Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Fernanda Reche

DIPLOMA EM QUESTÃO

“O diploma além da fronteira”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 26/02/03

“No próximo dia 10/03, cerca de 110 moradores de Barra do Quaraí – pequeno município que faz divisa com a Argentina e o Uruguai na fronteira oeste do RS – iniciam suas aulas no curso de Jornalismo, Propaganda e Marketing no campus da Universidad Nacional de La Plata situado em Monte Caseros, cidade argentina vizinha. O convênio foi firmado no final de novembro entre a Universidade e a Secretaria de Administração do município, com base na Lei municipal 535, de 10/0702, que declara ?cidades irmãs? aquelas que compõem a tríplice fronteira – Barra do Quaraí (Brasil), Monte Caseros (Argentina) e Bella Unión (Uruguai).

?A idéia é estimular a educação na região e, como há uma deficiência no mercado de jornalismo na fronteira, a expectativa é de que a área cresça nos próximos anos, apesar da tendência dos jovens a migrar para cidades maiores?, afirma o secretário de Administração e Planejamento do município, Hamilton Santos Rodrigues. Na cidade não há jornais, apenas duas rádios comunitárias.

Para efetivação da matrícula, os brasileiros não passaram por nenhum processo de seleção, bastava ter o ensino médio completo e inscrever-se na prefeitura de Barra do Quaraí. Dos 110 moradores da cidade que foram contemplados com o convênio, 50 são recém-formados no ensino médio pela única escola existente na cidade, que no último ano formou um total de 60 alunos. Também se matricularam para o curso na universidade gratuita vizinha estudantes de Uruguaiana, Itaqui, São Borja (RS) e Florianópolis (SC). O curso tem quatro anos de duração e no segundo ano o aluno deve optar entre jornalismo, jornalismo social ou licenciatura.

Segundo a Divisão de Assuntos Internacionais da Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação, diplomas estrangeiros de graduação podem ser revalidados por universidades públicas brasileiras que tenham cursos similares. Para exercer a profissão de jornalista na Argentina, o profissional precisa ter o diploma universitário, conforme o Consulado Argentino em Porto Alegre.

A iniciativa de parceria surgiu da própria universidade federal que, como mantém um campus em Monte Caseros, ofereceu 140 vagas do curso de jornalismo para o município brasileiro e outras tantas para a cidade uruguaia. A cidade de Barra do Quaraí foi emancipada de Uruguaiana em 1995, tem 4.016 habitantes e 1.040 km?. Como Barra do Quaraí é separada de Monte Caseros pelo rio Uruguai, a prefeitura disponibilizará transporte até o Uruguai, onde os estudantes pegarão uma balsa até o campus, totalizando 15km do município até a universidade. Outra forma de se chegar à cidade argentina é por Uruguaiana, em um trajeto de 140km. (*) Da equipe do Beminformado.com.br.”

 

MERCADO DE TRABALHO

“Perspectivas do pós-carnaval”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 28/02/03

“Centenas (quiçá milhares) de colegas vão cair na folia neste que poderíamos chamar tranqüilamente, se nos limitarmos ao nosso universo, de o Carnaval do Desemprego. Aliás, as avenidas vão certamente estar apinhadas de desempregados, subempregados e até, nos casos mais felizes, de empregados. Caso, por exemplo, de toda uma ala da Companhia Vale do Rio Doce, que estará na avenida prestigiando a escola que adotou o tema Brasil Mineral, no carnaval carioca (aliás, a escolha desses felizardos deu-se por votação direta em todas as unidades da Vale espalhadas pelo Brasil – um case de Comunicação).

Em São Paulo, uma das escolas (a Nenê de Vila Matilde) decidiu homenagear o Pasquim e convidou vários jornalistas para prestigiarem o desfile. Três deles que confirmaram participação e vão estar no carro alegórico do jornal: Audálio Dantas, Zélio Alves Pinto e Sérgio Cabral. No Rio, já tivemos dias atrás o bloco Imprensa que eu gamo, e muitos outros colegas-foliões estarão revezando-se pelas principais escolas e blocos, muitos tentando esquecer as desventuras de um mercado alquebrado, desestimulado e que não mostra qualquer sintoma de recuperação no curto prazo.

As esperanças nunca morrem, obviamente. Mas está muito difícil ter esperança e algum grau de otimismo com tantas más notícias acumuladas. Até a televisão, que vinha mantendo, bem ou mal, o nível de emprego, desabou nos últimos dias, fazendo cem novas vítimas em apenas uma semana. O próprio Comunique-se registrou as tragédias vivida por Cultura (a que mais demitiu) e SBT, e também as demissões na Record. Até a tevê Vanguarda Paulista, que a Globo recentemente vendeu para familiares do Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), entrou nessa estatística, com quatro cortes no jornalismo.

O que esperar?

Uma das mais graduadas jornalistas do País, numa conversa em off, disse já não alimentar mais esperanças da vinda do capital estrangeiro no curto e médio prazo e que a saída será mesmo uma composição interna. O quadro internacional, ela lembrou, é tão difícil quanto o que vemos no Brasil e nenhum grupo editorial nessas circunstâncias vai se aventurar em novos negócios sem estar com sua própria situação equacionada.

Esse é um aspecto importante, mas não o único e aí reside uma boa parte dos problemas que a mídia hoje enfrenta. Um outro é a queda brutal de investimentos em propaganda, algo que pode não ser apenas um sintoma da crise, mas sim um movimento sem volta. Um movimento estrutural de diversificação de investimentos, em outros segmentos do marketing de vendas (promoção, ponto de vendas, benefícios aos consumidores) e mesmo institucional e corporativo.

E se for isso mesmo?

Se for isso mesmo – e este é um exercício que todos os donos de jornais, revistas e emissoras de rádio e tevê tentam resolver – os veículos de comunicação terão de buscar alternativas de sobrevivência fora da propaganda. É aí que reside o perigo.

Mesmo com gigantescos cortes, a operação do jornalismo, qualquer que seja o veículo, é, e em tese continuará a ser, uma operação cara. Cara porque envolve custos diretos e indiretos impossíveis de desaparecer, de uma hora para outra, nesse modelo de imprensa e jornalismo consagrado pelas democracias ocidentais no Século XX, mas que pelo visto terá de ser revisto neste início de XXI.

Estamos falando de um modelo que envolve custos com salários, com os próprios meios, com a distribuição, com a logística, com encargos sociais, investimentos, treinamento, administração, divulgação, lucros etc, etc.

Um modelo, de outro lado, que do dia para a noite começou a sofrer a violenta influência de um novo meio chamado internet, que mexeu com o mundo todo, trazendo mais perguntas do que respostas, e inicialmente mais problemas do que soluções.

Um modelo de comunicação de massa que começa a ser questionado duramente pela comunicação interpessoal, e que tem como grande agente a própria web, com suas facilidades e total agilidade.

Diante disso tudo, como reagir, o que fazer, que mudanças estudar?

Uma das alternativas será induzir a sociedade a bancar essa diferença entre quanto custa a informação e quem paga a conta dessa produção. Com a publicidade pagando menos, alguém terá de pagar mais. E quanto cada cidadão estaria disposto ou teria condições de pagar? Difícil saber.

Fazer um jornalismo mais barato poderia ser a solução? Isso implicaria em pagar salários muito menores, trabalhar com equipes diminutas, investimentos idem, lucros insignificantes, qualidade (nem é bom pensar em quanto) comprometida.

Estaríamos avançando ou regredindo no tempo e no espaço? Sem recursos que garantam uma boa remuneração do capital e os investimentos em tecnologia e recursos humanos não conseguiremos produzir um bom jornalismo, dentro do sistema capitalista tradicional.

E o que então sobrará?

Sobrará fazer jornalismo atrelado a interesses. Um jornalismo manipulado por quem paga a conta. Um jornalismo desfigurado, parcial e manietado naquilo que tem de mais nobre que é a independência e o poder de crítica.

Quem tem hoje dinheiro para pagar operações tão caras? O Estado, que mesmo com recursos comprometidos manuseia orçamentos bilionários, através do seus vários poderes, as seitas religiosas (Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, que hoje é uma das grandes potências desse País, no que diz respeito à Comunicação, com emissoras de rádio e televisão e jornais espalhados por todo o território nacional), o crime organizado (com o dinheiro sujo do narcotráfico, do contrabando, dos desmanches etc.), donos de estaleiros, partidos políticos (ou políticos individualmente, como Orestes Quércia, José Sarney, Antônio Carlos Magalhães e outros, que construíram pequenos impérios de comunicação – embora esses também persigam o lucro).

Estamos, como se vê, numa sinuca de bico, sem ainda ter clareza sobre o futuro?

Uma coisa parece certa, mesmo que isso ainda produza muita urticária em dezenas e centenas de jornalistas desse Brasil afora, que sempre viram na publicidade o pior dos inimigos da independência jornalística. Se a publicidade não voltar de forma vigorosa, nossa imprensa ficará seriamente comprometida não só economicamente, mas também eticamente.

E aqui vou tomar a liberdade de utilizar um pensamento do colega Nélson Blecher, da revista Exame, que me fez refletir muito nos caminhos que estamos trilhando: a publicidade é, no fundo, uma das principais guardiãs da democracia, no Brasil e no mundo. Sem publicidade, não há jornalismo independente, sem jornalismo independente não há democracia.

Bom carnaval a todos!”

“Os jornalistas e seus direitos trabalhistas”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 28/02/03

“Jornalistas que foram demitidos ou pediram demissão e tiveram suas rescisões assinadas e seus direitos quitados devem ficar atentos. O advogado Carlos Fernando Cavalcanti de Albuquerque, que, ao longo de sua carreira vem representando jornalistas de empresas com dificuldades financeiras, sugere que os coleguinhas procurem um profissional especializado em Direito Trabalhista. ?Muitos se surpreendem quando descobrem que não é só o FGTS ou salários atrasados que têm a receber. Durante as entrevistas, eles percebem que são credores de horas extras?, diz o advogado.

Os jornalistas que procuram o escritório de Albuquerque ficam, na maioria das vezes, surpresos. ?Quem ocupa cargo de confiança não tem direito a hora extra. Mas tem gente que pensa que exerce um cargo deste, como aconteceu com um editor que nos procurou?, esclarece. Cargos de confiança, segundo a lei, são apenas os de redator-chefe, secretário de redação, subsecretário de redação, chefe e subchefe de revisão. ?Chefes de reportagem têm que receber quando passam do tempo do trabalho na redação?, aponta.

O contrato de jornalista é de cinco horas de trabalho e mais duas horas extras contratuais. ?Só que além dessas duas horas, o profissional passa ainda mais tempo trabalhando. Esse dinheiro normalmente não é depositado?. Quem também não recebe hora extra é o jornalista que trabalha única e exclusivamente fora da redação. ?Isso também não existe, já que os repórteres, que vão para as ruas, têm que voltar para escrever a matéria?.

A equiparação salarial é outro problema que muitos clientes de Albuquerque vêm enfrentando. Ele explica que muitas empresas de jornalismo estabelecem uma nomenclatura para definir cargos e que, para poder haver uma diferença de salários, o empregador tem que registrar um plano de cargos e salários. Se isso não acontecer, o valor a receber de, por exemplo, repórter A, B e C tem que ser o mesmo. ?A não ser que um empregado tenha dois anos a mais do que o outro. Aí sim, poderá haver diferença salarial.?

Quanto às empresas que contratam seus profissionais como pessoas jurídicas, o advogado diz que o vínculo empregatício continua. ?Esse tipo de contratação é, de modo geral, fraudulenta e visa mascarar uma relação de emprego, deixando de pagar os direitos trabalhistas.?

Entre os muitos clientes de Albuquerque estão demitidos e demissionários do Jornal do Brasil e da Editora Bloch.”