Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os telejornais amigáveis das politicas profanas

O homem de idade avançada chora em meios às câmeras. Comove os telespectadores ao se debruçar sobre os bens a julgar preciosos. O homem do campo não tem outra saída, senão, contemplar o definhar dos companheiros que o acompanhou ao cruzo de longos corrosivos verões. Meses em sua vida, se refletem no rosto caído como se fossem anos, quase vencidos pela luta amargurante. A reportagem mostra a imagem da paisagem desfigurada que os dias sem chuvas transformaram. A cena nos mostra que o tempo ali passou muito apressado, dias se assemelhando aos meses.

Assim seguem a explorar a tragédia da secagem e, é lógico – entre imagem de grandes brancos pastos –, há sempre uma pausa para mais um lacrimejar de dores. O telespectador prossegue desvendando as fragilidades dos sertanejos, suas mazelas são mais uma vez o foco de vários telejornais, que se mostram preocupados em relatar o descaso do “deus” com os nordestinos famintos. A salvação para esses desfalecidos vem do céu, diz a repórter evocando dos ares o clímax do emocionalismo.

Do alto – forçam a acreditar – das nuvens carregadas virá o socorro pluvial que arrebatará a fome. E do céu então, virá o compadecimento para com os lastimáveis miseráveis. Nessa condição vil, os telejornais consagram o sofredor das reportagens lacrimosas. Os noticiários elegem o culpado dogmático, mais fácil de ser aceito pela massa compadecida.

As mazelas nordestinas

O que não conseguimos identificar está sob o véu. A culpabilidade fica confessada pelo “deus” dos jornais, que desenham na tela quando os jornalistas estão à procura de quem culpar pelas desgraças naturais. Os repórteres recorrem às fontes divinas que podem socorrer as caatingas. Os profanos políticos ficam em stand by, como uma possível segunda ou última fonte a ser consultada. Esse segundo viés pode levar as possíveis resoluções para o problema da escassez do bem precioso primário. De antemão, ao invés de recorrer a fontes palpáveis, recorrem ao senso comum, do deus dará, e a ele depositam a culpa e, ao mesmo tempo, o socorro.

Águas continuam a correr pelos solos transponíveis. As esperanças migram deslocando os olhares para ver as possibilidades. Os meios de notícias deixam adormecidos em meio a crise, o tema que se mostrou outrora como parte para à salvação.

As transposições são feitas nos agendamentos. Deixaram o real e recorreram ao sobrenatural como causa e efeito das mazelas nordestinas. Bom para os profanos políticos que ficam isentos da responsabilidade de fazerem o papel que lhes cabe.

Que telejornais amigáveis generosos para com a politica profana!…

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Francisco Júlio Xavier é estudante de Jornalismo