Thursday, 09 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Ángeles Espinosa

COBERTURA DE GUERRA

“O governo iraquiano controla os dois servidores de acesso à rede”, copyright UOL / El País (www.uol.com.br), 29/03/03

“?Seu acesso foi negado. Consulte seu provedor de Internet.? O aviso deixa claro para o usuário que tentou entrar em um dos muitos sites proibidos: as páginas de qualquer grupo de oposição, do Google ou simplesmente uma conta de e-mail pessoal que não esteja registrada numa das duas empresas autorizadas.

Isso é o Iraque, e combina com a falta de liberdades que caracteriza o país -também não estão permitidos os chats nem os jogos on-line. Bagdá perdeu de antemão a guerra na rede.

Cartazes advertem isso claramente em qualquer dos cerca de 30 centros de Internet distribuídos por Bagdá, que apesar de estarem redigidos em árabe utilizam a palavra inglesa ?free mail? para se referir ao correio eletrônico gratuito. Como se o perigo estivesse no ?free?, uma palavra que combina mal com o sistema de controle centralizado do regime. Ali, em silêncio, e com certo ar de solenidade que contrasta com o ambiente informal dos cybercafés de qualquer outro lugar do mundo, alguns poucos iraquianos mantêm contato com o exterior.

?Venho ver meu correio e enviar uma mensagem para meu primo que vive nos Estados Unidos?, conta Ahmed, no centro de Internet da rua Saadun. O acesso é lento e o sistema cai com freqüência, mas os iraquianos, que não conhecem as linhas ADSL, mostram-se pacientes. A freqüência é principalmente masculina. Homens jovens, entre 25 e 35 anos. Só no centro da rua 28 de Abril vejo de vez em quando alguma mulher. Talvez ajude o fato de que em um dos turnos a encarregada é uma mulher.

?É muito caro?, explica Afrag, uma especialista em computadores que não pode ter uma conexão em casa. Enviar ou receber uma mensagem no centro custa 500 dinares (20 centavos de euro). Uma hora de navegação com acesso à própria conta de correio, o dobro -uma fortuna para a maioria dos 24 milhões de pobres iraquianos.

Com salários que no melhor dos casos chegam a 30 euros por mês (cerca de R$ 100), são poucas as famílias que têm computador em casa. Os 500 mil dinares que custa a conexão mais barata à Internet representam um gasto luxuoso, ao alcance de poucos privilegiados, apesar de o custo da chamada local ser quase desprezível.

A maioria das empresas que necessitam desse instrumento para suas comunicações preferem contratar somente o serviço de correio eletrônico, uma possibilidade que sai por 100 mil dinares e uma grande papelada do Ministério das Comunicações.

Sem acesso ao Hotmail, Yahoo ou qualquer outro serviço de correio gratuitos conhecidos, os iraquianos não têm remédio senão abrir uma conta na uruklink.net ou warkaa.net, os dois provedores autorizados e controlados pelo regime.

?Lêem meu correio?

?Tenho certeza de que lêem meu correio?, afirma A. S., um engenheiro que tem amigos no exterior. Embora alguns aficionados se aventurem a romper os cadeados do sistema, trata-se de um jogo perigoso que em público jamais admitirão praticar.

O próprio conceito da Internet, uma rede aberta e acessível a todo mundo, não se enquadra aos princípios do regime iraquiano, que luta inutilmente para que nada escape a seu controle. As situações chegam a ser patéticas. Na sala de Internet que há alguns meses funcionava no centro de imprensa, uma operadora intermediava as mensagens dos jornalistas.

Nesse contexto, parece quase uma piada que o Ministério das Relações Exteriores tenha convidado em fevereiro os visitantes de seu site a enviar ?perguntas sobre as relações entre o Iraque e os inspetores da ONU?. A julgar por algumas tentativas, ou ele recebeu muitas consultas ou as respostas são elaboradas sem pressa. A caixa de entrada desta correspondente não mostra nenhuma mensagem do remetente foreign@uruklink.net.

A medida, assim como as páginas bilíngües árabe-inglês dos meios de comunicação iraquianos, é sem dúvida mais voltada para o exterior que para os iraquianos. Mas mesmo nisso o governo de Bagdá está com a batalha perdida. Seus sites são modestos e lentos. A página do jornal ?Babil?, o mais envolvido na Internet, oferece o conteúdo do jornal com dois dias de atraso. E na guerra virtual também a superioridade tecnológica do rival é total.

O primeiro assalto começou meses atrás, quando os Estados Unidos lançaram uma campanha de envio de mensagens eletrônicas para funcionários iraquianos. Pediam-lhes que revelassem onde estavam escondidas as armas de destruição maciça e que desobedecessem as ordens de usá-las. Imediatamente o sistema foi bloqueado. Quando voltou a funcionar, alguns dias depois, haviam reforçado os filtros.

As mensagens que saem podem demorar algumas horas para chegar ao destinatário, e as que entram, até um dia. Alguns dias atrás um hacker conseguiu entrar na página da agência oficial de notícias INA e desviar o link do canal por satélite da televisão iraquiana para um lugar alternativo, no qual se incitava os iraquianos a? tirar Saddam da presidência?. O site, que oferecia links para a Casa Branca e a rede de televisão Fox, prometia aos iraquianos: ?O povo de Deus na terra prometida está a caminho para salvá-los do desespero e da angústia?. Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves”

“Al Jazeera é expulsa da Bolsa de NY”, copyright Folha de S. Paulo, 26/03/03

“A Bolsa de Valores de Nova York retirou as credenciais de dois repórteres da rede de TV árabe Al Jazeera, do Qatar.

A explicação oficial da instituição é que precisa reduzir o número de pessoas com acesso a seus prédios nos dias de pregão. Disse que já precisou negar credenciais a jornalistas no passado e que a cobertura sistemática e focada no mercado financeiro foi o critério usado para a decisão, que afetou somente a Al Jazeera.

A Folha apurou, porém, que a expulsão, decidida na manhã de segunda-feira, foi causada pela transmissão da emissora no domingo das imagens de americanos mortos e capturados no Iraque. Nos EUA, essas imagens pouco foram mostradas, a pedido do Pentágono.

O escritório de Washington da Al Jazeera divulgou nota dizendo que lamenta a decisão e atribuindo a expulsão à sua cobertura da guerra no Iraque. A audiência da TV, que tem sede no Qatar, está concentrada na população árabe.

A perda das credenciais não foi o único revés da emissora. A versão em inglês de seu site na internet, lançada anteontem, foi retirada do ar por causa da ação de hackers. A versão original, em árabe, também foi atacada.

A TV tentou ainda obter credencial ontem na bolsa Nasdaq (de tecnologia), sem sucesso.

As barreiras levantadas à Al Jazeera são o mais claro, mas não o único exemplo da polarização que tomou conta da população dos EUA por causa da guerra. Há bem mais americanos apoiando a ação militar (acima de 70%), mas o que mais chama a atenção é o relacionamento entre os grupos pró e contra a guerra ou quem seja visto como estando em um dos dois lados -caso da Al Jazeera, acusada de inflamar a opinião pública árabe com imagens fortes de civis iraquianos mortos e militares americanos humilhados ao serem capturados.

Os ressentimentos afloram nos mais variados lugares. Na segunda-feira à noite, por exemplo, a TV americana transmitia o concurso de Miss EUA. O apresentador dirigiu uma pergunta à candidata do Texas, terra de George W. Bush: ?O que você acha das celebridades que se manifestam contra a guerra??. Resposta: ?Acho que elas não deveriam fazer isso. É um momento em que temos que apoiar o nosso presidente?.

Ou na festa do Oscar, no domingo, em Los Angeles. Michael Moore, após ganhar o Oscar de melhor documentário, aproveitou o para criticar a guerra e Bush. Parte do público aplaudiu, outro tanto vaiou. A organização nem esperou Moore acabar o discurso para subir a música.

O atrito, porém, espalha calor para os dois lados. No mesmo domingo, por exemplo, um grupo de nova-iorquinos organizou um evento para apoiar a ação militar no Iraque. No meio da manifestação, a estudante Ashley Hope, 26, dizia já ter perdido amigos por causa de sua postura em relação ao conflito no Iraque.

Do mesmo ?lado? que ela, um dos principais colunistas do tablóide ?New York Post? sugeriu na última semana que seus leitores deveriam boicotar shows, filmes e peças de artistas que estivessem defendendo a guerra.

Quem sofreu foi o trio texano Dixie Chicks. Ele foi tirado do ar em várias rádios pelo país após criticar Bush e teve discos esmagados com trator na Louisiana.”

***

“Imprensa americana acrítica é vitória de Rumsfeld, diz Gay Talese”, copyright Folha de S. Paulo, 31/03/03

“Para o escritor e jornalista Gay Talese, o Pentágono alcançou o seu objetivo: barrou eventuais críticas da mídia americana.

?Eles estão ?embedded?, ironiza Talese, 71, numa referência ao termo em inglês que designa os jornalistas que viajam junto com as tropas americanas, uma estratégia de cobertura colocada em ação nesta guerra.

Talese é autor do livro ?O Reino e o Poder?, que conta a história e os bastidores do jornal ?The New York Times?, onde trabalhou. Ele concedeu uma rapidíssima entrevista à Folha na noite da última quinta-feira, após terminar uma sessão de autógrafos em um livraria de Nova York.

Folha – Gostaria de falar sobre a cobertura que a imprensa americana faz da guerra….

Gay Talese – Eu esperava mais reportagens como as que havia na época do Vietnã, como o que fazia, por exemplo, David Halberstam.

Não gosto do jeito que mostram hoje, acho que deveria ser feito de maneira diferente. O jornalismo está ?embedded? [a tradução mais próxima seria algo como ?embutidos?.

Folha – Aliás, o que sr. acha desse termo, ?embedded??

Talese – [Balança a cabeça e agita a mão em sinal de reprovação.? Acho que Rumsfeld conseguiu o que ele queria. Mas ainda penso que as coisas podem melhorar mais para a frente.

Folha – Sobre a posição da mídia dos EUA em relação a esta guerra: mesmo os ingleses têm dito que estão mais críticos que os americanos. O sr. concorda?

Talese – Digo uma coisa: mesmo estando aqui nos EUA, eu hoje vejo apenas a BBC. Não assisto à TV americana.”

“Guerra de informação opõe governo à mídia”, copyright Folha de S. Paulo, 1/04/03

“A demissão de Peter Arnett da NBC foi o grande episódio jornalístico de ontem. Ele deu uma entrevista à TV iraquiana.

Mas o que ele disse na entrevista está em boa parte da mídia mundial desde sexta. A saber: a coalizão anglo-americana não contava esbarrar numa resistência militar tão predisposta e em civis (Basra, Nassiriah) que se sentiram agredidos pela ?invasão? estrangeira.

A guerra da informação se deslocou, assim, para dentro dos EUA e do Reino Unido. A revista ?Time?, insuspeita no establishment norte-americano, qualifica zombeteiramente de ?teólogos? dirigentes como secretário da Defesa Donald Rumsfeld e o chefe do Estado Maior Richard Myers.

E foi justamente para convencer o público interno de que não errou ao arquitetar a guerra que, no domingo, Rumsfeld deu sucessivas entrevistas na televisão.

Ele havia, na sexta à noite, acusado a Síria de fornecer ao Iraque aparelhos de fabricação russa que permitem enxergar à noite. Mas ontem de manhã, em seu briefing no Qatar, o general Vincent Brooks disse ?desconhecer? que o inimigo tenha esse equipamento.

Não foi o único desencontro do dia. Brooks mostrou o filme de um míssil destruindo um avião iraquiano na cabeceira de uma pista. Pela silhueta da aeronave, um especialista entrevistado pela BBC disse se tratar quase que certamente de sucata. Seria um avião inglês comprado pelo rei do Iraque no final dos anos 50.

Foi também uma segunda-feira em que se falou mais uma vez em armas químicas. Os norte-americanos disseram ter descoberto dispositivos de proteção contra elas, num arsenal inimigo em Nassiriah. Cabe lembrar que a guerra começou porque o presidente George W. Bush quis ?desarmar? Saddam de artefatos de destruição em massa. Que ainda não foram encontrados.

Se o forem, segundo ?The New York Times?, França e Rússia pediram para que a ONU se encarregasse de verificar a origem dessas supostas armas. Maneira de dizer que os norte-americanos podem blefar e atribuir a Saddam ilegalidades que eles próprios teriam introduzido no Iraque.

Um general israelense, Yossi Kuperwasser, disse ontem que Saddam pode ter transferido para a Síria esses arsenais proibidos.

E com isso a Síria volta à berlinda. Colin Powell, secretário de Estado, acusou aquele país, domingo à noite, de ?dar apoio ao terrorismo?. Pode ter sido uma referência aos terroristas palestinos. Mas ainda ontem foi o Al Fatah, grupo de Yasser Arafat, presidente da Autoridade Nacional Palestina, que pediu autorização à Síria para que voluntários transitem por seu território para poderem combater no Iraque.

Há por fim as cifras contraditórias sobre baixas entre os beligerantes. Pelos cálculos da Reuters, morreram até agora 46 norte-americanos, e 17 estão desaparecidos. O Reino Unido tem 25 mortos, apenas cinco em combates. Os demais morreram em acidentes ou pelo ?fogo amigo?.

O ministro iraquiano da Informação, Mohammad Al Sahhaf, disse ontem que em 36 horas foram mortos 43 soldados inimigos. O governo de Saddam diz também que 600 civis já morreram, e 4.500 ficaram feridos.

O secretário britânico da Defesa, Geoff Hoon, disse que são 8.000 os prisioneiros de guerra iraquianos. Segundo ele, nenhum político importante ou militar de alta patente até agora se rendeu ou passou para o outro lado.”

***

“Informações sobre vítimas são díspares e servem de munição”, copyright Folha de S. Paulo, 26/03/03

“É provável que jamais se saiba com precisão o número de pessoas até agora mortas na guerra que norte-americanos e britânicos desencadearam no Iraque. Mas as informações sobre o número de vítimas são díspares e servem de munição psicológica para os dois lados.

A cifra mais elevada foi dada ontem pelo porta-voz da 3? Divisão de Infantaria do Exército norte-americano, Kenneth Preston. Ele disse que nos últimos dois dias foram mortos 500 iraquianos, apenas nos combates pelo controle do sudeste do país.

É curioso que uma informação tão pesada não tenha saído dos ministérios da Defesa, em Londres e Washington, ou no mínimo do general Tommy Franks, comandante das operações anglo-americanas no Iraque.

De qualquer modo, foi o número que circulou. Em contraposição, Mohammed Saeed al-Sahaf, ministro iraquiano da Informação, disse que em 24 horas as forças inimigas mataram 16 militares locais e feriram outros 95.

O descompasso entre as duas cifras é imenso, mesmo em se tratando de baixas em períodos e amplitudes regionais diferentes.

Em verdade, numa guerra, a contagem de cadáveres do outro lado não é prioritária e é bastante difícil. Não há em campo organismos internacionais independentes que possam dar cifras isentas.

A Cruz Vermelha, por exemplo, não tem essa totalização. Diz que sua prioridade é assistir sobreviventes e não contabilizar aqueles que morreram.

Uma das agências de notícias, a Reuters, tem feito suas contas, mas com base apenas em informações oficiais. Ela chegou ontem à conclusão de que morreram até agora 23 norte-americanos e 36 britânicos (há dois outros desaparecidos), entre acidentados e abatidos pelo inimigo.

Segundo a agência, morreram até agora dois jornalistas e dois outros estão desaparecidos. Entre os civis de nacionalidades não beligerantes há a morte de um motorista de táxi jordaniano e de cinco ocupantes de um ônibus sírio atingido por míssil.

Os civis são sempre mais difíceis de serem contabilizados. Há uma ONG criada por Marc Herold, professor da universidade norte-americana de New Hampshire, com site na internet (www.iraqbodycount.org). Ela ontem informava que morreram no mínimo 199 e no máximo 278 civis, baseando-se em 37 fontes governamentais e jornalísticas, todas ocidentais (excetuada a TV árabe Al-Jazeera, do Qatar, no golfo Pérsico).

Uma outra ONG, a MWAW, criada em Londres por jornalistas, relata de Bagdá que quatro mísseis que caíram ontem de manhã mataram cinco civis.”

***

“Mídia americana muda previsões”, copyright Folha de S. Paulo, 29/03/03

“Parte da mídia acordou e percebeu que não era a tempestade de areia, mas a resistência dos iraquianos, que retardava o cerco anglo-americano a Bagdá.

Ainda na quinta-feira o secretário norte-americano da Defesa, Donald Rumsfeld, afirmava-se ?impressionado? com o avanço de suas tropas. Era uma postura otimista. O almirante britânico Michael Boyce, com rumo idêntico, dizia que a investida só dependia da melhora do tempo.

Ontem, no entanto, entrevistado pelo ?The New York Times?, o general americano William Wallace, comandante das forças terrestres, disse de modo eufêmico que ?o inimigo está lutando de um jeito diferente do das nossas simulações?. Citou como componente de surpresa a agressividade das forças paramilitares.

Com uma abordagem mais direta, o site da BBC disse que está em questão a doutrina Rumsfeld elaborada para a guerra. Segundo ela, uma força-tarefa relativamente reduzida, mas com ampla superioridade tecnológica, levaria ao colapso militar do inimigo e estimularia o levantamento da população contra Saddam Hussein.

Era também o que pensava o vice-presidente Dick Cheney, homem bastante influente no círculo do poder norte-americano. A guerra, disse ele há dias, seria ?relativamente breve?.

Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca, recuava ontem do otimismo moderado que manifestou nos primeiros dias de combate. ?Sempre dissemos que os confrontos poderiam ser demorados e difíceis,? afirmou.

Na quinta, o ?The New York Times? já dizia que não se confirmava a previsão oficial de que os iraquianos estavam desmotivados para guerrear e a população civil receberia as forças anglo-americanas ?com flores?.

?Meus superiores disseram que haveria pouca ou nenhuma resistência?, disse o cabo norte-americano Joshua Menard, ferido e já transferido para uma base norte-americana na Alemanha.

Tamanho da coalizão

Ainda entre os ingredientes da guerra da informação: o presidente George W. Bush disse anteontem em Camp David que ?a coalizão que agora reunimos é maior que a que tínhamos em 1991, em termos de número de países participantes.?

Vejamos. Na Guerra do Golfo, eram 28 os países que se juntaram contra o Iraque, entre eles Síria, França, Alemanha e até Argentina. Praticamente todos tinham condições de entrar em combate. Vizinhos árabes do Iraque deram bom suporte logístico.

Agora, segundo reportagem quase irônica de terça-feira no ?The Washington Post?, alguns dos aliados não têm sequer forças militares, como Palau, Costa Rica, Islândia, Ilhas Marshall e Micronésia. Entre os quase 50 apoiadores nominais da iniciativa anglo-americana há o Marrocos, monarquia árabe que não mandou soldados, mas ofereceu 2.000 macacos para testarem a existência de minas enterradas.

Outro tópico de controvérsia está na situação de Nassiriah, cidade que os norte-americanos anunciaram sábado ter tomado e pela qual continuavam a combater ontem à noite. A propósito, o jornal ?El País? cita um comentarista do canal britânico Sky News, que se disse enfastiado pela quantidade de despachos que recebeu com a informação de que Nassiriah não estava mais nas mãos da ditadura de Saddam.

Outra incoerência, desta vez dentro do Reino Unido: Tony Blair disse anteontem que dois dos soldados britânicos foram ?executados? por tropas de Saddam. O jornal ?The Guardian? noticia, no entanto, que familiares de um desses militares fora informada pelas autoridades de que ele morrera em combate. A diferença é mais que uma sutileza.

Por fim, Jean-Pierre Raffarin, primeiro-ministro francês, disse que a guerra estava sendo ?tão sangrenta? quanto as demais do século 20?. A França é adversária dos EUA no campo diplomático e fará tudo para atrapalhar. Unid Mubarak, ministro iraquiano da Saúde, foi no mesmo sentido: são tantos os feridos civis que os hospitais das grandes cidades correm o risco de colapso.

Essa versão é negada pela Cruz Vermelha. O presidente da seção francesa, em debate no canal TV5, disse estar surpreso com os relatos de que eram mínimos os danos físicos à população civil, tanto que permanecia engavetado o plano de reforço estrangeiro das equipes de médicos que atuam nos hospitais iraquianos.”