Friday, 17 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1288

Marcelo Beraba

’18/04/2005

A Folha tem, neste DOMINGO, quatro grandes investimentos jornalísticos bem sucedidos: ‘Receita acusa Jucá de gerir TV por meio de filantrópica’, ‘Brasil é o 4º maior pagador de juros, diz levantamento’, ‘Banqueiro Daniel Dantas acusa Citi de imoralidade’ e ‘Sobrevivente de chacina volta às ruas’. A manchete é uma informação exclusiva, mas que não passa ainda de uma conversa: ‘Governo articula dar posto vitalício a ex-presidentes’.

‘Estado’ – ‘Cai intenção de novos investimentos’.

‘Globo’ – ‘Gastos com terceirizados no governo Lula cresce até 52%’.

SEGUNDA

Folha – ‘Socorro oficial a bancos acumula perdas de R$ 4,7 bi’.

‘Estado’ – ‘Majella: ‘Não se falou em nomes’.

‘Globo’ – ‘Empréstimos concedidos no país chegam a R$ 500 bi’.

As capas das revistas:

‘Veja’ – ‘Saudades do Rio’. A revista publica uma reportagem especial com 16 páginas sobre o passado ‘glorioso’ do Rio e as soluções para os seus problemas. Coincidência ou não, a reportagem é precedida por um anúncio do governo fluminense, ‘O Estado do Rio de Janeiro deu a volta para cima’. A ‘IstoÉ’ também tem o anúncio.

‘Época’ e ‘IstoÉ’ têm o mesmo assunto na capa: dieta.

DOMINGO

A informação mais relevante das reportagens sob o selo ‘Contas públicas’ (págs. A4 e A5) não é o ranking de pagadores de juros, em que o Brasil aparece em 4º lugar, mas a conclusão de que os custos com a manutenção da máquina pública aumentaram no governo Lula, mas ainda assim estão abaixo do que foi gasto em 2001 no governo FHC. Este estudo contraria várias reportagens publicadas pela imprensa na linha do descontrole de gastos. A informação me parece mais relevante do que um ranking que não significa muita coisa. Deveria ser a chamada da primeira página.

O ministro Romero Jucá continua nas páginas de todos os jornais e revistas no final de semana. A Folha segue na dianteira com informações exclusivas (‘Jucá desvia verba pública para TV, diz Receita’, págs. A12 e A13).

Embora a ‘Veja’ também tenha entrevistado o banqueiro Daniel Dantas, o material publicado pela Folha (‘Ação de Citigroup é ‘imoral’, afirma Dantas’, capa e páginas B4 e B5) tem o mérito de ter aproveitado melhor a longa conversa com o dono do Opportunity. Ele lança um aspecto novo para explicar a briga com o Citi, o escândalo da Parmalat na Itália, que deveria ser mais bem explorado pelo jornal. A hipótese também está na ‘Veja’.

O perfil de Dantas publicado na página B6 (‘Banqueiro perdeu a paz há muito tempo’) está bem escrito. Mas o final parece mais um obituário.

É um exagero o destaque dado pelo jornal na coluna ‘Mercado Aberto’ para o empresário Antônio Ermírio de Moraes (‘Lucrar com banco é fácil, diz Ermírio’, pág. B2) no mesmo dia em que ele tem coluna fixa em página nobre (A2) do jornal.

A reportagem ‘Satélite mostra expansão menor de favelas’ (págs. C4 e C5 de ‘Cotidiano’ na Edição SP e C6 na Edição Nacional) está bem produzida, mas tenho dúvida em relação ao enfoque. Em primeiro lugar, o título generaliza enquanto a reportagem trata apenas de duas favelas.

Segundo, se o principal fenômeno das favelas cariocas é a verticalização, e não mais a sua expansão horizontal, por que este não foi o enfoque da reportagem?

Terceiro: embora o ritmo de expansão das duas favelas pesquisadas tenha caído, elas continuam a crescer. Mais lentamente, mas sempre crescendo.

A reportagem faz parecer que o governo da cidade tem política para as favelas (‘Estudos do Rio estão entre os mais avançados’, na Ed. SP). A própria continuidade da expansão, mesmo em ritmo menor, mostra que não tem.

A favela da Barra da Tijuca é Rio das Pedras, como está na reportagem, e não Rio das Ostras, como saiu na linha fina sobre o título da página C4 da Edição SP (C6 na Ed. Nac.).

A reportagem ‘Promotores apontam impunidade’, sobre segregação racial no Brasil (pág. C6 de ‘Cotidiano’), informa que um agressor foi condenado por crime de racismo, ‘cuja pena foi substituída pelo pagamento de fiança à vítima’. Deve estar errado. Fiança é garantia. Talvez o agressor tenha pagado uma indenização ou algo parecido.

SEGUNDA

Manchete de ontem do jornal, a notícia de que o governo e a oposição articulam criar o cargo de senador vitalício para os ex-presidentes teve apenas uma repercussão, e contrária, na edição de hoje (‘Cargo vitalício é ilegítimo, afirma Genoino’, pág. A7). Se o assunto mereceu o principal destaque do jornal de domingo, era de se esperar uma repercussão mais ampla e a manutenção do assunto na primeira página.

O ‘Painel do Leitor’ (A3) de hoje tem temperatura. Foi ágil na publicação de comentários de leitores a respeito da articulação para a criação do cargo de senador vitalício e das novas denúncias contra o ministro Romero Jucá. Tinha cara de ‘Painel do Leitor’. O de domingo também, com as manifestações sobre o racismo.

Não acredito que o governo federal tenha um programa de Erradicação do Trabalho, como está no segundo parágrafo da abertura da entrevista do ministro Waldir Pires (‘Municípios desviam mais de 20% dos recursos, diz ministro’, pág. A16): ‘Em Arari, no Maranhão, dinheiro do programa de Erradicação do Trabalho comprou caixões e ventiladores’.

O jornal informa que a Prefeitura de São Paulo contratou os serviços de uma empresa que já foi de um secretário (‘Prefeitura contrata empresa que é dirigida por sócio de secretário’) e não ouve o prefeito responsável pela nomeação (do secretário) e pela contratação (da empresa).

Esta mesma reportagem tem um título errado na Edição Nacional: ‘SP contrata ex-empresa de secretário’. SP é a sigla para o Estado de São Paulo, e não para a sua capital. Fica parecendo que é um caso no âmbito do governo estadual.

O título da capa de ‘Esporte’ na Edição Nacional -’São Paulo broxa no final; outros Estados deliram’ – é grosseiro, nada informativo, e um desrespeito com os leitores.

A editoria mudou, na Edição São Paulo, para ‘Brasil delira e ensina a SP como último ato deve ser’. Não é notícia, é editorial.

Não faz sentido a ‘Memória’ que acompanha o noticiário sobre o caso de racismo no futebol (‘Argentina teve em 60 soberania desrespeitada’, pág. D5 da Edição Nacional). Ninguém falou em invadir a Argentina para prender o jogador Desábato caso não compareça à Justiça brasileira. Não faz sentido, neste caso, lembrar que a Argentina foi invadida por agentes do Mossad israelense que aprisionaram e levaram para Israel o nazista Adolf Eichmann. O texto foi suprimido na Edição SP.

13/04/2005

As manchetes de hoje:

Folha – ‘Ministro susta projeto de restringir UTI’.

‘Estado’ – ‘Siderúrgicas se unem para combater o poder da Vale’.

‘Globo’ – ‘Manobra pode salvar mandato de deputado ligado a escândalo’.

‘Globo’ e ‘Estado’ destacam entrevista em que d. Eugênio Salles critica o presidente Lula. A falta da informação na Folha fica ainda mais séria porque o jornal é o único que traz foto do cardeal emérito do Rio na sua capa.

‘Globo’ destaca na capa: ‘Argentina ataca pretensão do Brasil na ONU’.

A manchete do ‘Globo’ tenta antecipar um assunto que será decidido hoje e, caso se confirme o prognóstico de punição branda para o deputado Alessandro Calazans, será um escândalo.

Painel do Leitor

A Folha transferiu do noticiário para o ‘Painel do Leitor’ discussões que deveriam ter tratamento jornalístico porque não se referem apenas a manifestações de opiniões.

É o caso, hoje, da carta de um vereador do PSDB que defende o governo Serra com informações que, se verdadeiras, deveriam ter tratamento de reportagem em ‘Cotidiano’. Ou a carta, ontem, em que o ex-secretário de Cultura da Marta Suplicy avalia a renúncia do secretário de Cultura de Serra e a atual política cultural do município. As informações que ele presta, se relevantes, deveriam estar na ‘Ilustrada’.

Além de tirar espaço para a opinião dos leitores, esta política do jornal empobrece a continuidade da cobertura de dois fatos políticos importantes da semana: a avaliação dos três meses do governo Serra e a renúncia do secretário de Cultura.

Romero Jucá

O noticiário de hoje, que mostra o esforço do governo para manter o senador Romero Jucá no cargo de ministro (‘Planalto e PMDB articulam para manter Jucá’, pág. A4), deveria ter sido acompanhado de uma arte que resumisse, uma a uma, as acusações que pesam contra o ministro, quando ocorreram, que crime implicam e a defesa do ministro. Isso para que o leitor tenha condições de avaliar por conta própria se as denúncias procedem e devem resultar realmente na renúncia ou demissão do ministro ou se, ao contrário, elas são de menor importância e já estariam superadas, como querem o governo, o PMDB e o próprio ministro.

Nepotismo

O jornal faz referência, hoje, no texto ‘PMDB derruba indicação de Lula para ANP’ (pág. A5), ao irmão do ministro Palocci, Ademar, nomeado em fevereiro para uma diretoria da Eletronorte. Neste momento em que se discute amplamente a prática do nepotismo (vide ‘Presidente do STF defende o fim do nepotismo no governo’, pág. A5 da Ed. Nacional, ou ‘Jobim propõe PEC para vetar nepotismo em todos os níveis’, na Ed. SP), não seria interessante o jornal fazer uma grande levantamento mostrando casos já conhecidos e novos nos três poderes?

A propósito, o título da Edição Nacional a respeito da posição do ministro Jobim está errado: ele não defende o fim do nepotismo apenas no governo, mas ‘em todos os níveis’, como está no título da Ed. SP.

O ‘Estado’ tem uma entrevista curta, mas bem interessante, com o filho do deputado Severino Cavalcanti, José Maurício, recém nomeado para um cargo público por ingerência do pai (‘José Maurício, sempre com um emprego do pai’). As lamúrias ajudam a compor, junto com os argumentos que o pai e outros políticos vêm levantando, uma espécie de teoria a favor do nepotismo. Antigamente um tabu, esta defesa é feita hoje de forma aberta, como se o nepotismo fosse um direito.

Papa

A Folha come mosca mais uma vez e não tem a entrevista do cardeal d. Eugênio Salles, em Roma, em que critica o presidente Lula em tom parecido com o de d. Eusébio Scheid: ‘Lula não é cristão-modelo’. Criticou o presidente inclusive por ter comungado na missa do funeral do papa. A entrevista foi dada após a missa celebrada por d. Eugênio pelo papa João Paulo 2º. A Folha tem o registro fotográfico da missa, mas perdeu a entrevista, como já havia perdido a da de d. Eusébio na semana passada.

O título ‘Cardeais brasileiros isolam-se em Roma’ não tem nada a ver com o texto que apresenta o Colégio Pio Brasileiro (capa de ‘Mundo’) aos leitores. A reportagem descreve a rotina dos religiosos brasileiros se hospedam no colégio, em Roma, e deveria ter tido um título condizente.

O relato da clausura dos cardeais brasileiros que aguardam o conclave está no pé da reportagem principal da página, ‘Oposição a Ratzinger começa a aparecer’. Se o jornal queria um destaque, deveria ter feito um intertítulo naquela reportagem.

Diplomacia

Não vi na Folha a manifestação da Argentina contra os planos do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. ‘Globo’ e ‘Estado’ destacam o assunto com razão.’