Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Paulo Rogério

Toda nova opinião é constituída, no início, em uma minoria de um’. Thomas Carlyle

Todo fato pode ter várias versões. Depende dos envolvidos, dos interesses, enfim, de uma infinidade de valores. Isso é senso comum. Para o leitor Enrico Rocha, a editoria de Política do O POVO parece desconsiderar esses quesitos ao criticar quem se manifesta de forma contrária a certas propostas. ‘Qual o interesse público em caricaturizar posicionamentos políticos como a ‘turma do não’? questionou ele. O leitor se refere ao material publicado pela editoria no último domingo, 28, com o título ‘Como age e o que defende a turma do não’. Na capa do jornal a manchete foi ‘Sou contra!’. Enrico considera que, da forma como foi exposto, a reportagem torna o debate público ‘superficial e desqualificado, quando deveria contribuir para o seu aprofundamento’ apontou. O uso de alguns símbolos, como a figura de um smurf azul, zangado, com os braços cruzados, acabou criando um estereotipo do bem e do mal. ‘O smurf ranzinza, o símbolo de proibição e o título da cobertura especial ‘eles são do contra’, realmente, são decisões editoriais inacreditáveis!’ desabafou Enrico Rocha.

Estereótipos

A tentativa de demonstrar como funcionam grupos que organizam manifestações públicas acabou esbarrando em conceitos & ou pré-conceitos & do que é certo ou errado. Essa é uma definição que cabe ao leitor fazer, não ao jornal. O quadro ‘Saiba como identificar alguém da turma do não’ & ilustrado com um smurf de paletó e gravata e mãos no bolso – estabelece alguns critérios não explicados. Entre os quatro citados está o número um: ‘Assume postura radical sempre com posicionamentos contrários a grandes empreendimentos ou obras que eles julgam prejudicar os espaços urbanos ou a natureza’. Pela definição, você será um smurf ranziza se for contra o estaleiro, contra a derrubada das árvores do Cocó ou até ser simpático de outro tipo de sistema político. Embora o texto cite a importância da existência desses grupos para a democracia, erra ao criar estereótipos. Isso sem falar em falhas factuais corrigidas durante a semana na seção ‘Erramos’. Indagado sobre a crítica o editor-executivo do Núcleo de Conjuntura, Guálter George, não respondeu oficialmente até o fechamento da coluna.

Educação no trânsito

Durante três dias O POVO publicou a série ‘Educação no trânsito’& dias 29, 30 e 31 de março – abordando a questão dos problemas do trânsito em Fortaleza. O enfoque da matéria foi a má formação dos motoristas e os flagrantes cometidos. O debate ganhou um link no Portal O Povo Online, onde os internautas podiam dar sugestões. O tema trânsito não é novo e volta e meia aparece como pauta. E traz tanto interesse que foi manchete do jornal no dia 29 – ‘Motoristas mal-educados aumentam perigo no trânsito’. No Portal, o número de participações já ultrapassa a marca dos 250 comentários.

Mas para quem esperava algo mais na discussão ficou ‘parado no engarrafamento’, se é que me permitem o trocadilho. Pouco se falou no que é ensinado nas auto-escolas e nos Centros de Formação, obrigatórios para quem pretende dirigir e com uma pedagogia questionável. Outro ponto esquecido e que precisa ser questionado pela imprensa é o trabalho da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC). Um dos diretores diz na última série da matéria que ‘Existem muitas soluções a serem tomadas antes do rodízio’. E ninguém teve coragem de perguntar quais, se é que existem mesmo…

A editora executiva do Núcleo Cotidiano, responsável pela editoria Fortaleza, Tânia Alves, disse que a série tinha por objetivo mostrar que a má educação dos motoristas e o desrespeito ajudam a levar o caos para as ruas. ‘E isto foi feito, agora, realmente, o trânsito da Capital é um assunto que não se esgota numa pauta. Comporta outros temas’ afirmou. É o que o leitor espera.

Pedofilia

A Igreja Católica encerra hoje a programação da Semana Santa ainda em busca de se recuperar do tsunami de denúncias sobre pedofilia que atingiu parte de seu clero. O Papa Bento XVI chegou a pedir desculpas e disse que entregaria os casos ao Estado. Depois, calou-se diante da crise. O mesmo fez a imprensa brasileira: noticia e não amplia o debate, não acompanha os fatos. A pedofilia é crime em qualquer lugar do mundo. E os padres & ou quem quer que seja – estão sujeitos às punições da lei. Simples pedidos de desculpas não tiram a culpa dos sacerdotes, não recupera a inocência das crianças e adolescentes envolvidos. Será que se as denúncias atingissem membros de outras doutrinas teriam o mesmo tratamento?

O POVO tem se restringido basicamente a noticiar os fatos com base no que recebe das agências internacionais, já que não tem correspondente no Exterior. Mas nem precisa estar lá para ampliar a discussão. Há vários casos envolvendo padres no Brasil, principalmente no Nordeste. São minoria, ainda bem. O caso mais recente deles em Arapiraca (AL), a pouco mais de 1.100 km de Fortaleza. O jornal já se posicionou em editorial corajoso publicado na última quarta-feira, cobrando punições legais, um dos raros no Brasil a expor a opinião. Mas ainda é muito pouco diante do fato. Falta que o tema seja discutido por integrantes do próprio clero, psicólogos, sociólogos, juristas e demais membros da sociedade. Cabe à imprensa fazer esta ponte.’