Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Três meses de morde e assopra

GOVERNO LULA

Chico Bruno (*)

No domingo (6/4), com raras exceções, a mídia impressa se dedicou à publicação de matérias avaliando os 100 dias do governo Lula da Silva. A similitude das matérias leva a crer que todos foram pautados por um só jornalista. Talvez essa seja uma afirmação verdadeira pois, com certeza, existiu o desejo dos condutores da comunicação social do governo federal de que esse fosse o caminho trilhado pela mídia impressa.

Se é mera coincidência pouco importa, o que importa é o desejo de avaliar o comportamento da imprensa nesse período. Aliás, vale parênteses: por que avaliar 100 dias de um novo governo, e não os três primeiros meses? Que razão haverá para que a avaliação seja dos 100 primeiro dias? Quem souber a razão, por favor, responda, pelo menos para que a curiosidade se satisfaça.

Quanto à cobertura da imprensa nos primeiros três meses de governo Lula da Silva, pela leitura dos jornais e das revistas, pela observação do noticiário das emissoras de rádio e televisão e pelas notícias extraídas das colunas políticas pode-se dizer que a mídia mordeu e assoprou.

O prato de resistência do cardápio jornalístico foi o programa Fome Zero, que até agora consumiu mais recursos em ações logísticas que os distribuiu aos que sofrem de insegurança alimentar. Mas esse, que é o grande gancho para se avaliar o programa, foi completamente desprezado pelos pauteiros, que preferiram dar destaque aos espertinhos que se aproveitaram do programa para faturar gratuitamente muito espaço na mídia.

Críticas mal aceitas

A fofoca, como não podia deixar de ser, foi incentivada a mancheias pela imprensa. Sempre que possível, estimulou-se a suposta divergência entre alguns cardeais do governo. Nesse item, os alvos preferidos foram o chefe da Casa Civil, José Dirceu, o líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante, e os ministros José Graziano, Benedita da Silva e Cristovam Buarque.

Outro assunto explorado foram as denúncias contra o vice-presidente José Alencar e o ministro Anderson Adauto ? devidamente empurradas para o armário do esquecimento com a gentil aquiescência da imprensa, que com o correr do tempo foi paulatinamente retirando as duas denúncias do noticiário. Talvez um dia alguém as retire do arquivo de aço inoxidável em que foram depositadas. Basta que algum político com interesses escusos resolva fazê-lo. Aí, com certeza, a mídia retomará o interesse.

Mereceu atenção da imprensa, também, a novela do possível casamento entre o governo e o PMDB. Foram consumidos muitos centímetros da mídia impressa e vários segundos da mídia eletrônica sobre o noivado, que continua atribulado, em determinados momentos esquenta e em outros esfria. Na verdade, a mídia vai levando o imbróglio em banho-maria, bem morninho.

De janeiro até agora, a imprensa atuou num bem planejado jogo do morde e assopra, conforme a conveniência do momento. Mesmo adotando essa estratégia, a imprensa vem sendo fustigada por alguns integrantes da comunicação social do governo petista, que não admitem criticas ao governo Lula da Silva.

(*) Jornalista