Sunday, 05 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

SARS e a síndrome do pânico

CONTÁGIOS VÁRIOS

Alberto Dines

As matérias de capa de Época e IstoÉ (7/4 e 9/4) sobre o surto da pneumonia asiática (Sars) não ajudam a sagrar a mídia como agente de prevenção. Ao contrário: o tom sensacionalista, ao invés de funcionar como alerta, vai na direção contrária: público e autoridades percebem os exageros e desmobilizam-se. Aquele para proteger-se estas para criarem os mecanismos de proteção.

Se no Brasil, até o momento, não se confirmou o único caso suspeito e, no entanto, dois semanários já lançam o assunto em capas quase histéricas; se e quando o surto efetivar-se as revistas terão que subir de tom e inventar um berreiro ainda maior. Talvez com outdoors e alto-falantes. Se ocorrer o contrário e o surto ficar circunscrito às suas origens, as futuras advertências serão totalmente ignoradas.

A imprensa diária, mais preparada, parece ter compreendido melhor a sua função informadora. Mesmo os telejornais parecem mais cautelosos e mais eficazes do que os tonitruantes semanários.

O jornalismo médico exige profissionais treinados, com domínio da matéria e capacidade de expô-la no tom adequado à gravidade da situação. A hipocondria generalizada somada à proverbial carência de recursos para respostas rápidas em matéria de saúde pública converte a imprensa num fator de capital importância. Um serviço público precisa ser realizado com espírito público.