Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Tânia Alves

A explosão de conteúdo com potencial jornalístico da Internet influenciou o modo de fazer divulgação. Nós, jornalistas, e os leitores temos de nos adaptar à esta nova realidade, convivendo com ela entre o impresso que ainda tem uma grande força e as redes sociais absorvendo parte do tempo dos jovens leitores. Só que, às vezes, o uso desses novos mecanismos pode gerar estranhamentos e dúvidas. Foi caso do tipo que atendi na ouvidoria, em duas oportunidades, nas últimas semanas.

Na primeira, recebi de um leitor email em que ele demonstrava preocupação com o uso das redes sociais no Grupo de Comunicação O POVO. Ele questionava se o Instagram do jornal (instagram.com/opovoonline/) era um instrumento de jornalismo e se funcionava como espaço para a divulgação de informações. Apontava discrepância entre a cobertura dada às manifestações do dia 12/4 contra o Governo Dilma e no dia 15/4 contra o projeto de terceirização. Citando a diferença de número de postagens contabilizadas por ele, destacou: “Creio que se a proposta desse meio for fazer uma cobertura jornalística justa, no caso dos protestos, isso não ocorreu”.

Na segunda ocasião, a falta de publicação das sinopses de filmes na página de Cinema no Vida & Arte, especialmente, aos sábados, serviu de queixa de assinantes. Um deles enviou email classificando a mudança como um tiro no pé: “Na edição de hoje (25/4), a programação do Vida & Arte está incompleta. Como compensação, um aviso: ‘Confira a programação completa em www.opovo.com.br”, destacava o leitor. Outra assinante telefonou também para falar sobre o mesmo assunto. Disse que não bastava o caderno publicar o resumo dos filmes às quintas-feiras, quando ocorrem as estreias das películas: “No sábado, por exemplo, só tem os títulos dos filmes. Sem as sinopses, é preciso que se vá à Internet”, reclamou.

Redes sociais e sinopses

O debate que o primeiro leitor propõe fazer sobre o papel do jornalismo e mídias sociais e a frustração dos assinantes que procuram verificar a programação dos filmes no impresso e não encontram são assuntos que refletem o impacto que o mundo digital descarregou no jornalismo.

Chamada a contribuir para o debate a editora-executiva do Portal O POVO Online, Juliana Matos Brito, confirma ser o Instagram mais uma plataforma usada para divulgar notícias: “É uma forma de mostrarmos para os nossos leitores o que temos de mais importante sendo veiculado – seja em relação a notícias, seja em relação à imagem – naquele momento”. Ressalta que, hoje em dia, essa plataforma é de extrema importância para o jornalismo, assim como todas as outras redes sociais, como Facebook, Twitter, Youtube e Google +. Destaca, ainda, que tem preocupação em conversar com a equipe, para mostrar que o mesmo cuidado que se tem em publicar matérias no impresso, devemos ter ao postar notícias nas redes sociais.

Sobre a programação completa do cinema que o leitor só encontra no portal, a editora-chefe de Cultura e Entretenimento, Cinthia Medeiros, lembra que nós últimos anos, Fortaleza passou por uma explosão do número de salas de cinema, aumentando consideravelmente a quantidade de informações, referentes a salas, sessões, sinopses e preços, por isso, esclarece, nem sempre é possível compilar tudo em uma página do impresso. “No Vida & Arte temos optado por selecionar as informações a partir de uma curadoria cuidadosa, de forma a contemplar públicos e gêneros variados. E temos trabalhado esses conteúdos de forma qualificada, através de reportagens e resenhas dos filmes em cartaz”.

Síntese

A inquietação dos leitores é também desassossego dos jornalistas. É natural que exista esse desconforto antes de se definir claramente o que cabe no impresso e o que vai para o mundo digital. Ainda estamos aprendendo. Lógico que consumidor de notícia quer receber aquilo que ele estava acostumado e vai brigar por esses conteúdos. É ruim oferecer informação pela metade. Também tem razão o internauta que cobra das redes sociais o mesmo padrão do impresso. Os repórteres têm a obrigação de fazer apuração robusta, entrevistar, observar e tentar analisar os fatos de forma isenta. Fazer a síntese da notícia. Este é seu maior sentido. Seja qual for a plataforma.

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Tânia Alves é ombudsman do jornal O Povo