Tuesday, 15 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Leonardo Cruz

MONITOR DA IMPRENSA

ASPAS

ITÁLIA: BERLUSCONI NA MIRA

"?The Economist? desqualifica Berlusconi", copyright Folha de S. Paulo, 28/04/01

"A prestigiosa revista britânica ?The Economist? publicou, nesta semana, um editorial dizendo que o empresário italiano Silvio Berlusconi ?não está em condições de governar? a Itália. O grupo Fininvest, controlado por Berlusconi, disse que processará a revista.

O empresário é o líder da coalizão de centro-direita Casa das Liberdades, que lidera as pesquisas para as eleições parlamentares italianas de 13 de maio.

O editorial da ?Economist? afirma que Berlusconi não pode se tornar primeiro-ministro ?de nenhum país? por estar envolvido em acusações de ?reciclagem de dinheiro, sonegação de impostos, ligações com a máfia e corrupção de políticos e policiais?. O texto opinativo é acompanhado de reportagem que traça a trajetória de Berlusconi, descrevendo a construção de seu império de mídia.

O Fininvest controla o grupo Midiaset, cujas três emissoras de TV detêm 43% da audiência nacional e 60% dos contratos de publicidade em televisão. Berlusconi também é sócio majoritário da maior editora italiana, a Mandadori, é dono do clube de futebol Milan e tem negócios nas áreas de telefonia e internet.

Segundo o editorial da ?Economist?, com Berlusconi como governante, surgiria na Itália ?um gigantesco conflito de interesses entre seus negócios e as questões de Estado?.

Em nota oficial, o grupo Fininvest afirmou que a última edição do semanário econômico contém ?uma série de acusações velhas? que são ?um insulto à verdade e à inteligência?. A companhia disse que irá exigir ?uma indenização proporcional à gravidade da ofensa?.

A diretora de relações públicas da ?Economist?, Eileen Ywisi, disse &aagrave; Folha que a revista não teme as ameaças. ?Sustentamos cada linha do que publicamos?, afirmou.

Os opositores de Berlusconi aproveitaram as críticas feitas pela revista econômica, uma das mais respeitadas no mundo, para atacar o líder de centro-direita. Armando Cosutta, líder do Partido dos Comunistas Italianos (PDCI), disse: ?A ?Economist? só confirmou o que temos dito há anos -Berlusconi não pode ser candidato nem na Itália nem em qualquer parte da Europa?.

Na avaliação de Goffredo Demarchis, repórter político do jornal italiano ?La Repubblica?, o editorial da ?Economist? teve ?um forte impacto na Itália, por causa do prestígio da revista?.

?Os casos levantados pela ?Economist? não são novos, já foram noticiados na Itália, mas a publicação de um editorial contra Berlusconi tem uma repercussão muito grande, já que a revista não pode ser considerada exatamente um panfleto comunista?, disse Demarchis à Folha.

A reportagem da ?Economist? relaciona os nove processos movidos contra Berlusconi na Justiça -o empresário foi condenado em primeira instância em três deles. Seus advogados recorreram das decisões, e Berlusconi evitou sua prisão.

No único caso em que o resultado final foi divulgado, sobre doações políticas ilegais, a Justiça manteve o veredicto do primeiro julgamento, mas o empresário saiu em liberdade, porque, como o processo se estendeu por muitos anos, o crime prescreveu.

Como nunca teve contra si uma sentença definitiva, Berlusconi diz ser ?vítima de perseguição de procuradores, políticos e jornalistas de esquerda?. Em sua definição, ?são pessoas que invejam? sua popularidade.

Se confirmar nas urnas seu favoritismo, o político-empresário de Milão se tornará pela segunda vez o primeiro-ministro da Itália. Em 1994, Berlusconi chegou ao poder também sustentado por uma aliança de centro-direita. Passou sete meses no posto, mas renunciou depois que a Liga Norte, um dos partidos sua base, retirou seu apoio."

"Denúncias comprometem um Berlusconi em queda", copyright Jornal do Brasil, 28/04/01

"A duas semanas das eleições que renovarão o Parlamento e darão um novo governo à Itália, dois dos mais importantes órgãos da imprensa inglesa, que jamais poderão ser acusados de comunistas nem de simpatias esquerdistas – o semanário The Economist e o diário Financial Times – desfecharam ontem um duríssimo ataque contra o cavaliere Silvio Berlusconi, proprietário de um império multimediático, que continua a ser considerado o mais provável chefe do futuro governo italiano.

Implacável, The Economist bate duro em Berlusconi no suplemento especial que a edição desta semana dedica à Itália. Abre as cinco páginas em que analisa o passado e o presente do empresário bem-sucedido, do líder político que promete o paraíso aos amigos e o inferno aos adversários e do candidato que já se proclama eleito primeiro-ministro, afirmando: ?Como a nossa pesquisa demonstra, Berlusconi não pode dirigir o governo de nenhum país, muito menos de uma das mais ricas democracias do mundo. Em qualquer democracia que se respeite, seria impensável que o homem que está na iminência de ser eleito primeiro-ministro esteja sob investigação – entre outras coisas – por reciclagem de dinheiro sujo, cumplicidade em homicídio, ligações com a máfia, evasão fiscal e corrupção de políticos, juízes e financistas. Mas o país é a Itália e o homem é Silvio Berlusconi, quase certamente o seu cidadão mais rico?.

Sem resposta – Para comprovar a boa fé com que agiu, antes de publicar os resultados de sua reportagem e concluir que Berlusconi não deveria governar país algum, a redação do semanário inglês, lido pela classe dirigente de todo o mundo, revela que lhe ofereceu a oportunidade de desmentir ou esclarecer as acusações e processos aos quais já respondeu ou deve responder. Berlusconi deixou o questionário sem respostas.

Por antecipação também, The Economist explicou aos seus leitores a ausência de sentenças definitivas de condenação de Berlusconi pela Justiça de seu país: ?Só se pode explicar com o tortuoso sistema judiciário italiano?, afirma o editorial da revista.

Outra surpresa reservada pela leitura da edição de ontem do The Economist um apelo inédito na longa história da revista e no jornalismo internacional: dirigindo-se particularmente aos seus leitores italianos, The Economist convida-os a não eleger, em 13 de maio, Silvio Berlusconi primeiro-ministro da Itália. Porque ?a sua eleição assinalaria um dia negro para a democracia italiana e para o estado de direito?.

A repercussão provocada na Itália pelo editorial e pela reportagem do The Economist foi imediata e clamorosa. Estranhamente, a primeira e mais enérgica resposta foi dada pela Fininvest, a super-holding do grupo Berlusconi, do qual o cavaliere afirma já ter se desligado completamente. Nas primeiras horas da tarde de ontem, a Fininvest distribuiu um comunicado que anunciava um processo contra a revista inglesa por seu comportamento ?tão pesadamente difamatório?. A mesma comunicação acrescentava que ?The Economist será intimado a pagar um ressarcimento proporcional à gravidade da ofensa praticada contra a imagem da própria Fininvest e do seu fundador?.

Lixo – Aos jornalistas que quiseram saber qual seria sua reação aos ataques da imprensa inglesa, Silvio Berlusconi, sem o seu costumeiro sorriso, visivelmente abatido, disse que não perderia tempo nem sujaria as mãos com o que era só lixo.

O segundo duro ataque de ontem a Silvio Berlusconi partiu de outro jornal que informa e faz a cabeça de grandes e pequenos empresários de toda a Europa, o Financial Times, de Londres.

?Se Silvio Berlusconi vencer as eleições italianas, deverá acertar contas com o conflito de interesses. Os problemas do cavaliere se iniciarão exatamente com sua vitória eleitoral. Berlusconi sempre afirmou ter-se desligado completamente de Mediasete (holding das empresas de comunicação) e nunca ter dado nem mesmo um telefonema aos dependentes daquele grupo nos últimos anos. Um comportamento que, todavia, não basta para superar o conflito de interesses. Como primeiro-ministro, Berlusconi exerceria autoridade direta sobre a rádio e a televisão do Estado (RAI). Na verdade, de um modo ou de outro, um só homem controlaria todo o sistema de informação radiotelevisiva na sexta economia do mundo. Um cenário como este não poderia ser aceito por muitos outros governos europeus. E, no fim das contas, poderia pôr em risco até mesmo as boas relações da Itália com a Europa?, sustenta o Financial Times.

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"Quatorze processos e muita ‘sorte’", copyright Jornal do Brasil, 28/04/01

São 14 os processos penais instaurados contra Berlusconi. Eis os principais:

O primeiro processo é de 1990. Por ter negado sua filiação à Loja Maçônica P2, que tentou um golpe de Estado, ele foi condenado por falso juramento. Acabou beneficiado por anistia do presidente da República. O segundo processo foi por crime de corrupção: suborno de agentes da Guarda Financeira. Condenado a dois anos e nove meses em primeira instância, Berlusconi se beneficiou da prescrição.

Por ter financiado ilegalmente o Partido Socialista liderado por Bettino Craxi, através da empresa All Iberian, Berlusconi foi em primeira instância condenado a dois anos e quatro meses. O crime caiu em prescrição. Por falsificação de balanços da Medusa Cinematográfica, de sua propriedade, foi condenado a um ano e quatro meses de prisão e beneficiado por prescrição. Por fraudes fiscais e outras irregularidades na compra de terrenos em Macherio, perto de Milão, foi em parte absolvido e em parte beneficiado pela prescrição do crime.

Por corrupção de um juiz romano em concorrência pela compra da editora Mondadori, foi beneficiado com sentença a favor do arquivamento, sentença que deve ser confirmada. Por sonegação fiscal na compra do passe de um jogador de futebol (Lentini) para o Milan, clube de sua propriedade, está sendo processado.

Denunciado por mafiosos que passaram a colaborar com a Justiça, Berlusconi está sendo investigado na Sicília e em Florença por cumplicidade em massacres.

Na Espanha, a acusação do juiz Baltasar Garzón contra Berlusconi é de fraude fiscal e violação da lei espanhola antitruste quando participava como sócio da Telecinco. Concluída a investigação, Garzón espera autorização do Parlamento Europeu para processar Berlusconi."

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"Artilharia da imprensa", copyright Jornal do Brasil, 28/04/01

"Nas últimas semanas, algumas das principais publicações da Europa e dos EUA voltaram suas baterias contra Berlusconi. A seguir, alguns trechos:

?Berlusconi não pode dirigir o governo de nenhum país, muito menos o de uma das democracias mais ricas do mundo.? (The Economist – (27/4))

?Berlusconi é uma mistura de Margaret Thatcher e Evita Peron. Não acredita que se ganhe votos falando de programas de governo.? The New York Times – (22/4)

?Se Berlusconi vencesse na Itália, tanto a TV privada como a pública terminariam sob o seu controle?. Herald Tribune (19/4), fazendo um paralelo com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, cujo governo assumiu recentemente o controle da última emissora independente do país, a NTV.

?Menos seguro de si pelas últimas pesquisas eleitorais, Berlusconi ataca a televisão estatal. Acusa a RAI de pôr-se a serviço de seus inimigos da esquerda?. Sueddeutsche Zeitung, de Munique (28/3)

?Para a Itália de hoje, Berlusconi é um espantalho como Haider [líder ultradireitista austríaco]. Sua candidatura justifica apelos como o que Noberto Bobbio e outros intelectuais divulgaram em defesa dos valores da democracia e contra a vitória das direitas?. Libération, de Paris (31/3)

?Berlusconi está um passo mais próximo da extradição para a Espanha para responder acusações de fraudes fiscais. O inquérito conduzido pelo juiz Baltasar Garzón refere-se à Telecinco, televisão espanhola que teve Berlusconi como principal acionista.? Guardian, de Londres (6/4)"

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