Sunday, 12 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Keila Jimenez

BALANÇO & PERSPECTIVA / TV

"Quem faturou e quem vai faturar na TV", copyright O Estado de S. Paulo, 29/12/02

"Cintos mais apertados, clima de Copa do Mundo, eleições, retomada dos games shows e mais reality shows. Não faltaram motivos para que a TV voltasse a respirar com aumento dos investimentos publicitários este ano.

Mas o suspiro foi de sobrevivência, não de alívio. A TV aberta deve fechar o ano de 2002 com um pequeno crescimento de faturamento, algo entre 5% e 10 % em relação ao ano passado. Pouco, segundo o mercado, mas bem melhor que o ano de 2001, em que os anunciantes fugiram em massa do veículo.

Copa do Mundo e reality shows são apontados como os motivos desse aumento de investimento de anunciantes. Mesmo com a Copa custando tanto à Globo – foram cerca deUS$ 220 milhões pela exclusividade das transmissões -, graças à vitória do Brasil, a emissora ao menos conseguiu pagar a conta, o que não era esperado: além do horário ingrato do evento, nenhum canal aceitou o preço imposto pela Globo para comprar seus direitos de transmissão.

Segundo o mercado, o evento em si não deu lucro, mas agregou valor para que a programação da Globo, em geral, arrebanhasse mais anunciantes. ?Tivemos um crescimento de cerca de 10 % de faturamento, em relação ao ano passado?, fala o superintendente Comercial da Globo, Octávio Florisbal. ?Mesmo assim, reduzimos nossos investimentos esse ano.?

Emissoras que correram por fora, como a Record, também conseguiram faturar com as migalhas da Copa do Mundo. Mesas-redondas e programas esportivos obtiveram um aumento de anunciantes na época do evento, impulsionando o faturamento no primeiro semestre. ?A Record teve um custo de captação de imagens da Copa muito baixo, apesar de ter recebido verba ínfima em relação à Globo, mas a receita de programas como Debate Bola e o Terceiro Tempo foi mais do que suficiente para cobrir os gastos. Logo se conclui que nossa rentabilidade com a Copa foi fantástica?, fala o superintende comercial da Record, Walter Zagari.

O executivo diz que não está feliz com o faturamento da Record este ano, mesmo com a emissora tendo crescido cerca de 18% em relação ao ano passado.

?Acredito que, se alguém do meio disser que está satisfeito com os números de 2002, não estará sendo verdadeiro?, diz ele. ?A Record fechará o ano com um faturamento de R$ 260 milhões. Porém, não vou ser hipócrita, é óbvio que gostaria que tivesse sido melhor.?

As eleições também trouxeram uma ?verbinha? extra para algumas TVs, que lucraram com seus debates e jornalísticos totalmente voltados para o tema.

?Pela primeira vez, a eleição nos trouxe bom resultado?, diz Florisbal, da Globo.

Lição de Casa – Para o vice-presidente da DM9, Paulo Queiroz, apesar da crise, da alta dólar e do clima de incerteza que rondava a eleição, as TVs fizeram sua lição de casa direitinho, para tentar fisgar os anunciantes.

?A Globo apostou na Copa, nas eleições e no sucesso de uma onda que ainda tem sobrevida, a dos reality shows?, diz Queiroz. ?A Record voltou a investir em games shows, como o Roleta Russa, reestruturou sua programação e faturou com a aposta no futebol, que voltou a ganhar espaço na emissora?, continua. ?SBT investiu na produção de novelas e também lucrou com as edições de Casa dos Artistas e seu pacote milionário de filmes.?

O superintendente comercial do SBT, Guilherme Stoliar, concorda com Queiroz, mas diz que, mesmo com esse investimento, a rede de Silvio Santos teve de rever metas. ?Esperávamos crescer 32% e conseguiremos crescer 23% este ano?, diz ele.

Para o diretor de Mídia da Talent, Paulo Stephan, 2002 foi ruim para as TVs e só saíram vivas da crise as grandes: Globo e SBT. ?Quem conseguiu o pouco dinheiro que circulava no mercado foram elas. Não sobrou nada para as pequenas.?

Otimismo – Para 2003, a perspectiva do mercado é de dias melhores. Mesmo sem eventos como Copa do Mundo ou Olimpíada, a TV deve se virar com as armas que tem: esporte e mais reality shows. Aumento de 10% do faturamento publicitário é o esperado pelas redes e agências.

Para fisgar mais verbas, Record e SBT têm a mesma aposta: futebol. ?O futebol já é uma realidade no SBT. Vamos exibir o Campeonato Paulista e a Seleção Brasileira Sub 20. Também teremos um surpresa em jornalismo no início do ano?, garante Stoliar, superintendente comercial do SBT.

?Naturalmente, eles vão ajudar a alavancar nosso faturamento.?

A emissora de Silvio Santos também aposta em um novo reality show, o Conquistador do Fim do Mundo, e em mais uma edição da Casa dos Artistas.

Zagari, da Record, acredita que 2003 será melhor. ?Teremos um núcleo de novelas de produção nacional e a transmissão do campeonato brasileiro de futebol? (cujos direitos estão ainda emperrados nas negociações com a Globo), diz ele. ?Acredito que a coisa vai melhorar.?

Queiroz, da DM9, fala que as produções devem continuar com os cintos apertados, mas também vê crescimento mais adiante.

?Os games shows e as transmissões esportivas devem ser as grandes apostas de 2003?, diz Queiroz. ?O investimento em jornalísticos também não deve ser esquecido, pois eles mostraram que dão bom resultado comercial. É por isso que o SBT está se mexendo para reativar o seu jornalismo e a Band não abre mão da qualidade do dela.?

Um pouco menos otimista, Stephan, da Talent, acredita que apenas programas com volume de clientes grande, como F1 e futebol, têm faturamento garantido para 2003. ?Se fecharmos o ano com 5% de crescimento, já será uma vitória.?"

 

VERISSIMO QUINTA E DOMINGO

"Sem fantasias", copyright O Globo, 29/12/02

"Uma vez um repórter foi me entrevistar em casa e depois escreveu que eu o recebera no bunker sem janelas onde passava o dia trabalhando. O lugar em que trabalho tem duas grandes janelas que dão para um pátio com sabiás, um dos lados tem mais janelas do que parede, mas o repórter não deixaria um simples fato interferir na sua fantasia a meu respeito, ou no lead que já tinha pronto. É fascinante descobrir nosso papel na fantasia alheia, e um pouco frustrante. Nossa vida imaginada pelos outros é sempre mais interessante do que a que vivemos, mesmo quando o que imaginam seja ruim. Quem escreve em público, por exemplo, vive se surpreendendo com as interpretações que ouve do que escreveu. Nos atribuem opiniões camufladas que não temos, segundas intenções cifradas que não pretendíamos, entrelinhas que nem sonhávamos. E não adianta você mostrar as janelas e os sabiás. Acham que são disfarces do bunker.

Tudo isso é preâmbulo para dizer que, a partir de agora, vou escrever só duas vezes por semana neste espaço e que esta é uma decisão minha e sem implicações maiores, desautorizadas todas as fantasias. Repudio a torpe insinuação de que, com o fim do governo do Fernando Henrique, eu não terei mais assunto, ou de que também estou me mudando para Paris, onde alugarei um apartamento ao lado do dele e tocarei saxofone a noite inteira. Felicidade, paz e longa vida ao Fernando Henrique, que, já escrevi sem ironia (ou outras intenções), é o melhor presidente que tivemos até hoje, apesar do seu governo. Já a torpe insinuação de que estou só querendo trabalhar menos é verdadeira. Existe uma teoria (acabo de inventá-la, portanto posso garantir que ela existe) segundo a qual devemos reorganizar nossa vida e nossa mentalidade a cada idade com números gêmeos. Assim, aos 11 você decide que o sexo oposto não é, como você sempre pensou, um estorvo; aos 22 desiste do corte de cabelo moicano, etc. E aos 66 resolvi parar um pouco. Nada, claro, que vá fazer muita diferença nas suas vidas, a sua e a da República. Como disse (mais ou menos) o Flaubert, batemos neste caldeirão rachado tentando comover as estrelas e só o que conseguimos é fazer alguns ursos dançarem – ou se irritarem. Decidi diminuir minhas batidas no caldeirão rachado.

Vou escrever às quintas e aos domingos. Nos outros dias – tará! – estarão aqui, alternadamente, o querido amigo Zuenir Ventura e o Luiz Garcia, que só não é querido amigo ainda por falta de oportunidade, dois dos melhores textos do jornalismo brasileiro. Vão aumentar, e muito, a respeitabilidade do salão. Até quinta. Agora, quero ver se presto mais atenção nesses sabiás."