Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Uma página para a educação

‘Saber’ é o título escolhido pelaFolha de S.Paulo para a página semanal que destinará à educação. A página estreou na segunda-feira (9/11). Além da educação, pretende abordar temas ligados ‘à expansão do conhecimento em diferentes fases da vida e faixas etárias’, como noticiou um dia antes.


A primeira matéria, dedicada aos ‘7 mitos na educação’, recai no equívoco de olhar isoladamente várias soluções para a educação, definindo sua ‘verdade’ ou sua ‘mentira’, sem admitir (ou até, o que é mais astuto, fingindo admitir) que o problema educacional é realmente complexo, sistêmico, e requer, portanto, visão abrangente.


O ‘mito’ número 1, tal como é formulado – ‘Só pagar melhor o professor já melhora o aprendizado’ –, enfatiza o advérbio ‘só’, a fim de desmontar as reivindicações salariais da categoria. Referindo-se a ‘pesquisas’ que, em geral, são realizadas por economistas do estilo de Naércio Menezes Filho e Gustavo Ioschpe, a jornalista que assina a matéria, Fabiana Rewald, tira a importância do problema e, por tabela, descarta a solução.


Aliás, salário deixa de ser problema. O fato de a média salarial docente no Brasil ser de R$ 850,00 não comove os economistas, que, supõe-se, bem entendem a diferença que alguns reais fazem no bolso… Não comove os economistas e, pelo visto, nem os jornalistas.


O ‘mito’ número 5 – ‘Gastar mais com educação é suficiente para aumentar o aprendizado dos alunos’ – volta a praticar o reducionismo. A expressão ‘é suficiente’ permite relativizar a necessidade de mais investimento.


Amargo saber


Os outros ‘mitos’ vão desenhando, por contraste, uma outra linha de soluções. O ‘mito’ número 2 questiona ‘facilidades’ como piscina, teatro e recursos tecnológicos avançados. Para quê? O ‘mito’ número 3 põe em xeque os ‘cursos de reciclagem’: são teóricos demais. O ‘mito’ número 6 insinua que os problemas familiares não são tão decisivos assim e que as escolas (ou seja, os professores) deveriam dar conta do recado perfeitamente.


O amargo ‘Saber’ reserva dois ‘mitos’ para a progressão continuada e os sistemas de ensino apostilados. No caso do ‘mito’ número 3, a conclusão é que não há grande diferença entre os resultados de aprendizagem no regime de progressão continuada ou no seriado. Tanto faz!


Mas o último ‘mito’, o de número 7, é diferente: ‘Sistemas de ensino apostilados tolhem a autonomia do professor.’ É este, enfim, o principal mito a desmontar urgentemente. Apoiada nos estudos de Paula Louzano, a matéria defende, no fundo, que os municípios adotem métodos como os propostos pelo COC, Anglo, Objetivo, Positivo… Uma vez que os professores não sabem ensinar, tornem-se ‘aplicadores’ de receitas já definidas. Para que livros didáticos? Para que projetos pedagógicos? Mitos… mitos…

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Doutor em Educação pela USP e escritor – www.perisse.com.br