HARVARD BUSINESS REVIEW
O caso é digno de estudo pela própria revista: como a Harvard Business Review, a bíblia da Administração, não consegue evitar crises internas? A publicação que aconselha a elite já foi palco de numerosas demissões e mudanças de chefia, mesmo antes de o romance da editora Suzy Wetlaufer com Jack Welch provocar revolta na redação: no começo da década de 90, a revista teve quatro editores em cinco anos.
No entanto, observa D.C. Denison [Boston Globe, 19/3/02], o tumulto parece não comprometer o prestígio e a credibilidade da revista. "Estrelas do rock querem sair na Rolling Stone; consultores administrativos, na Harvard Business Review", compara Tom Rodenhauser, presidente da Consulting Information Services. Há dois anos, esta firma realizou pesquisa entre consultores que classificou a Review em segundo lugar na lista de publicações de "leitura obrigatória"; em primeiro, estava The Wall Street Journal.
Um elemento inegável de sucesso é a marca Harvard. Apesar da baixa circulação ? apenas 245 mil exemplares ? o público da revista é formado por uma elite que reverencia seu conteúdo. Marshall Cooper, publisher da Kennedy Information, publicação da indústria de consultoria, afirma que aparecer na revista pode ser a chave do sucesso. "Consultores ganham dinheiro vendendo novas idéias e conceitos para corporações. Um artigo na revista permite associar seu nome a uma nova idéia, o que pode ser muito valioso." Como exemplo, cita a "reengenharia", uma idéia administrativa popular que foi lançada numa matéria da Review em 1990. O autor, o consultor Michael Hammer, construiu uma prática lucrativa em torno do conceito por muitos anos. Obviamente, alguns consultores têm mais sucesso em publicar artigos do que outros. Segundo Denison, a firma de consultoria Bain & Co. apareceu freqüentemente na revista durante a chefia de Suzy Wetlaufer, uma ex-funcionária.
A questão da credibilidade veio à tona depois do escândalo envolvendo Jack Welch. Tornou-se público, então, o método de entrevistas da Review, que permite que o entrevistado edite e reescreva a matéria antes da publicação. A descoberta dos altos salários de executivos da Harvard School Publishing, empresa sem fins lucrativos que em 2001 pagou US$ 810 mil à presidente do grupo, também levantou dúvidas sobre a administração da revista.
Para responder às críticas, o diretor editorial do grupo, Walter Kiechel, montou uma força-tarefa para funcionar como conselho de ética, tratando de conflitos de interesses e questões editoriais. Rodenhauser aposta que, mais uma vez, o status da Review vai se manter: "O prestígio ainda existe."
MÍDIA & BOLSA
Após ser ameaçada com um processo de difamação, a editora HarperCollins decidiu destruir o estoque de 4 mil cópias do livro Trading with the Enemy, que acaba de lançar. A companhia entendeu que o livro de Nicholas Maier faz acusações falsas ao antigo patrão James Cramer, que teria usado informação privilegiada para lucrar com as ações da Western Digital Corp., pelo que teria sido investigado por uma agência reguladora. A HarperCollins vai enviar errata a livrarias corrigindo o erro e deve voltar a promover o título assim que os novos exemplares revisados forem impressos.
A retratação, no entanto, não toca nas outras sérias denúncias feitas por Maier. David D. Kirkpatrick [The New York Times, 16/3/02] resume a trajetória de Cramer, operador de investimentos que largou a carreira para ser comentarista financeiro da CNBC e do sítio que ajudou a fundar, TheStreet.com. O ex-funcionário sustenta que ele usou suas conexões na mídia para manipular os preços de ações e vendeu informação privilegiada para obter vantagens, além de fornecer dicas para os apresentadores Maria Bartiromo e David Faber da CNBC. A rede divulgou um comunicado defendendo a integridade dos âncoras, afirmando que "qualquer insinuação de que as práticas jornalísticas de nossos repórteres não foram éticas são ultrajantes".