infiltrando em diversas instituições, mas não é comum ouvir casos de infiltração na imprensa, com exceção de pequenos jornais do interior controlados por corruptos. Por quê?

Beraba ? No período de maior poder do jogo do bicho, tivemos essa infiltração sim. Tinha até bicheiro dono de jornal. A tese do delegado Hélio Luz é de que o único crime organizado que houve realmente foi o bicho, que entrou em todos os poderes. Tinha deputados, elegia juízes, tinha influência direta no Executivo e tinha imprensa. O tráfico, aparentemente, não tem. Pelo menos nunca ouvi falar. Eu não diria que o tráfico seja o crime organizado tal como se define. Ele tem uma coisa muito forte no varejo, que é pingado. Acho que tem um grau de organização não reconhecida por nós, mas isso é achismo. Acho que eles têm um grau de penetração e de influência, de corrupção dos poderes, que nós não conhecemos por uma incompetência nossa, falta de investigação. Nós apuramos e investigamos muita coisa na área policial, fazemos um esforço enorme para tentar entender tudo, saímos da fase do sensacionalismo, da promiscuidade, mas, se a imprensa do Rio tem um defeito, uma falha, é a falta do passo seguinte. Até a parte policial nós vamos bem, mas temos uma falha seriíssima na área política, de enriquecimento ostensivo de difícil compreensão. Os órgãos da imprensa que deveriam estar investigando não estão. Todo mundo sabe, por exemplo, que o deputado Jorge Picciani (presidente da Assembléia Legislativa) é um homem forte, foi um homem de equilíbrio em todo o governo Garotinho. Como é que só agora a gente se surpreende, além da descoberta de trabalho escravo na família dele, que ele multiplicou o patrimônio dez ou quinze vezes em pouco tempo? Como nenhum jornal fez uma investigação? Legislativo, Ministério Público, Tribunal de Contas, ninguém mexia em nada? Em Mato Grosso, Espírito Santo, interior de São Paulo e Piauí, o grande crime estourou direto, mas no Estado do Rio parece existir só Comando Vermelho, Terceiro Comando e ponto final.

Você vê solução para tanta violência no Rio?

Beraba ? Eu acho que só existe “a” solução no Rio de Janeiro, que é estrutural. É uma solução difícil porque deve mexer na situação urbana, dar a posse nos morros, tentar criar lugares melhores para uma parte da população que quer sair de lá. É preciso botar muito dinheiro na cidade, recuperar o subúrbio com o mercado imobiliário, tocar programa social, enfim, é muito difícil. Agora, há uma questão possível a curto e médio prazo: uma cúpula de polícia séria e profissional. O pior é que estamos cada vez mais longe disso.