Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A ascensão dos governos de esquerda na América Latina

A América Latina vem passando por transformações significativas para os apaixonados pela justiça, igualdade e distribuição de renda justa. Vítima de um sistema implacável imposto pelos neoliberais, o continente enfrenta um processo de evolução e, principalmente, libertação. Os mais pobres estão sendo atingidos de forma positiva. A maioria das privatizações vem sendo erradicada. As empresas estatais nos países com governos de características de esquerda seguem aumentando. Com isso, os países passam a lucrar mais, a economia cresce, e a população mais carente vive um pouco melhor.

Mas a resistência e os ataques são constantes quando se trata da grande mídia. Com a ascensão dos governos de esquerda, do ‘povão’ (Brasil com Lula, Venezuela com Chávez, Bolívia com o Evo Morales e no Equador com Rafael Correa), os ataques são insanos, covardes e oportunistas. O desespero da grande imprensa é ainda maior quando ela percebe que a população não aceita as suas mentiras e reelege o seu presidente, como aconteceu no Brasil em 2005.

Na Caros Amigos [edição 151, outubro de 2009], o cientista político Emir Sader escreveu um belo artigo cujo título era ‘Fracassomaníacos’. A intenção do texto era desqualificar e avaliar todas as artimanhas fajutas do PSDB, FHC e grande imprensa que, segundo o autor, sempre tentavam, de todas as formas, desmoralizar o presidente Lula e afirmar para a população que um operário nordestino era incapaz de governar o país.

Críticas rasas

‘FHC gritava, no último comício do candidato do seu partido, que havia renegado seu governo; com a camisa para fora da calça, o ex-presidente suado, desesperado, gritava: `Lula, você morreu´, refletindo seus desejos, em contraposição com a realidade, que viu Lula se reeleger, sobre o cadáver político e moral de FHC’, afirmou Sader em seu artigo.

O cientista político ainda criticou outro personagem fracassado da alameda Barão de Limeira que, com o anúncio da reeleição de Lula, golpeava a mesa, enquanto dava voltas em torno dela, dizendo: ‘Onde foi que nós erramos, onde foi que nós erramos?’ Segundo Sader, conviver com o sucesso popular, econômico, social e internacional do governo Lula é insuportável para os fracassomaníacos.

Esse projeto de distribuição de renda do governo tem sido alvo de críticas constantes. Muitas delas, sem sugestões para melhorar. Certa vez, um político foi a Alagoas discursar para a população. Intencionado a ‘bater’ no presidente Lula, logo foi indagado por um cidadão que disse: ‘Por que está falando mal do nosso presidente? Atualmente, ganho R$ 84,00 do Bolsa Família e R$ 10,00 por dia do meu patrão, o explorador fazendeiro. Porém, vivo melhor. Antes ganhava R$ 5,00 por dia. Com o projeto do governo falo para o patrão: quer meu trabalho? Então paga R$ 10,00.’

Isso demonstra que essa bobagem de dar vara para pescar e não dar o peixe são críticas rasas. São frases postas pela grande mídia. E o pior, muitos acabam reproduzindo-as, sem ao menos realizar uma análise precisa do fato.

Presença estratégica do Estado

Wanderley Guilherme dos Santos, professor aposentado da UFRJ, fundador do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj) da Universidade Campos Mendes, consagrado pela Universidade Autônoma do México, em 2005, e um dos cinco mais importantes cientistas políticos da América Latina, disse à revista CartaCapital, de 2 de setembro de 2009, edição 561, que a imprensa brasileira exerce, e tem todo o direito, de ter opinião e preferências políticas. No Brasil, no entanto, ela diz que apenas retrata a realidade. É falso. Há muito da realidade que não está na imprensa e há muito do que está na imprensa que não está na realidade.

‘A imprensa brasileira não tolera a ideia de governos independentes, autônomos em relação às suas campanhas. Isso implica um caminho de duas mãos. Significa que ela terá que sobreviver sem a ajuda os governos. Então, é preciso que os governos precisem dela’, conclui o cientista.

Com a ascensão desses governos de esquerdas houve o estabelecimento de relações comerciais com outras nações, ou seja, sul-sul (países desenvolvidos ou em desenvolvimento); estabilidade econômica (projetos de distribuição de renda – parecidos com o Bolsa Família); em alguns países, mais acesso à terra por meio de reforma agrária; além da maior presença do Estado em pontos estratégicos da sociedade, por exemplo, saúde e educação; e o principal, deixaram de privatizar suas principais ações.

Fábrica de terrorismo

Em entrevista publicada recentemente na Caros Amigos [edição 152, novembro de 2009], um dos mais respeitados escritores e intelectuais da América Latina, o uruguaio Eduardo Hughes Galeano (autor do livro As Veias Abertas da América Latina), disse que para o continente ser completamente independente, ele deve romper com o velho hábito de obediência. ‘Em vez de obedecer à história, inventá-la.’

Para o escritor e jornalista, é preciso revoltar-se contra a horrenda herança imperial, romper com essa cultura de impotência que diz que você é incapaz de fazer, por isso tem de comprar pronto, que diz que você é incapaz de mudar, que aquele que nasceu, como nasceu vai morrer. O autor avalia: ‘A impotência deve estar longe daqueles que desejam mudanças radicais.’ Portanto, a desobediência à história é imprescindível para vencer esse domínio neoliberal e gerar uma nova realidade.

Também na entrevista, Galeano considera a implantação das bases norte-americanas na Colômbia uma afronta a dignidade do povo latino-americano e compromete a independência e a liberdade da América do Sul. Ele afirma: ‘Os Estados Unidos alegam que a intenção é combater o narcotráfico. Porém, os americanos têm que começar pela própria casa, o Afeganistão, que faz parte da sua estrutura de poder, e é o grande abastecedor de heroína, a pior droga.’ Outro pretexto dos EUA é o terrorismo. ‘A grande fábrica do terrorismo é essa potência mundial que invade países, gera desespero, ódio, angústia’, finaliza o escritor.

O medo da revolta popular

A aceitação do ‘povão’ por essas novas lideranças vai ganhar mais força quando for sacramentada a vitória do ex-guerrilheiro, preso por quatro vezes e com a cara e modos do povão, José ‘Pepe’ Mujica, 74 anos. Vencedor do primeiro turno das eleições para presidente do país, também está na liderança do segundo turno e pode se tornar mais um guerrilheiro a se eleger presidente.

Os próximos capítulos estão por vir! Acredito nas mídias alternativas para combater esses criminosos veículos que mentem contra os governos progressistas. O importante é que o alvo principal – a população mais humilde –, os veículos de comunicação não estão atingindo. Isso tem levado muitos deles ao desespero e sabe por quê? A mídia não tem medo de bandido, ela receia a revolta popular porque se ela acontecer ninguém vai conseguir controlar.

América Latina rumo à libertação!

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Editor e criador do ‘Grita São Paulo’, São Paulo, SP