Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Globo investiu pouco

COBERTURA BUROCRÁTICA

Chico Bruno (*)

Ao passear com o controle remoto pelos muitos canais, o assinante da TV fechada tem oportunidade de analisar a quantas anda a cobertura do conflito no Iraque.

No plano dos combates armados, a superioridade numérica de equipamentos e soldados da coalizão Estados Unidos-Grã-Bretanha é flagrante, apesar de até agora não se notar nisto uma grande vantagem. No plano da informação, as forças se equivalem mas, infelizmente, nossa maior rede de televisão ? a Globo ? n&atatilde;o investiu na cobertura, pois de extra existe apenas uma equipe no Kuwait. A cobertura vem sendo feita pelos escritórios que a rede mantém nos Estados Unidos, na Inglaterra e seus correspondentes em outras cidades européias.

Quem assiste às americanas Fox News e CNN, à britânica BBC, à portuguesa RTP, à espanhola TVE, à italiana RAI, à canadense TV5 ou à alemã DW, com equipes espalhadas pelo Iraque, o Kuwait, a Jordânia, a Turquia, e ainda acompanhando as tropas da coalizão, tem a certeza de que a cobertura da Rede Globo de Televisão é muita fraca.

Até a Globo News, canal fechado de notícias da Globosat, não vem conseguindo trazer informação de qualidade sobre os acontecimentos no Iraque, haja vista que se utiliza de informações e imagens de outras redes de TV, inclusive de emissoras árabes. Em várias oportunidades os apresentadores se perdem em função da precária tradução dos eventos do conflito. Na maioria das vezes eles têm as imagens, mas não fazem idéia do que esteja se passando no palco das operações no Iraque.

Num conflito como este, os jornalistas devem estar bem atentos, pois os informes oficiais são muito tendenciosos. Nas coletivas de imprensa cada qual busca puxar a sardinha para a sua brasa. Quem está acompanhando com atenção o noticiário pode deduzir que, inicialmente, no plano da informação, americanos e britânicos tentaram fazer crer que já tinham o controle de todo o Sul do Iraque. Mas, logo após as rodadas de coletivas dos ministros iraquianos, foram obrigados a corrigir a informação.

Pelo que se pode deduzir, apesar da precariedade das coletivas, os iraquianos estão conseguindo pautar americanos e britânicos, que se vêem obrigados a correr atrás das informações iraquianas. No domingo, por exemplo, após a rede de TV árabe al-Jazira mostrar os primeiros prisioneiros americanos e, também, as buscas a dois soldados nas águas do Rio Tigre, o presidente Bush deixou a casa de campo presidencial para falar à nação nos jardins da Casa Branca.

Num conflito como este, é fundamental que os jornalistas depurem ao máximo as primeiras informações, antes de repassá-las a seus leitores, espectadores e telespectadores. Isso não está ocorrendo, principalmente com a Globo, que não investiu o suficiente para cobrir o conflito, preferindo uma cobertura burocrática usando seus escritórios internacionais. Uma pena para o telespectador que não tem poder aquisitivo para acessar os canais fechados de televisão.

(*) Jornalista