Sunday, 05 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Árabes transmitem "ficção"

MÍDIA & GUERRA

O governo britânico tem uma grande luta pela frente: enfrentar a "ficção completa" construída e divulgada pela imprensa árabe sobre a guerra no Iraque, declarou Alaistair Campbell, diretor de comunicações de Tony Blair. Relata Julia Day [The Guardian, 31/3/03] que, em entrevista à Australian Broadcasting Corporation, Campbell disse haver pouco entendimento no mundo árabe do que a Inglaterra tentou passar durante o conflito.

"É ultrajante, por exemplo, a matéria da al-Jazira em que um jornalista de Bagdá pergunta ao correspondente em Londres se está em debate a possibilidade de tropas britânicas executarem prisioneiros de guerra iraquianos", afirmou. "Ficção total e, no entanto, foi ao ar. Temos que saber o que está acontecendo, lidar com isso, desafiar, retrucar."

"O que aconteceu é que eles exploram as fraquezas de nossa democracia, as fraquezas de nosso sistema de mídia em seu benefício, e acho que às vezes a nossa mídia permite que eles façam isso", acrescentou Campbell.

Straw comenta poder da TV

Em audiência com executivos de jornais, Jack Straw, ministro das Relações Exteriores britânico, alertou para o perigo de julgamentos apressados a partir da cobertura televisiva do conflito no Iraque. Para Straw, a reação da imprensa ao polêmico bombardeio de um mercado em Bagdá é um exemplo dos problemas causados por uma reação imediata. "É cada vez mais provável que tenha sido resultado da ação iraquiana, e não da coalizão. Mas quando a história surgiu e nós prometemos uma investigação alguns escolheram descrever nossa resposta como uma admissão de culpa."

Segundo Owen Gibson [The Guardian, 1/4/03], o ministro destacou o poder da televisão, afirmando que a falta de imagens da situação do Iraque sob o regime de Saddam Hussein enfraqueceu os argumentos a favor da invasão. "É o paradoxo da cobertura do Iraque. Por duas décadas, Saddam Hussein causou uma crise humanitária no país que no mínimo equivale aos piores excessos de Milosevic. Mas, ao contrário de Milosevic, Saddam conduziu seu reino de terror longe das câmeras. Então, diferentemente de Kosovo, o Iraque não fez o mundo se sentir culpado através da tela da TV."

Críticas a Robert Fisk

O ministro da Defesa britânico, Geoff Hoon, acusou o correspondente Robert Fisk de ter sido enganado pelo regime de Saddam Hussein ao relatar mortes civis em dois bombardeios em Bagdá. Hoon questionou a objetividade da matéria, afirmando não haver evidências do envolvimento das forças americanas além das fornecidas pelo governo iraquiano. O Independent respondeu às críticas na primeira página, conta Jason Deans [Guardian, 4/4/03], afirmando que as "insinuações" do ministro são uma "tentativa mesquinha de pôr de lado verdades que não bem-vindas". A maneira como Hoon lida com o noticiário da guerra é "caracterizada por exagero, meia verdade e retratações", atacou o jornal.

A matéria que mais desagradou os ministros foi na verdade um trabalho "de equipe". Robert Fisk, do Independent, encontrou um fragmento de metal nas ruínas do primeiro mercado de Bagdá destruído por um míssil, no fim de março. O fragmento tinha várias inscrições, incluindo “MFR 96214 09”. Um leitor do diário The Guardian, que reproduziu a informação de Fisk, pesquisou na internet e descobriu, no endereço <www.gidm.dlis.dla.mil>, que a tal inscrição no fragmento era um número de código de uma fábrica de mísseis de cruzeiro em McKinney, Texas. Propriedade da Raytheon Company, cuja matriz fica em Lexington, Massachusetts. A explosão, que matou mais de 50 civis, foi na verdade causada por um míssil de cruzeiro lançado por um bombardeiro B-52 dos Estados Unidos, e não por um míssil antiaéreo iraquiano, como sugeriram as autoridades anglo-americanas. [Guardian, 1?/3/03]