Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Leila Reis

QUALIDADE NA TV

BONI & PRIOLLI

"Boni analisa perfil do fiel telespectador", copyright O Estado de S. Paulo, 3/02/01

"O perfil do telespectador brasileiro é triste, não tem nada a ver com o do europeu e do americano. A massa é desinformada, portanto, fácil de iludir. A maior parte do público não tem idéia do que está fazendo na frente da TV.

Os programas populares têm de ter qualidade, pois a TV precisa assumir sua responsabilidade social. As emissoras têm obrigação de levar educação ao povo.

Essas afirmações sugerem duas visões distintas: a primeira, reacionária, considera o telespectador médio um ser tão despreparado intelecto-culturalmente que vive à mercê de quem manda na programação, portanto, completamente manipulável. A outra parece da banda oposta, de gente que enxerga a TV como concessão pública, portanto, obrigada a cumprir os critérios éticos e culturais estabelecidos pela Constituição.

Ambas as afirmações foram feitas por Boni, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, ao jornalista Gabriel Priolli no programa TV 50 Entrevista (direção de Ney Marcondes), exibido ontem à noite pela TV Cultura. Boni que, com Walter Clark, ajudou a erguer o império Globo e inventou um ‘padrão de qualidade’ tão bem-sucedido que se tornou o ideal perseguido por redes nacionais e estrangeiras, não poderia realmente faltar em uma série que vem decupando o veículo.

Boni é tratado (não só por Gabriel) como um papa da TV e não tem o menor problema em assumir o papel do sábio disposto a compartilhar o conhecimento.

Isso é bom, afinal, o ‘todo-poderoso’ passou mais de 30 anos decidindo cada segundo que ia ao ar na Globo, incensando ou derrubando profissionais de acordo com sua cartilha de sucesso e garantindo o crescimento do gigantesco negócio da família Marinho.

Fora da operação desde 1997, Boni hoje topa pontificar sobre o que lhe ??convidam. É assim que surgem as contradições. Quem tem o telespectador em tão baixa conta não pode realmente oferecer o melhor prato, afinal, o paladar dele não é ‘educado’ o bastante para degustá-lo. Serve algo arrumadinho, desde que não seja muito complicado.

Ao conhecer a premissa, muita coisa fica clara. Por exemplo: começa a fazer sentido a rarefação de programas de boa qualidade – tais como as minisséries Os Maias, de Maria Adelaide Amaral e Luiz Fernando Carvalho (no ar) e A Muralha, as séries O Auto da Compadecida e Comédia da Vida Privada – no vídeo nosso de cada dia.

Faz sentido também o humor rasteiro (mais inteligível, segundo o cânone vigente) de um Sai de Baixo, de uma Praça É Nossa, de um Te Vi na TV, dos programas de pegadinhas. E a execrável exploração da miséria humana dos programas policiais e de auditório.

O mais engraçado, no entanto, é Boni chamar as emissoras à sua responsabilidade social neste momento, quando já não exerce nenhuma influência dentro delas. Pode ser também que, por não ter mais vínculos tão fortes com a Globo, ele se sinta mais à vontade para expressar realmente o que pensa. (Leila Reis escreve aos sábados neste espaço. E-mail: leilareis@terra.com.br)"

SILVIO SANTOS NA GLOBO

"Globo mostrará homenagem a Silvio Santos", copyright Folha de S. Paulo, 4/02/01

"A Rede Globo será obrigada a conviver com a figura de seu maior concorrente por 80 minutos no domingo de Carnaval. O motivo: a escola de samba Tradição decidiu homenagear o proprietário e apresentador do SBT, Silvio Santos, com o enredo ‘O Homem do Baú – Hoje É Domingo, É Alegria’.

No desfile, entretanto, não será visto o logotipo do SBT. Uma das razões é evitar possíveis atritos com a Globo, responsável pela transmissão do evento.

O carnavalesco da Tradição, Orlando Júnior, explica que o regulamento da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) proíbe qualquer tipo de marketing na apresentação das escolas.

‘Mostrar o símbolo significaria fazer propaganda do SBT. Nós estamos contando a história do Silvio Santos, e não da emissora. Não vem ao caso exibir a marca na avenida’, diz o carnavalesco.

Ele admite, entretanto, que a possível exibição do símbolo na avenida Marquês de Sapucaí poderia acarretar problemas com a Globo. ‘Se carregássemos o logotipo, poderíamos ter problemas não só com a Liga, mas também com a TV Globo. Mas isso não vem ao caso’, afirmou.

A assessoria de imprensa da Globo não comentou a escolha do enredo. ‘As escolas têm liberdade para escolher seus temas. É uma questão de gosto’, disse a assessora da emissora, Andréa Dotti.

Se o ‘desfile’ do logotipo do SBT na Marquês de Sapucaí acontecesse, seria a segunda vez, em menos de dois meses, que a Globo transmitiria eventos nos quais seu principal concorrente estaria sendo homenageado. Em 18 de janeiro, na final da Copa João Havelange, os jogadores do Vasco, numa provocação do dirigente Eurico Miranda, entraram em campo com a marca do SBT nas camisas.

O símbolo do concorrente não será exibido, mas a figura de Silvio Santos estará presente em mais de um carro alegórico. O carro abre-alas, por exemplo, será enfeitado com o ‘Baú da Felicidade’ e moedas com o rosto do apresentador.

A expectativa dos organizadores do desfile é que Silvio Santos aceite o convite para sair como destaque no alto do abre-alas. Mas o empresário ainda não confirmou sua presença.

Os outros sete carros alegóricos contarão a trajetória do apresentador, desde a época em que seus pais se conheceram, na Grécia, passando por seus dias de camelô até a fase em que conseguiu comprar sua própria emissora.

Eles representarão os musicais de MPB apresentados por ele em circos do Rio e seus programas como ‘Domingo no Parque’ e ‘Show do Milhão’. O último carro alegórico será a representação do Troféu Imprensa, que, na encenação, será entregue a Silvio Santos, ‘um dos maiores comunicadores do Brasil’, na opinião do carnavalesco da Tradição.

Também foram convidadas para desfilar estrelas da emissora como o apresentador Gugu Liberato, Hebe Camargo e Carlos Massa, o Ratinho. Segundo os assessores do SBT, até agora apenas Gugu Liberato já confirmou sua presença. Eles dizem, entretanto, que todos devem participar do evento.

Pelo contrato de transmissão do Carnaval, a Globo pagará cerca de R$ 8 milhões ao ano às escolas de samba até 2004. A emissora revendeu os direitos à Rede TV!, que também transmitirá o desfile."

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