Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Na contramão da responsabilidade

CORREIO
BRAZILIENSE

Fernando Paulino (*)

Grande parte das teorias de responsabilidade social das empresas indica a necessidade da busca de participação dos consumidores na elaboração e construção dos produtos. Na imprensa, notadamente um serviço público, os canais devem ser continuamente expandidos. A capital federal, infelizmente, assiste a fenômeno inverso. A partir de 1995, o Correio Braziliense, atento à necessidade de aumento de sua tiragem frente à penetração em Brasília, cada vez maior à época, dos grandes periódicos paulistas e cariocas, realizou reforma gráfica e editorial buscando credibilidade e redução da dependência das pautas condicionadas às verbas governamentais.

Contudo, após sete anos de resultados e amadurecimento, o projeto adentrou o primeiro trimestre de 2003 em decadência. Depois a saída de Ricardo Noblat da direção de Redação, no fim de 2002, o jornal teve mais uma importante baixa na semana passada. Na quarta-feira, 12/3, TT Catalão foi demitido. O jornalista teve papel essencial na criação do Conselho de Leitores e do Código e do Conselho de Ética, além de editar "Imprensa", a extinta página dominical de debates relacionados à mídia. Ademais, durante sua atuação, Catalão estimulou a criação de "Desabafo" e "Correio do Brasiliense", duas colunas de grande participação dos leitores.

O episódio ilustra um triste retorno às práticas anteriores a 1995. Nos primeiros 75 dias de 2003, por exemplo, a cobertura dada pelo jornal às acusações de irregularidades no último pleito eleitoral foi menor do que o espaço dedicado ao assunto por veículos como Época, TV Globo, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.

Resta a dúvida se o retorno às ações do passado também se demonstrará na redução (de credibilidade) dos seus leitores. O reflexo das medidas já começa a ser sentido na insatisfação de parte do público com a redução dos canais de comunicação com o jornal. Um Correio na contramão de sua responsabilidade social.

(*) Jornalista e mestre em Comunicação (UnB), pesquisa modelos de conselhos de comunicação social e outras formas de assegurar a responsabilidade social da mídia

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