ENTREVISTA / MILTON NEVES
Claudio Julio Tognolli
Seus amigos de rádio, sabedores de seu ego inflamado, o chamam de "Deus" ou de James Woods (em referência ao grisalho ator norte-americano). Seus detratores, todos cronistas esportivos também, o alcunharam de "Abominável Milton das Neves".
O apresentador Milton Neves, há trinta anos na Rádio Jovem Pan e agora na TV Record, considera-se mesmo "um vaidoso" e não vê problema em ter ficado rico com a agência de publicidade que montou, a MN.
Depois da polêmica confissão de que ele mesmo indicou Felipão ao cargo da técnico da Seleção Brasileira, numa conversa mantida com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, Milton Neves passou a frequentar a mídia com assiduidade ? desta vez, como personagem. Recebeu críticas do apresentador da ESPN, José Trajano. E não gostou delas a ponto de levar o caso aos tribunais ? de resto, como já fizera com outro cronista esportivo, Roberto Avallone ("mas hoje somos amigos de novo", diz).
Milton Neves recebeu o Observatório em seu escritório, na avenida Paulista, por uma hora. Falou de seus negócios e do que pensa do jornalismo esportivo. Teceu uma, por assim dizer, petição de princípios da ética que defende. E fez um pedido, sobre a acusação de que teria se beneficiado com a indicação de Felipão:"Peço de joelhos que a grande imprensa investigue essa denúncia contra mim. Ao final dessa investigação policial judicial, nós teremos um Manual de Redação".
Sua entrevista:
O que a mídia esportiva tem de errado, incluindo nisso um auto-julgamento?
Milton Neves ? Isso, na verdade, é um tema para simpósio. Mas, resumindo, é o seguinte: o problema da crônica esportiva (hoje não temos uma crônica esportiva em essência, mas uma crônica futebolística, por sinal a melhor do mundo) é que ela é tudo na primeira pessoa. Você nunca diz por exemplo, da revista Veja, um sinônimo de competência na minha opinião, sobre quais os "ídolos populares" dela: não tem. Porque são profissionais "secretos" que ocupam as editorias, como na IstoÉ, Época, como no Estadão, como no Globo, na Folha. São veículos que não têm um jornalista, digamos, estrela. São profissionais nota 10 com imenso sucesso de crítica, mas não de público. Você tem pessoas não famosas ocupando postos de destaque, mas na crônica futebolística nós somos o "Eu". As pessoas dizem "O melhor é o Galvão Bueno, ou o Luciano do Valle, ou o Milton Neves, ou o Juca Kfouri". Na crônica esportiva é a pessoa, é o individual, enquanto que nessas grandes publicações nós não temos isso, o que vale ali é o veículo. É o Estadão que é forte, é a Veja que é forte, é a Folha que é forte. Então, no caso da crônica esportiva, como você trata tudo na primeira pessoa, aí costuma-se exacerbar, ferir suscetibilidades, a vaidade. Eu também sou uma pessoa vaidosa, entendo que a ausência de ambição e vaidade iniba o crescimento profissional em qualquer setor de atividade, entendeu? Isso de vez em quando provoca críticas deste ou daquele envolvendo individualidades, e os atacados são normalmente aquelas pessoas que ocupam um lugar de destaque. Só que apenas trabalho, outros preferem ficar observando, secando, sofrendo.
Dê mais exemplos…
M.N. ? Vou dar um exemplo lapidar, o do Osmar Santos. Ele detém um recorde: o Osmar Santos, num break comercial do Jornal Nacional, eu não lembro se foi um de três, quatro, cinco ou seis comerciais, mas todos os comerciais foram com ele. Ele apareceu nas Diretas Já!, ele apareceu fazendo comercial de cuecas, ele apareceu noutro de imobiliária, e num de automóveis, então aquilo foi considerado pelo chamado setor "cult e despojado" da imprensa uma aberração, "Como pode um jornalista esportivo ser garoto propaganda na televisão. Isso é um absurdo!", diziam. Então desceram o porrete nele, e num jornal da época, página inteira, ele foi considerado uma espécie de figura anti-ética. Diziam "Como pode?". Vejam o Jô Soares, talvez o maior formador de opinião popular do Brasil, e também do chamado público A-B, ele faz propaganda de supermercado! E daí! O Juca Kfouri combate muito esse negócio de jornalista em geral não poder fazer propaganda…Veja o caso do Elpídio Reali Junior. Ele era chamado de "Canarinho Belga", porque ele era vermelho de tão "comunista", tanto que saiu correndo do Brasil em 1972 protegido pelo saudoso e querido Fernando Luis Vieira de Mello ? a Jovem Pan era na avenida Miruna, 713, ao lado do Aeroporto de Congonhas, de onde partiam os vôos internacionais, ele saiu dali fugido para a França, de tão vermelho que era. Muito bem, o tempo passou e o nosso querido Reali, com quem estive tanto na Copa de 1998, na França, ele deu uma entrevista para o Juca Kfouri na CNT (o Juca que é quem mais combate esse negócio de jornalista fazer comercial), na qual ele perguntava: "Como você foi fazer propaganda da Nestlé?". Ele fez na Nestlé uma campanha institucional, e respondeu ao Juca: "Isso não tem nada demais, eu não estou falando mentira, eu estou mostrando as dependências francesas da Nestlé e dizendo da grandiosidade do grupo Nestlé alimentando o mundo". O Juca ficou quietinho. Então, se o Jô Soares faz propaganda, por que eu não posso fazer? E por que o Osmar não podia fazer? O mais curioso dessa história cruel, é que o mesmo jornal que publicou uma página mostrando esse lado que não seria ético do Osmar Santos, passou muito tempo e o Osmar teve aquele acidente terrível, em que perdeu massa encefálica… aí a maior homenagem que se fez ao Osmar veio do mesmo jornal de São Paulo, mostrando o que o Brasil perdeu sem o Osmar. Ou seja: o Osmar, enquanto estava na crista da onda, trabalhar com a publicidade era considerado por alguns patrullheiros uma vergonha. Até outro dia, na Caros Amigos, um cidadão que me patrulha chegou a falar no Osmar Santos e nos irmãos do Osmar Santos. Acho que ele já estava até acidentado quando isso foi publicado, então foi uma patrulhada dupla e cruel. Na crista da onda o Osmar era considerado antiético, mas depois do acidente todo mundo fez matéria sobre o drama dele da família, mas sem citar o lado comercial do Osmar, falava apenas da comoção nacional pelo acidente dele, foi um tratamento à la Senna que deram ao Osmar. O que eu quero dizer com isso? Enquanto o Osmar estava na crista da onda, era patrulhado, chamado de antiético e tal. O Osmar se acidentou…Nossa!! Só homenagens ao Osmar, não havia mais nenhuma crítica ao Osmar. Guardadas as devidas proporções ? repito, guardadas as devidas proporções ? isso hoje acontece comigo. O Oscar Ulysses, irmão do Osmar, e o Paulo Roberto Martins me dizem que eu sou o novo Osmar Santos, que eu estou ocupando um espaço que era ocupado pelo Osmar, não apenas no jornalismo esportivo, na comunicação e também na publicidade.
Mas os jornalistas que não fazemos esporte em boa parte achamos que quando cronistas como você elogiam um jogador de um time ? cujo patrocinador também patrocina o programa, digamos ?, vocês estão indiretamente valorizando e girando o capital que dá o faturamento ao programa. Assim, o elogio seria um fomentador de capital. Isso passa pela tua cabeça? Já criticou jogadores de times que te patrocinam ?
M.N. ? Olha, o Milton Neves é jornalista contratado da Jovem Pan, do Agora (do Grupo Folha), do UOL, da Rede Record, então o meu trabalho é 100% jornalístico. Agora, no rádio ? e isso foi inventado por Nicolau Tuma em mil novecentos e branco e preto e desde a época de corridas de biga que isso é assim no rádio ?, o locutor esportivo fala textos publicitários: o Silvério na Rádio Bandeirantes, o Nilson César na Pan, o Jorge Cury, o Valdir Amaral antigamente. Então, eu estou na rádio como jornalista, mas faz parte do establishment do rádio esportivo que o narrador do jogo e os apresentadores de programa esportivos veiculem, leiam, as mensagens publicitárias contratadas pelo departamento comercial das emissoras. Então, eu estou lá como jornalista para falar o que quiser em matéria de futebol; mas, em matéria de publicidade, eu, o Silvério, o Garotinho na Globo AM do Rio, o Nilson da Pan ou qualquer locutor esportivo, a gente só pode ler o que é contratado e autorizado via departamento comercial. Ou seja: agências publicitárias que compram o espaço da emissora. Eu não posso chegar na Jovem Pan ou Record e ficar falando da fábrica de doce de leite de Muzambinho, se ela não comprou espaço. Eles têm uma frase muito infeliz e imbecil contra mim, dizem por aí: "O Milton Neves vende muito e bem!". Eu não vendo porcaria nenhuma. O apresentador e jornalista Milton Neves lê as mensagens contratadas por agências de publicidade junto aos departamentos comerciais dos veículos onde trabalho. É o beabá da coisa, isso é absolutamente normal.
Mas e a tua agência de publicidade?
M.N. ? Sim, sou sócio de uma agência de publicidade e os programas que apresento têm vários anunciantes que têm espaços contratados junto às emissoras via qualquer agência ou via agência MN, que é a minha agência, que é como outra qualquer, com direitos e obrigações perante às leis do país, como a W/Brasil e a McCann Ericson ? infelizmente não tenho o faturamento e a criatividade deles. Eu falo no ar rigorosamente o que é contratado e permitido pelos departamentos comerciais. Agora, em relação ao patrocinador ou sponsor do clube que faz propaganda na rádio, isso no meu caso só aconteceu uma vez: quando a Saúde Unicor entrou na Jovem Pan e, coincidentemente, dois anos depois, passou a patrocinar o Santos. Mas foi um acordo entre a Saúde Unicor e o Santos em que a minha participação foi a mesma que eu tive na eleição do George W. Bush, ou seja, nenhuma.
Em relação à publicidade eu só não trabalho com dois produtos: cigarro, que tenho ódio a ele, e estou fazendo testemunhais a uma empresa chamada Phasis, do Ratinho, contra o tabagismo, luto contra o cigarro. Fiz meu irmão parar de fumar depois de 30 anos. E também não faço propaganda e publicidade da Parmalat: primeiro porque nunca me procuraram, e sobretudo porque, como jornalista, eu fui quem mais apoiou a vinda da Parmalat ao Brasil, porque acho que no marketing esportivo o que eles trouxeram e ensinaram o futebol brasileiro, que estava em termos de administração na Idade da Pedra antes deles… Aí elogiei tanto a Parmalat, tanto, que a torcida do Corínthians me xingava demais, me enviando e-mails e me ameaçando em cartas, telefonemas, dizendo que eu era contratado e comprado da Parmalat. Então não posso jamais fazer propaganda para a Parmalat. Se eu vier um dia a fazer, os caras vão dizer: "Tá vendo, tava mesmo no bolso da Parmalat!!!". Não posso dar pano pra manga.
Você ganha muito dinheiro como jornalista, criticam você por isso e você diz que é patrulhamento. Por quê?
M.N. ? Isso é complicado.Você geralmente encontra isso na cabeça de três, quatro ou cinco pessoas, jornalistas antigos, que têm muito ranço, e que ficam muito preocupados com isso. A alguns sugiro passar alguns dias num spa para emagrecer o olho e para diminuir o tamanho da língua. Sabe o que é? É coisa de jornalista que já está aos 43 do segundo tempo. Sou jornalista formado em 1977, cursei dois anos de publicidade e vários cursos tenho feito de aprimoramento em relação à publicidade, porque minha agência é uma agência mesmo, com prospect, com atendimento, com criação, com faturamento, uma agência pequena-média mas com todos os departamentos de uma agência grande. E com profissionais contratados, registrados e permanentes. Então há uma preocupação muito grande em relação às pessoas que fazem sucesso, e essa resposta eu já dei quando falei do Osmar Santos: quando você casa o sucesso profissional com o marketing isso gera uma certa antipatia de certas pessoas, que talvez tentaram fazer o mesmo e não conseguiram, entendeu? Agora, existem algumas pessoas que por convicção não aceitam, como é o caso do Juca Kfouri. O Juca combate isso de forma transparente, tanto é que outro dia fiz um merchandising que virou até um case, saiu no About e no Meio & Mensagem, a da Nextel, fazendo um link de áudio inédito ? baseado naquele link ao vivo de vídeo e áudio entre mim e o Silvio Santos envolvendo o Terceiro Tempo da Record e o final do Casa dos Artistas 1. A Nextel teve a idéia de, através de uma agência chamada Synapsys, de fazer no áudio o mesmo que o Silvio Santos fez no vídeo. Então entraram TV Gazeta com o Avallone, o Flávio Prado na TV Culltura e eu ancorando, lá na Record, entraria também o programa do Juca Kfouri, que estava em férias, e então ficou o Jorge Kajuru. Mas aí, no contrato do Juca, ele foi coerente e fez constar que no programa dele não pode haver merchandising. Não pôde ser feito porque no dia da ação o Juca voltou de férias. O Juca é muito coerente nisso. Mas o Kajuru faz mais publicidade e lê mais testemunhais em sua rádio de Goiânia do que eu. Mas, e daí? Tudo certo. Os caras que patrulham não sabem de nada do que acontece.
Sei lá quanto ganho. Tem mês que a agência veicula muito, tem mês que nem tanto, têm mês que você perde cliente, tem mês que você ganha, outros em que minha agência dá prejuízo. Mas têm críticos que não sabem de nada disso e que só têm olho gordo mesmo. E as pessoas falam demais. Não tenho excesso de sucesso financeiro e jornalístico E nem publicitário. Minha carreira não é marcada por excesso de sucesso, é marcada por ausência de fracasso. O uso excessivo de cachimbo deixa a boca torta. O cronista tradicional costuma não investigar muito, porque o jornalismo esportivo praticamente só envolve futebol, que é a coisa mais importante do país dentre as menos importantes. Para escrever de economia e política você tem de pesquisar muito. Agora, no futebol, o cara diz: "Foi pênalti, o bandeirinha é burro, o juiz é "ladrão!" E isso com a mesma naturalidade com que resolve falar do faturamento, atividades e da honra alheias. Chuta, fala qualquer coisa, aí sobra processo, nego passa a dormir mal, beber, chutar cadeira, xingar, se desesperar. Mas o mais feio é fugir de oficial de Justiça. Isso é para bandido ou político ladrão.
Cite casos…
M.N. ? O Odir Cunha, jornalista que por sinal tem bom gosto porque torce para o Santos Futebol Clube, escreveu no Jornal da Tarde um texto agressivo com relação a mim, mas o mais chato e o mais infeliz é que ele publicou algo que não pesquisou, que escutou em mesa de bar, ou no elevador, ou na concentração (porque o jornalista esportivo adora conversar muito sobre as coisas… dos outros). Ele teve a coragem de escrever no Jornal da Tarde que "o Milton Neves é um ex-plantonista que tem toque de Midas, onde ele toca vira ouro", e que hoje "está tão rico ou mais que o J. Háwilla". Meu faturamento é tão próximo do J. Háwilla quanto Muzambinho é próxima de Nova York! O J. Háwilla, estima-se, tem um avião de US$ 15 milhões, uma fazenda em São José do Rio Preto com 20 mil bois. Agora, isso eu vi: ele tem uma sede no Itaim [bairro paulistano], uma produtora da Traffic, carros importados, só isso vale umas 50 vezes mais do que tudo o que consegui amealhar em 30 anos de trabalho em São Paulo. Então, como o sujeito escreve no Jornal da Tarde que eu sou tão rico quanto um empresário desses? Eu ia meter um processo nesse cara, aí o repórter e amigo José Eduardo Savóia disse: "Deixa isso pra lá, Milton Neves, coitado, o cara não sei o quê…!". Aí, eu deixei pra lá. Mas, já pensou um seqüestrador lendo aquilo?
Mas você costuma processar jornalistas, não?
M.N. ? Até hoje processei dois jornalistas. Só dois. Um eu acabei perdoando, mas ele teve de depositar mil reais no Asilo São Vicente de Paula, de Muzambinho (MG), e isso para mim valeu um trilhão de dólares. E o segundo, agora, esse cara, esse sujeito da ESPN Brasil, feio como um bandoleiro mexicano em filme do Guiliano Gemma, uma pessoa que não conheço, mas que é bom quando só fala de futebol. Só participei uma ou duas vezes em programa esportivo com ele, conversei com esse cara só uns 15 minutos quando lhe dei uma carona, porque ele me disse que não tinha carro, que não podia ou não sabia dirigir, sei lá… Ele até me deu uma patrulhada na revista Caros Amigos, falando do meu envolvimento com propaganda, um assunto que ele rigorosamente não conhece. Estou processando este sujeito com três anos de atraso, porque ele me patrulha há tempos. Ele falava coisas do tipo eu sou vaidoso, mas isso eu sou mesmo, e outras bobagens, que eu estava morrendo de ciúmes dos jornalistas que a CPI chamou para depor. O deputado federal Aldo Rebelo, que inclusive vai ser testemunha nesse processo que movo contra esse jornalista, me ligou durante a CPI umas 12 ou 15 vezes. Numa deles ele me disse: "Olha, Milton, convoquei o Trajano, o Flávio Prado, o Juca Kfouri e o Tostão, me esqueci de você, me perdoe, estou acabando de fazer um requerimento pedindo par você vir". Pedi para ele "me incluir fora dessa", porque se tenho as informações que o Juca Kfouri tem meto direto o ferro mesmo lá no meu programa Supertécnico, ou na Jovem Pan. Para que ir à CPI? Para ler a revista Placar no plenário e sair no Jornal Nacional? Agora, defendo a bandeira de que não podemos chamar juiz de "ladrão" e que tal jogo foi "roubado", porque você só pode falar isso se você tiver prova de que o árbitro roubou. Árbitro brasileiro erra muito, mas não por dinheiro. Acredito piamente nisso. Mas enquanto falam bobagens a meu respeito, até relevo, mas quando mexem na honra, aí não pode, é claro. Em 1997, o Roberto Avallone teve uma infelicidade, mas ele reconheceu em juízo que estava doente quando falou mal de mim. O presidente da Fundação Casper Libero, Sergio Felipe dos Santos, me deu na hora a fita com as frases do Avallone contra mim. Mas a ESPN não me deu nada [no caso do José Trajano]: teve que ser tudo via judicial. Estou numa posição boa, tem programa de TV (o do Juca, como ele permite? não é antiético?) que fica comentando vários minutos sobre o meu trabalho, e olha que não sou bandeirinha, árbitro ou jogador, não sou parte integrante do futebol, sou jornalista como eles. Processei o Avallone ? e ele pediu desculpas. E aí meu advogado, o ex-procurador-geral de Justiça do estado, o Dr. Araldo Dal Pozzo, me chamou de lado e disse: "A chance é boa, é ótima, de ele ser condenado, mas o que você vai ganhar com isso?" Pronto. Mandei depositar mil reais em Muzambinho e acabou ali o processo. E o depoimento do Juca foi demolidor no Fórum João Mendes, desmoralizante para o réu e a favor da verdade. Hoje tenho uma relação distante-normal com o Avallone, um obstinado lutador. Agora, esse erro desse sujeito da ESPN foi maior: tenho uma lista de entrevistas dele que os meus advogados levantaram, ele está há três anos sempre preocupado comigo, como me falavam o Juca Kfouri e o Flávio Prado (a preocupação do cara pelos "meus comerciais"). Pô, não está gostando muda de rádio, muda de TV, não compre meu jornal, não entre em meu site, mas pára de encher!!
Com essa entrevista que fiz com o Ricardo Teixeira na Pan, que reproduzi na TV Record, por meio do contato conseguido pelo repórter Freddy Junior, perguntei sobre a indicação do Felipão e ele confirmou que ligou para mim para ouvir o único apresentador que convivia só com técnicos na TV semanalmente. Aí esse jornalista [Trajano] se arvorou em paladino do mundo, abriu o seu programa [na ESPN] como brasileiro "indignado", e me ofendeu a honra. Espero, se não se acovardar, que ele confirme tudo, e estarei lá na Justiça olhando no olho dele pela primeira vez. Ele tem de provar se tive alguma vantagem econômica na história da Ambev. A Marinilda Carvalho, do Observatório, me perguntou o porquê de eu não ter contado logo que "indiquei" o Felipão para a Seleção. Se eu contasse isso depois que o Brasil, digamos, ganhasse a Copa 2002, iam dizer que eu seria também o pai de Jesus Cristo. Então, resolvi contar antes e ele, Teixeira, confirmou. Mas o problema maior e único disso tudo é a acusação que teve de um jornalista para outro jornalista. Peço para grande imprensa e grandes editores que lêem o Observatório da Imprensa que investiguem essa denúncia feita contra mim. Preciso ? e a ética exige ? que a grande imprensa chegue no Ricardo Teixeira, no Felipão, na Ambev e nesse sujeito da ESPN e veja se eles dizem algo. Quero que a imprensa me investigue e veja qual a vantagem econômica que eu recebi. Se ficar comprovado que a Ambev me deu qualquer vantagem para que eu "colocasse o Felipão na Seleção", seria uma coisa de louco. Ninguém me pediu nada! O tal sujeito da ESPN disse no ar que eu recebi grana ou que sou suspeito, que teria recebido vantagens da Ambev para levar o Felipão para a Seleção. Na Justiça serão ouvidos representantes da Ambev, o Ricardo Texeira, o Felipão. Vai ter que ser provar que recebi. Enquanto a Justiça, que é morosa, não decide, peço ajuda da imprensa. Peço de joelhos que a grande imprensa investigue essa denúncia contra mim. Ao final dessa investigação jornalística e policial-judicial, nós teremos um Manual de Redação de como não se deve comportar um jornalista. Invejoso ou não.
Você recebeu mesmo o tal telefonema do Ricardo Teixeira?
M.N. ? Sim, e eu falei para ele: "O senhor nem precisava ter me ligado, porque vivo falando no meu programa Supertécnico da Band e na Rádio Jovem Pan que em minha opinião o Felipão era o homem certo". Aí, ele me disse: "Coincidentemente você desempatou, porque eu tinha ouvido outras pessoas, e elas também escolheram ou ele ou Luxemburgo, e eu acabei ligando para você, estou te achando hoje, então você desempatou".
Você sabia que a Aceesp ? Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo ? fez uma reunião extraordinária de diretoria para ver quem era o antiético da história, o Milton Neves ou o tal Trajano? Aliás, leia na íntegra o que nosso órgão de classe escreveu e decidiu:
São Paulo 2 de maio de 2002.
Ilmo. Sr. Dr.
Antônio Carlos. S. Catta-Preta
Prezado Senhor,
Atendendo ao seu ofício datado de 19-04-02, no qual V.S. pede intervenção da Aceesp contra o jornalista José Trajano, esta presidência, com os poderes que lhe conferem os Estatutos da Associação, convocou em caráter extraordinário a Diretoria.
Efetivamente na noite de 28/04/02, a Diretoria de fato se reuniu e deliberou o que passo a relatar.
Este presidente colocou todos a par de vosso pedido. Em seguida foi exibida a fita onde o jornalista José Trajano faz graves acusações ao jornalista Milton Neves.
Após a exibição da fita, esta presidência pediu que cada um dos diretores emitisse a sua opinião sem, entretanto, a preocupação de votação. A votação, esclareceu este Presidente, só se daria depois que o assunto fosse exaustivamente discutido.
Estiveram presentes os seguintes diretores: Hélio Cláudino, Fiori Gigliotti, Ricardo Fontenelle, Silvio Natacci, Mário Albanese, Carlos Eduardo Leite, José Isaias, Ana Marina Maioli (que secretariou a reunião) e este presidente que, efetivamente, presidiu a reunião.
Todos os Diretores, cada um de per si, foram unânimes em declarar que não houve qualquer deslize no comportamento do jornalista Milton Neves. Para todos os diretores, ao atender o telefonema do presidente da Confederação Brasileira de Futebol, dr. Ricardo Teixeira, e emitir a sua opinião quanto à escolha do técnico da Seleção Brasileira, Milton Neves agiu com a mais absoluta correção. Foram todos também unânimes em afirmar que, se fossem consultados, teriam a mesma atitude. Para todos os Diretores, o fato do presidente da CBF ter telefonado pessoalmente ao Milton Neves, prova o grande momento em que vive o jornalista na sua carreira.
Este presidente fez questão de afirmar que esta era também a sua postura. E mais: que também atenderia ao telefonema. E que se o presidente Ricardo Teixeira quisesse saber a sua opinião, nem precisaria se dar ao trabalho de telefonar: bastaria ouvir os seus comentários esportivos na Rádio Atual. "Emitir opinião faz parte da rotina profissional de qualquer comentarista esportivo", frisou. Este presidente informou ainda ser o portador das opiniões de dois outros diretores que, por motivos particulares, não puderam comparecer à reunião: o vice-presidente Luís Carlos Quartarollo e o secretário da Diretoria Roberto Baschera. Ambos, afirmou o Presidente, também não viram qualquer falha ou falta de ética jornalística no comportamento do Milton Neves.
Na seqüência, este Presidente propôs que se passasse à votação.
Ouvido voto por voto, foram todos unânimes em aprovar, sem restrições, o comportamento do jornalista Milton Neves.
A Diretoria considerou, de forma unânime, que o jornalista José Trajano teve postura antiética ao insinuar, sem qualquer fundamento, que Milton Neves teria atendido ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira, visando qualquer interesse financeiro.
Também por unanimidade, ficou decidido que a Aceesp, como entidade, não devia promover nenhuma ação jurídica contra o jornalista José Trajano, até mesmo por entender que Milton Neves está bem representado com o advogado que constituiu.
Finalmente, determinou a Diretoria que se desse ciência a V.S. desta decisão.
Atenciosamente,
Mário Marinho,
Presidente.
Após a reunião, ao chegar em casa, encontrei, em minha caixa de correspondência eletrônica, uma mensagem de outro Diretor que não pôde comparecer à reunião. Trata-se do diretor Maurício Noriega, que também não viu nada de anormal no comportamento jornalístico de Milton Neves. "Ele agiu como deve agir todo jornalista. A bem da verdade, em tese, eu não vejo muita diferença em José Trajano comparecer à CPI para prestar informações e o Milton Neves participar da indicação do técnico da Seleção Brasileira", finalizou ele.
Defina o Trajano?
M.N. ? Já disse antes, gosto de seu trabalho falando do América do Rio, do futebol do Rio, do romantismo do Maracanã nos anos 50 e 60, seu claro amor ao futebol e de seu texto e conhecimento apaixonado da história do futebol brasileiro. Ele, parece, é executivo de um canal como a ESPN que pega no mundo. Então, para que agredir gratuitamente alguém que não conhece? Que emagrecesse o olho e tivesse ouvido o omisso (e ingrato) Cláudio Carsughi, que me conhece há 30 anos, desde que cheguei a pé a São Paulo. Ou o Milton Leite, que (por anos) cansou de ler (legitimamente) testemunhal ou fazer (corretamente) mershandising para múltiplos clientes de minha agência ? algo que seu chefe e meu atual fiscal-patrulheiro (eles se revezam) de plantão tanto abomina. Conta para ele, Milton Leite! Está com vergonha do quê? E alô, Cláudio Carsughi, isso foi de coração, viu? Acovarda-se e, dez dias depois, procura-me para se explicar? Preferi não te ouvir, mas aguarde convocação. Você falará sim.