IMPRENSA & GOVERNO DE TRANSIÇÃO
Os partidos estão se reposicionando, os políticos estão se reposicionando, os grandes lobbies estão se reposicionando. Nada de novo ? por isso são partidos, políticos, lobbies.
Mas a imprensa precisa realmente reposicionar-se?
O poder é transitório e volátil; aqueles que lidam com o poder precisam agarrar todas as oportunidades. É a sua missão, paranóia, obsessão ou o que for. Mas a imprensa é uma instituição com compromissos permanentes, em defesa das causas públicas imutáveis. Razão pela qual entram governos e saem governos mas não pode alterar-se o compromisso jornalístico de informar e buscar a verdade.
É uma questão retrospectiva e prospectiva. Não envolve apenas o futuro (o governo que assume em 1? de janeiro) mas tem muito a ver com o passado (o governo que estendeu-se ao longo dos dois últimos mandatos).
Este intermezzo deveria estar sendo aproveitado pelas direções dos grandes veículos para rever o que fizeram desde 1994. Com os recursos oferecidos pela tecnologia à consulta de coleções antigas, é uma sopa. Pode requerer algum tempo ? melhor assim: fazem-se menos reuniões intermináveis para discutir coisa nenhuma e investe-se mais em trabalho de campo.
Antes de atacar, defender ou assumir a balela do tal "acompanhamento crítico" no tocante à nova equipe de governo, os grandes veículos precisam ver como se comportaram no passado.
** Houve oposição sistemática?
** Houve partidarização do noticiário?
** Conseguiu-se impedir a contaminação do material informativo pelas idiossincrasias particulares?
** Praticou-se o canibalismo denuncista?
** Controlou-se a tentação de participar do estouro da manada?
** Interesses empresariais puderam ser barrados por meio da cobertura eqüidistante (remember privatizações das teles)?
** Os lobbies (institucionais ou individuais) conseguiram enfiar nos grandes veículos matéria de seu interesse?
** ACM e Sarney, para citar apenas os mais ostensivos, conseguiram controlar em seu benefício o fluxo das informações?
** A arrogância e a presunção foram mantidas à distância na tomada de decisões editoriais?
Outros decálogos podem ser acrescentados ao rol de questionamentos. Perguntas são bem-vindas. As respostas, mais ainda.