Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Tânia Alves

Na terça-feira passada, 12, O POVO trouxe a manchete “Com IJF superlotado, pacientes são atendidos no chão”, que abordava a crise na saúde em Fortaleza. A chamada remetia para uma notícia na página 3, Editoria Cotidiano. Nela, o repórter narrava que, no maior hospital de urgência e emergência do Ceará, a superlotação do fim de semana fizera com que pacientes fossem atendidos deitados no piso. Para ilustrar a matéria, aparecia a foto de um senhor no chão, com um lençol branco no corpo, socorrido por uma equipe da unidade hospitalar. O crédito da foto informava que havia sido enviada via Whatsapp.

A fotografia publicada era muito impactante e me trouxe alguns questionamentos. Quem era aquele senhor deitado no chão do Instituto Dr. José Frota? Quem eram aquelas duas pessoas que o atendiam de joelhos?. Qual o estado de saúde daquele senhor? Fiquei a pensar quem era ele. Se tinha família e por qual motivo fora levado ali. E veio mais: teríamos nós, jornalistas ou não, o direito de entrar em sua vida num momento de tanto sofrimento e espalhar sua foto à exaustão? Até a sexta-feira passada, 15, a matéria com a foto tinha mais de 1.500 compartilhamentos na página do Facebook. Ela ficou entre as 10 mais lidas do Portal O POVO Online naquele dia.

Carga dramática

A imagem me fez refletir como é poroso o limite entre o direito à informação e à privacidade. Naquele caso específico, qual é a fronteira entre a denúncia, necessária, e o íntimo do paciente? Provoquei o editor- executivo do Núcleo Cotidiano, Érico Firmo, para que fizesse uma reflexão sobre a foto, falando, especificamente, da decisão de mostrá-la. Segundo o editor, existia a premissa de usar fotos que não identificassem o rosto do paciente. “Havia fotos que o expunham bastante e essas a gente sabia que não iria usar. Porém, a imagem tem uma carga dramática que é o que ultrapassa qualquer descrição que se possa fazer quanto à saúde. A foto, por si, é uma grave denúncia do estado de coisas”. Érico entende ainda que a publicação atende ao interesse público. “A gente não chegou a cogitar não publicar, mas foi ponderando sobre como a imagem seria usada e qual o nível de exposição dos pacientes seria passível de haver”.

Em época de superexposição da imagem nossa e dos outros, fazer um bom jornalismo requer cuidado para não cair nas armadilhas impostas pela velocidade e impaciência das novas mídias. É preciso verificar, apurar e ponderar antes de noticiar. No entanto, considero ser correta a decisão de expor a foto na página interna. Embora o código de ética estabeleça como um dos deveres dos jornalistas “respeitar o direito à privacidade do cidadão”, entendo que o contexto do caos na saúde pública, pedia, naquele momento, que o procedimento fosse publicá-la em nome do direito à informação. A reprodução da imagem não resolverá os crônicos problemas da área e nem era este o objetivo. Mas, obrigou o poder público a se manifestar sobre o episódio e tomar providências, mesmo que momentâneas.

Contribuição para o Facebook

Seguidora da página do O POVO no Facebook ligou para a ouvidoria questionando se teria sido um erro colocar a reflexão do Sri Prem Baba numa postagem da rede social. Naquele dia, a página havia reproduzido do Vida & Arte, como faz rotineiramente, o texto do mestre. A leitora estranhou o fato de o conteúdo abordar desilusões e fracassos nos relacionamentos. Notou ainda que existiam muitos comentários jocosos.

Do jeito que havia sido colocado sem enunciado que indicasse a origem, a publicação parecia sem nexo. Enviei a crítica da leitora no comentário interno. A editora-executiva do Portal O POVO Online, Juliana Matos Brito, explicou que está sendo postada no Facebook, todas as manhãs, uma frase, extraída do caderno de cultura e entretenimento. Informou ainda que providências foram tomadas para evitar a falta de contexto. “Combinei com a equipe de mídias sociais que publicaremos apenas os textos mais leves e colocaremos, o link para a página “Alegrias” no Vida & Arte, para evitar o estranhamento”. De fato, de lá para cá, o procedimento tem sido adotado neste tipo de conteúdo da rede social. O comentário da leitora serviu para aperfeiçoamento das postagens.

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Tânia Alves é ombudsman do jornal O Povo