Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Globo não tem telejornal local

A TV Liberal, afiliada da Rede Globo no Pará, não produz telejornal na cidade de Altamira. Por isso, fica fora da corrida pela audiência no horário do almoço, quando as retransmissoras da Bandeirantes, SBT e Record exibem seus noticiários locais. O sinal da Globo é retransmitido localmente pelo empresário gaúcho Miguel Sawczuk, proprietário das revendedoras autorizadas Honda e Volks em Altamira, Santarém e Itaituba e dono de fazendas de cacau e gado. Ele é considerado um dos homens mais ricos do interior do Pará.

É comum encontrar retransmissoras de TV no interior da Amazônia sob o comando de empreendedores locais, mas essa parceria raramente acontece no sistema Globo, que costuma delegar tal responsabilidade a suas afiliadas. A Globo possui duas afiliadas no Pará: a TV Liberal (na maior parte do estado) e a TV Tapajós, em Santarém. A terceirização do sinal em Altamira , portanto, é uma exceção no sistema Globo.

Contador por formação e ex-funcionário da Companhia Riograndense de Saneamento, Miguel Sawczuk demitiu-se do emprego público e migrou para o Pará em 1985. Deixou seu estado para montar a revendedora Honda em Altamira. Seu sócio no empreendimento também era dono do canal de televisão. Em 2000, ele comprou a parte do sócio na TV. A retransmissora teve um telejornal local, com cinco minutos de duração, que foi suspenso em 2009. Mas mantém um repórter e um cinegrafista para fazer reportagens que são exibidas pela TV Liberal de Belém, TV Globo e Globonews.

Sawczuk diz que não dá palpites no trabalho dos jornalistas e que só visa o retorno financeiro. “Negócio, para mim, tem que dar dinheiro. Não invisto por paixão”, diz. “Se não der lucro, passo adiante.”

Ele falou ao Observatório da Imprensa na sede da revendedora Honda, no centro de Altamira:

 Como é seu relacionamento com a TV Liberal e com a Globo?

Muito bom, porque sou anti-político. Minha equipe não produz reportagens direcionadas. Nunca dei problemas para Liberal nem para a Globo. As matérias precisam ter qualidade, porque são exibidas no “Bom Dia Brasil”, da TV Globo, na Globonews e na TV Liberal.

Qual o custo mensal da TV?

A receita e os custos se equivalem em cerca de R$ 50 mil por mês. O que mantém a TV é a venda de anúncios locais. A Globo e a Liberal não me repassam dinheiro.

Por que o senhor não tem noticiário local?

Já tive, mas não compensa montar uma estrutura para um jornal de cinco minutos, que era o tempo que eu dispunha. Além disso, não me interesso por briguinhas locais e, infelizmente, o que dá audiência é crime ou fofoca.

Sua TV fiscaliza a atuação da prefeitura?

Não ficamos criticando se existe um buraco aqui e outro ali. Mas se tiver uma greve de funcionários ou um evento importante, noticiamos e damos oportunidade para a prefeitura se explicar. Não sou amigo nem inimigo do prefeito.

O que o senhor achou da construção de Belo Monte? Foi bom ou ruim para Altamira?

Eu ganhei muito dinheiro. Vendi 650 motos por mês durante cinco anos, agora vendo de 180 a 200. Cheguei a vender 1.580 carros em um mês, hoje vendo de 20 a 25. Para mim, pessoalmente, foi um ótimo negócio. A estrutura da cidade melhorou, mas o problema vai ser mantê-la depois que a Norte Energia concluir todas as obras e entregá-las oficialmente à prefeitura.

Como o senhor se posicionou na última eleição?

Sou Bolsonaro. Nunca fui de esquerda.

O que o senhor acha das ONGs?

Para mim, são uma fábrica de dinheiro, e a maioria é cabide de emprego. Acho que elas têm que prestar contas.

E sobre os conflitos agrários? O que acha dos fazendeiros que ocupam terras da União?

Não sei como responder a essa pergunta. Acho que se uma pessoa grilou, mas fez benfeitorias na terra e gastou a vida arrumando a fazenda, não é certo que outros invadam e a ocupem. Fui amigo da irmã Dorothy Stang (assassinada a mando de grileiros, em 2005). Ela tinha uma lambreta velha e vinha muito à minha empresa. Eu consertava a lambreta dela sem cobrar. Tinha excelentes ideias e foi uma defensora dos mais necessitados, mas acho que a Igreja não deve se meter com questões da terra. Quem tem de resolver é a Justiça.

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Elvira Lobato é jornalista enviada a Altamira (PA).