Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Francisco Forteza

CUBA

“Acesso a Internet é tema de programa de debate em televisão cubana”, copyright Adital, 24/01/04

“O programa diário Mesa Redonda, de uma hora e meia de duração e cujo objetivo fundamental se baseia na Baralha de Idéias iniciada há quatro anos em Cuba pelo presidente Fidel Castro, disse que a utilização desse espaço virtual universal ?continuará crescendo? para a ilha.

Em geral, a interpretação dos painelistas que participaram desse programa é que a Internet, nas condições do país, deve beneficiar com seu uso a ?toda a sociedade? e se converter ?em uma ferramenta que faça crescer o homem em conhecimento, o libere da ignorância, eleve e ajude a transformá-lo em um ser humano melhor e mais universal?, segundo um resumo dessas análises, publicado esta sexta-feira pelo jornal oficial cubano Granma.

Segundo uma das afirmações dos especialistas cubanos na Mesa Redonda, a Internet, ?nascida nos Estados Unidos como resultado de projetos militares, hoje constitui um fenômeno recente e de rápida extensão que tem um impacto tremendo no desenvolvimento do mundo atual?.

Contudo se considerou como ?um mito? que a Rede de Redes promova uma ?democratização do conhecimento? porque atualmente, ?mais de 90% dos habitantes do planeta continuam sem acesso a Internet e só 10% dos que têm conexão não vive nos países ricos da América do Norte, Europa e Ásia?, segundo dados publicados pelo espaço da televisão.

Em Cuba, de acordo com um dos painelistas, a Internet é um serviço social que abrange as redes do setor educacional que ligam os grandes centros universitários, onde alcançam professores e a grande maioria de estudantes, assim como politécnicos.

?Existem computadores em todas as escolas, até em lugares montanhosos, benefícios que também chegam à população mediante os Joven Club de Computación, com mais de 300 redes em centros de acesso público e gratuito em todos os municípios do país?, disse o Granma em sua resenha sobre a Mesa Redonda.

Contudo, se informou que profissionais no país têm acesso individual à rede, entre estes escritores, artistas, jornalistas e esportistas. Sobre o futuro, os planos cubanos se apóiam em ?um crescimento organizado e regular destas redes, o qual se vê limitado pelo lento e custoso acesso de Cuba a Internet que hoje depende, exclusivamente, da conexão via satélite.

?Assim, longe de limitar o acesso a Internet da população, se explicou, a política da Revolução é ampliá-lo e um exemplo está no mais de meio milhão de cubanos que se graduou nos cursos do Joven Club de Computación, onde uma das matérias para aprovar é, precisamente, como navegar eficientemente pela Internet?, comentou o Granma.

O tema da Internet tem sido inusitadamente tratado de maneira ampla na última semana neste país depois de anunciar para usuários individuais dessa Rede de Redes em Cuba que, para acessar à mesma, não poderão usar suas linhas telefônicas normais pagas em pesos cubanos e sim aquelas habilitadas para operar mediante pagamentos em dólares americanos.”

 

LÍNGUA PORTUGUESA

“Preconceito embutido”, copyright Jornal do Brasil, 27/01/04

“Judiar, mulato e mulata são palavras que trazem preconceitos embutidos. Nós as empregamos sem nos darmos conta da cumplicidade com os significados pejorativos. As conjunções ?mas? e ?apesar? às vezes funcionam para fixar intolerâncias, de que são exemplos ?Fulano é pobre, mas é boa pessoa? e ?Sicrana é muito bonita, apesar de gorda?.

Por que a gorda não pode ser bela? Porque, ao contrário do Renascimento, nossa época proclama a magreza e até a anorexia. O caso do preconceito contra o pobre só não é maior do que contra os negros, porque pobres e negros no Brasil são quase sinônimos.

?Pobre tem de ter um triste amor à honestidade?, assegurou João Guimarães Rosa em Grande sertão: veredas, sua obra-prima. A idéia de que pobreza e desonestidade são domínios conexos jaz na língua portuguesa há séculos.

Na tradição portuguesa era honrado quem não trabalhava. A própria origem da palavra ?trabalho? aponta para significados como castigo, sofrimento. Trabalho veio do latim ?tripalium?, instrumento de tortura, composto de três paus onde eram supliciados os condenados.

Em outras línguas neolatinas, como é o caso do francês, ?travail? (trabalho) designa também ?machine pour ferrer les chevaux? (aparelho para ferrar cavalos). E ?travailler?, além de trabalhar, tem também o significado de atormentar. E a expressão ?trabalhar de graça? é ?travailler pour le roi de Prusse? (trabalhar para o rei da Prússia). Frederico II, rei da Prússia, ao pagar seus soldados, descontava-lhes um dia de trabalho por mês. Em nossa língua, ?trabalhar para o bispo? equivale a trabalhar sem receber, expressão nascida no feudalismo, quando o clero e a nobreza impunham trabalhos periódicos sem remuneração. Era a corvéia.

Terão também os mouros contribuído para uma idéia assim pejorativa do trabalho? Afinal, eles invadiram a Península Ibérica e lá ficaram por sete séculos. Levaram o ?masbarrá?, neologismo que ainda não foi acolhido em nossa língua, espécie de rosário, em geral de 33 contas, que os senhores traziam às mãos para mostrar que não precisavam fazer nada, que outros trabalhavam por eles.

O preconceito presente em ?judiar? é mais evidente. Judiar é tratar com escárnio, com desprezo, atormentar, impor sofrimento. Judiar significa tratar outros como se fossem judeus, secularmente maltratados em Portugal nos governos dos reis católicos. E também, mudando o ponto de vista, atribuir toda e qualquer atrocidade aos judeus para justificar extorsões e perseguições de que eram vítimas.

?Mulato? e ?mulata? são outras palavras que trazem embutido sério preconceito racial. Quando surgiu a palavra ?mulato?, na primeira metade do século 16, os negros estavam escravizados, eram tratados como animais. Filhos de pais brancos e mães negras, ou de pais negros e mães brancas, foram comparados ao mulo e à mula, animais híbridos, que não se reproduzem. Foi, aliás, o que desejaram fazer e fizeram os americanos com raças tidas por inferiores, bem antes do nazismo, conforme demonstra o jornalista Edwin Black no livro A guerra contra os fracos (A Girafa, 860 páginas). Aludindo ao projeto nazista de limpeza étnica, diz um médico dos EUA em 1934: ?os alemães estão nos vencendo em nosso próprio jogo?.

?Mulata?, entretanto, entraria mais tarde para a língua portuguesa, consolidando-se no século 20, por influência do samba e respectivas escolas. O preconceito desdobrou-se nos gêneros: mulato, para o trabalho; mulata, para a diversão.

E qual o significado de embutir? Veio do francês ?emboutir?, ?meter à força?, como ensina o dicionário Aurélio. Pode designar a introdução de pedaço de madeira, pedra, metal ou preconceito.”

 

JORNAL DA IMPRENÇA

“?Indioma? riquíssimo”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 22/01/04

“O perspicaz diretor de nossa sucursal cearense, Celsinho Neto, está absolutamente convencido de que a imprensa do seu Estado anda a enriquecer o vernáculo com voracidade da qual não se tinha notícia desde os tempos do imortal José de Alencar. Por favor, leiam:

?Considerado Janistraquis:

A cabroeira das redações continua célere na missão de criar novos termos e verbos. Veja o que foi publicado numa coluna de esportes do incansável jornal O Povo: ?Para evitar a repetição de alguns episódios desagradáveis, como o que aconteceu com o zagueiro Daniel, o diretor de futebol Fernando Morais resolveu só divulgar o nome das novas contratações tricolores quando o prego estiver batido e a ponta virada.

Foi o caso, agora, do meio-campo Zada que, até ano passado, disputou o Brasileirão como titular do fraco time do Fluminense. Goleador, não é bem este o seu forte, e sim termometrar as ações da equipe?.

Arriégua! Procurei em tudo que foi dicionário esse verbo ?termometrar? e não encontrei. Cheguei a ficar com quarenta graus de febre, segundo ?termometrei?.

Janistraquis também não encontrou o miserável verbo, Celsinho, e lamenta que o jornal, ao criar esse reles neologismo, tenha desrespeitado Fernando Morais. Afinal, o escritor, candidato derrotado à imortalidade no fardão da ABL e hoje, vê-se, diretor de futebol do Fortaleza, cultiva o português castiço. Quem ainda não sabe, leia já Olga e Chatô, O Rei do Brasil.

Ô cara chato, sô!…

Na madrugada de hoje (quinta, 22/1), depois de bancar os cretinos diante da TV (afinal, perdemos mais uma vez para a Argentina), Janistraquis bocejou: ?Considerado, não é por nada, mas que cara chato é o Arnaldo César Coelho, hein?! Ao enxergar o que ninguém enxerga, o cabra mostrou mais uma vez por que, quando apitava, era chamado de juiz-ladrão…?.

Sou obrigado a concordar. Arnaldo briga o tempo todo com o replay, arvora-se em enxergar mais do que o telespectador e o próprio narrador da partida e transforma seus comentários em intoleráveis exercícios de surrealismo e prepotência, sobretudo quando é madrugada e o Brasil perde o maldito jogo.

Perdão, leitores!

Inúmeros colaboradores desta coluna reclamaram porque na semana passada, ao transcrever o texto sobre o ?curço? de jornalismo on line, matei a cobra mas não mostrei o pau. Desculpem e acrescentem à lista de favoritos o site cearense Em Off, que se dedica aos pecados e virtudes da Imprensa: http://www.geocities.com/emoffbr/em_off01.htm

Na moita…

Saiu no UOL: BBC Brasil – Ecstasy e maconha afetam a memória, diz pesquisa. Janistraquis exibiu aquela expressão desconfiada de quem acaba de ouvir uma entrevista de José Dirceu e deu de ombros: ?Considerado, minha santa mãe, que Deus a tenha, jamais fumou maconha; porém, ao morrer, com quase cem anos de idade, não se lembrava de mais nada…?.

É verdade. Conheci a mãe do Janistraquis e atesto que a velhinha jamais fumou maconha. E, se fumou escondido, não se lembrava mais.

Acabou-se o respeito!

Não sei como descobriram, porque nem eu nem Janistraquis temos o costume de andar nus por aí. Se não me falece a memória, a única vez foi em 1989, na praia de Tambaba, em João Pessoa, na exótica companhia do grande cantor e compositor Chico César. Certamente foi naquela ocasião que os espiões agiram, pois do contrário eu não teria recebido a seguinte mensagem, procedente de um tal de tubo22tubo@yahoo.com.br:

VEJA AGORA NESSE MOMENTO DEPOIMENTOS DE PESSOAS QUE AUMENTARAM O PÊNIS EM ATE 7cm EM APENAS 2 MESSES COM TÉCNICAS 100% NATURAL,MELHORE TAMBÉM O CONTROLE DA EJACULAÇÃO,SAIBA MAIS CORRIJA CURVATURAS ETC CLIQUE JÁ

Decidimos não clicar, pois idade provecta jamais combina com aventuras, mas, principalmente, porque não confiamos em fuxiqueiros analfabetos, cujo único objetivo é tentar desmoralizar o contribuinte.

Cuidado com Bela!!!

Dos arquivos implacáveis de Janistraquis, perdidinha, perdidinha na pasta nomeada ?Echos do Pan?, extraímos esta nota, acocorada sob o título Daiane dos Santos diz que teve ?premonição? da vitória:

?(…)Após a conquista, Daiane agradeceu à sua técnica pessoal, Adriana Alves, e a Oleg Ostepenko, que deixou a Ucrânia para treinar a equipe brasileira de ginástica em 2000. Daiane afirmou que teve uma premonição antes do evento no domingo: ?Bela Karolyi (ex-técnica da Romênia) tinha uma superstição de que se ela achasse uma moeda no chão, elas teriam uma boa competição. No meu caminho para a arena, achei duas moedas.?

Meu secretário havia anotado embaixo, a lápis: ?Estaria tudo muito bem se Bela Karolyi não fosse homem, romeno, naturalizado americano…?.

Pois é. Bela Lugosi, estrela de filmes de terror, também era homem, e botem homem nisso, e o futebol húngaro nos deu um magnífico treinador de futebol, Bela Gutman, que foi campeão paulista de 1957 com o São Paulo. Escalo o time campeão, só para os sãopaulinos iniciarem 2004 a pensar nas coisas boas desta vida de torcedor: Poy, De Sordi e Mauro; Sarará, Vítor e Riberto; Maurinho, Amauri, Gino, Zizinho e Canhoteiro.

Rorããããããima, sim?

O jornal Brasil Norte caiu nas mãos de nosso diretor em Brasília, Roldão Simas Filho, e, literalmente, lascou-se:

?O jornal BRASIL NORTE, de Rorãima (atenção à pronúncia certa!) tem como manchete deste último domingo: Ibama de RR declara ?guerra? a caçadores de quelônios no Baixo Rio Branco.

Êta manchete grande e sofisticada!

A maioria dos leitores do jornal seguramente não sabe que quelônios são tartarugas.

Vamos escrever mais claro??.

To make money

Daniel Sottomaior, diretor da sucursal desta coluna em São Paulo, despachou diretamente da Avenida Paulista:

?No segundo domingo de janeiro, o Estadão publicou um extenso artigo do Washington Post sobre Neil Bush, o primeiro homem da história norte-americana a ser parente próximo de dois presidentes.

Em um dado ponto, o tradutor achou por bem nos informar que em 2000 ?ele fez US$1,3 milhão?, levando muita gente a crer que o primeiro-irmão é um falsário. Esse foi o resultado da tradução literal da expressão to make money, que significa ganhar dinheiro. Parece que no Brasil nem todo mundo nota a diferença entre fazer e ganhar dinheiro…?.

É mesmo, Daniel; pouca gente nota.

Nota dez

O melhor texto da semana nasceu do talento de Elio Gaspari. Leiam e confiram o restante do texto na coluna que ele publica em O Globo:

O AeroLula e a Mbeki Airline

?Isto é viver como se aprova?, disse Juca Chaves, referindo-se a Juscelino Kubitschek, o presidente Bossa Nova. JK atravessava o país num reles quadrimotor turboélice levando consigo o sorriso do progresso, a energia de um prefeitão e o prazer de ?desfrutar da maravilha de ser o presidente do Brasil?.

Lula conseguiu ser o primeiro governante de Pindorama, desde Tomé de Souza, que não abriu um só metro de trilha asfaltada no seu primeiro ano de mandato. Progresso é coisa que falta na sua prateleira. Energia de prefeitão, nem pensar. O presidente adora aquilo que JK mais detestava: reuniões.

Depois de perseverar no estilo Duty-Free, rodando num Ômega australiano, fumando (escondido) cigarrilhas holandesas, tendo licitado roupões de algodão egípcio, Lula decidiu comprar um avião(…)?.

Errei, sim!

?ESTADÕES – O Estadão, ?com aquela mania de grandeza?, segundo diz Janistraquis, publicou a seguinte frase: ?Além de Brasília, ficaram sem eletricidade praticamente todos os Estados de Goiás e Tocantins?. Todos os Estados. Todos!?. (novembro de 1990)”