Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mudanças no JB, os donos da verdade e as pesquisas

ASPAS

Edição: Luiz Antonio Magalhães


Na semana que passou, destaque para reportagem da Veja Rio sobre as mudanças que estão sendo implantadas no Jornal do Brasil.

Com o título "Jornal muda de mãos para recuperar prestígio", a matéria da Vejinha carioca não apenas informa sobre as recentes modificações como faz um rápido balanço dos 110 anos de existência do jornal, período no qual o JB "deixou de ser um mero veículo de anúncios classificados para se tornar um modelo de inovações na área da imprensa com grande impacto no Rio de Janeiro e no país. Foi no JB que surgiu, no início da década de 60, o primeiro caderno cultural do Brasil, o Caderno B. O Jornal do Brasil criou modas e modismos. Foi nele que apareceram os termos mauricinho e patricinha para designar a juventude rica e bem-comportada da cidade. Foi nele também que se popularizou o uso de estrelinhas para a cotação de filmes, peças de teatro e discos. Pelo jornal passaram nomes como os poetas Carlos Drummond de Andrade e Ferreira Gullar, o cronista José Carlos de Oliveira, que ajudou a transformar o bairro de Ipanema em ícone da boemia contestadora, cartunistas como Henfil e Ziraldo, além de respeitados colunistas políticos, como Barbosa Lima Sobrinho e Carlos Castello Branco".

De acordo com a reportagem, a crise no JB começou na década de 80. "Afogado em dívidas, que atualmente beiram os 750 milhões de reais, o jornal foi perdendo importância e afinando. Deixou de ser uma espécie de bíblia política e comportamental da Zona Sul do Rio para virar um dinossauro estacionado na Avenida Brasil", diz a revista.

Na sequência, a Vejinha explica o plano de recuperação do jornal, que está em curso: "uma operação, selada em janeiro, transferiu a direção do jornal da família Nascimento Brito para o empresário Nelson Tanure, dono da Docas Investimentos S.A., grupo que atua no setor portuário, de infra-estrutura e internet, entre outros. Para viabilizar o negócio, foi criada uma nova empresa, a Companhia Brasileira de Multimídia, que arrendou o título Jornal do Brasil por sessenta anos, além de ficar responsável pela administração da Agência JB, das rádios JB e Cidade e do JB on-line. Tanure, detentor de 73% das ações da nova empresa (os 27% restantes pertencem a José Antônio do Nascimento Brito, o Josa, herdeiro da família e presidente do conselho editorial), pretende investir 100 milhões de reais no novo negócio. Para dirigir o jornal, foi contratado o jornalista Mario Sergio Conti, 46 anos, ex-diretor de redação de VEJA e autor do best-seller Notícias do Planalto, sobre o governo Collor".

A tentativa de reerguer o JB, segundo a revista, não será uma tarefa fácil. A Vejinha informa que segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC), o Jornal do Brasil vende hoje "77 mil exemplares nos dias úteis ? menos de um terço do que seus principais concorrentes, O Globo, O Dia e Extra. Nos domingos, a distância é ainda maior. O JB vende em torno de 100.000 exemplares, enquanto os três outros batem na casa dos 400.000". Além disso, o novo diretor do jornal vai encontrar "uma redação desmotivada que até o início do ano enfrentou sucessivos atrasos no pagamento dos salários".

A reestruturação, continua a reportagem, já começou: "no mês passado, 38 jornalistas, entre repórteres e editores, foram demitidos, abrindo espaço para novas contratações. Conti, a princípio, pretende levar entre quinze e vinte novos profissionais para a empresa. Entre os já convidados estão nomes como o de Ricardo Boechat, titular de uma coluna diária com seu nome em O Globo. O acordo não foi fechado. (…) Conti pretende fazer um jornal ?mais seletivo, compacto e substancioso?. A idéia é ter apenas dois cadernos diários. No primeiro ficarão as editorias de política, economia, internacional, esportes e a parte mais factual de cidade. O segundo, o Caderno B, será dedicado a cultura, moda e comportamento. O caderno de esportes passará a sair apenas às segundas-feiras. O futuro dos suplementos Casa, Estilo de Vida e Carro & Moto é incerto, e o mais provável é que sejam extintos. A Revista Domingo ainda não tem seu novo perfil definido, mas será reforçada, assim como a Revista Programa e o Caderno Idéias".

Segundo a Vejinha, até mesmo o endereço do JB pode mudar: "o prédio de nove andares onde funciona o jornal (…) também deve ser abandonado. Os novos responsáveis pelo JB procuram um local no centro da cidade para abrigar a redação.

Donos da verdade

No sábado, 31 de março, Luís Fernando Verissimo (O Globo, O Estado de S. Paulo) publicou um pequeno artigo com o título acima. No texto, o escritor aborda, com a ironia que lhe é característica, certos deslizes da mídia ?oficialista?. "?Ninguém é dono da verdade? é um truísmo inexato", começa Verissimo, provocador.

E prossegue: "neste tempo de Pensamento Único – e Pensamento Único com muito dinheiro – a verdade que chega aos noticiários, ou aos autos da nossa época, tende a também ser uma verdade única, com a clara marca dos donos. Mas, até para não desmentir as vantagens da economia de mercado que todos eles defendem, a competição funciona na grande imprensa talvez mais do que em qualquer outra área do nosso capitalismo de compadres. E já que a CPI de todas as corrupções parece que não vai sair mesmo, resta esperar que a nossa grande imprensa invista no mercado das revelações e faça a devassa que o público quer e o governo proibiu. Um torneio de furos jornalísticos – uma espécie de Copa Furunga – faria muito bem à moral do País".

"Mesmo para a imprensa mais oficialista, a competição investigativa faz sentido econômico. Veja, IstoÉ, Época e os grandes jornais sabem bem o que vale em matéria de circulação, para não falar em prestígio e auto-estima, uma bomba bem pesquisada. Para saber o que pesquisar basta seguir os leads de publicações como a Caros Amigos, ou a Carta Capital. (…) O jornal Valor, além das suas outras qualidades, vem ganhando leitores e peso com suas análises críticas e reportagens, digamos, não-alinhadas. E quem procura um suprimento constante de verdades alternativas pode procurar na Internet o site da Carta Maior, com seu boletim diário", esclarece.

Pesquisas: leitores estão atentos

Se a imprensa de modo geral adora pesquisas, a Folha de S. Paulo leva esta adoração a sério. É o jornal que mais publica análises calcadas em enquetes e pesquisas de opinião.

Na semana passada, mais precisamente no dia 29/4, uma carta publicada no Painel do Leitor da Folha revela que os leitores nem sempre aceitam bem os números que lhes são apresentados: "tenho algumas questões quanto à pesquisa Datafolha, publicada em 25/3, que mostrou que ?84% defendem CPI da corrupção?. A pesquisa ouviu 2.841 pessoas em 127 cidades. Essa amostra tem significância estatística para representar toda a população brasileira? Pelas informações que recebi de especialistas na área, a resposta é não. Seria necessário realizar um número muito maior de entrevistas. Por outro lado, a reportagem não estratifica adequadamente o grupo entrevistado, pois não informa, entre outras falhas, o número de entrevistados com segundo grau ou curso superior completo nem se ganhavam mais de 10 ou 20 salários mínimos. Trata-se, em minha opinião, de uma pesquisa leviana e vulnerável a muitas críticas, além de apresentar um texto tendencioso e nitidamente orientado para agredir o governo federal", escreveu Benemar Guimarães ao Painel.

O jornal defendeu a sua reputação e a do instituto irmão, publicando uma resposta do diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino: "a amostra da pesquisa divulgada no último domingo representa o total da população adulta do país. As entrevistas são cotadas segundo dados do IBGE e obedecem à distribuição real da população, em cada unidade da Federação. Em todas as pesquisas do Datafolha, a amostra reflete com fidelidade, o perfil do universo pesquisado". E foi só. Suficiente?

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