Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Geraldo Alckmin perdeu a
chance, dizem colunistas


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 17 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Dora Kramer


Chance de ouro já é prata


‘O candidato do PSDB à Presidência da República vai reduzindo sua chance de ganhar a eleição e, caso perca mesmo, não poderá culpar o eleitorado por ter sido tolerante com a corrupção e interesseiro com as benesses oferecidas aos muito pobres e aos muito ricos.


Geraldo Alckmin recebeu do eleitor a oportunidade de zerar o jogo no segundo tempo, mas administra mal as circunstâncias. Ganhou de presente até um escândalo novo para refrescar a memória a respeito de tantos outros, mas, sabe-se lá se por influência dos defensores da tática ‘desconstrutiva’, se por inconsistência programática ou inépcia de comunicação, concentra todos os esforços no episódio do dossiê Vedoin, tentando tirar leite de pedra.


O assunto deu a Alckmin a possibilidade de inaugurar a temporada de debates na ofensiva. Saiu-se muito melhor que o presidente Luiz Inácio da Silva, mas ficou nisso. De lá para cá, quem está nas cordas é ele. Não consegue responder adequadamente às invencionices eleitorais do PT e ainda entra na lógica do adversário, reagindo ao assunto privatizações aos balbucios intimidados.


Natural que negue intenção de privatizar o que não pretende realmente vender, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, a Petrobrás. Mas o conceito da eliminação do Estado em setores onde a impossibilidade de investimentos, a incapacidade de gestão e a manipulação política sucateiam empresas e privam a população de serviços à altura de seus impostos é não só defensável como venceu na sociedade nas duas eleições de Fernando Henrique Cardoso.


Mas, receosos de arcar com os ônus das ações negativas do passado, PSDB e PFL menosprezam os aspectos positivos, deixando de lado o maior deles: o fim da inflação. Geraldo Alckmin, por sua vez, quer se mostrar como o ‘novo’ e aí abandona o que foi bom no passado e não apresenta as credenciais do futuro. Patina nas platitudes sobre ‘mais emprego’, ‘muito trabalho’, ‘educação e saúde de qualidade’.


Tudo isso é ótimo, mas, convenhamos, soa genérico e insuficiente para despertar no eleitor a vontade de votar.


O PT, de seu lado, não só supervaloriza seus feitos sem o menor constrangimento, como ignora solenemente seus malfeitos, sem mostrar intimidação moral, o que esvazia a denúncia da conduta antiética.


Para todos os efeitos, principalmente para efeito eleitoral, fica parecendo que o PT trabalha com fatos e o PSDB se contenta com conceitos. Dá aulas de educação moral e cívica e se esquece de outras lições igualmente importantes para o exercício da governança e a respeito das quais dispõe de material para exibir.


A pressão pela celeridade e transparência nas investigações sobre a origem do dinheiro além de legítima é necessária. Agora, a duas semanas da eleição, reunir os altos comandos de quatro partidos para discutir como interferir no trabalho da Polícia Federal de modo a descobrir provas da operação abafa comandada pelo ministro da Justiça passa ao eleitor a impressão de que a oposição está mais empenhada e preparada para desqualificar o oponente do que propriamente para ‘provar’ ao País que seu candidato é o melhor para presidi-lo nos próximos quatro anos.


PSDB, PFL, PPS e parte do PMDB reunidos numa segunda-feira para tratar de um assunto cujas evidências já estão devidamente postas denota excesso de vocação para a produção de factóides.


A menos que esses partidos no Congresso instalassem uma CPI para investigar a PF ou encaminhassem ao Ministério Público provas consistentes para a abertura de um inquérito, não há efeito prático na discussão.


Levantar questões que inquietam o País e carecem de explicações é imperativo. Não faria sentido a oposição tratar de forma secundária o dado fundamental de que Lula governou premido por escândalos resultantes dos métodos por ele adotados para sustentar o poder.


Mas tampouco faz sentido tentar ganhar uma eleição só pela via da exclusão, rendendo-se ao papel de ‘menos pior’, abstendo-se de empenho efetivo na tarefa de convencer as pessoas de que é o melhor.


Incisivo nas acusações no primeiro debate, Alckmin só poderá aproveitar a chance dada pelo eleitorado ao não eleger Lula no primeiro turno se nos próximos for tão veemente e convincente também no que pretende lhe diga respeito a partir de janeiro de 2007: o ato de governar.


Vontade dos réus


O ministro da Justiça desafia a oposição a apontar ‘uma providência’ sua para favorecer o PT nas investigações do caso dossiê, acha que os tucanos tentam ‘privatizar’ as ações da Polícia Federal ao suspeitar de manipulação partidária, mas reconhece que os envolvidos ‘não estão falando a verdade’.


Sobre a possibilidade de uma atitude mais firme para com os acusados – como foi feito com os empresários Vedoin, que acabaram confessando, pressionados pela prisão -, Márcio Thomaz Bastos sai pela tangente: ‘Não havendo confissões, o único jeito é reconstruir o caminho do dinheiro por meio da investigação técnica.’’


RÚSSIA
O Estado de S. Paulo


Mais um jornalista russo assassinado


‘AP e Reuters – O gerente de negócios da Itar-Tass, a agência de notícias estatal russa, foi morto a facadas em seu flat, no centro de Moscou. O corpo de Anatoli Voronin, de 55 anos, foi encontrado ontem, depois que seu motorista chamou a polícia porque ele não apareceu para trabalhar. A porta do flat estava aberta e seus pertences haviam sido revirados.


Segundo a Promotoria de Moscou, não há evidências de que o assassinato esteja relacionado ao trabalho de Voronin – o mais provável é que tenha sido causado por ‘desavenças pessoais’. Ele trabalhava na Itar-Tass há 23 anos e era responsável pelos serviços de manutenção, transporte e benefícios aos funcionários.


De acordo com o Comitê para a Proteção de Jornalistas, a Rússia é o terceiro país mais perigoso para profissionais ligados à imprensa, atrás apenas do Iraque e da Argélia. Há dez dias, a jornalista Anna Politkovskaya, que denunciou os abusos contra civis na Chechênia, foi morta a tiros. O crime ainda não foi esclarecido.’


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


TV paga tem boa entressafra


‘Os canais Sony e Warner estrearão em novembro novas séries para o telespectador se entreter enquanto espera as temporadas inéditas de suas atrações preferidas. Na Sony, uma das novidades é ‘Til Death, comédia de Brad Garret – o Robert de Everybody Loves Raymond. Como muitas tentativas de novos shows de velhos conhecidos, ‘Til Death não foi lá muito bem de audiência nos Estados Unidos.


Outros astros que estarão na Sony são Kyle MacLachlan e Rosana Arquette. O ator, que ficou famoso com Twin Peaks, série de David Lynch, não está em Desperate Housewives – que deve voltar somente em 2007 – e sim em In Justice, boa série de tribunal que, apesar de ter feito fãs lá fora, foi cancelada.


Já Rosanna Arquette segue os passos da irmã Patricia, protagonista de Medium, e encara What About Brian, que teve dois pilotos produzidos e conseguiu ir ao ar em abril, mês de estréias lá fora. Rosanna não é a atriz principal desta comédia romântica, com um pouco de drama. Ela é liderada por Barry Watson, de Seventh Heaven.


MAIS JERRY BRUCKHEIMER


Com CSI, Close to Home, Cold Case, Without a Trace e outros sucessos, Jerry Bruckheimer é uma aposta quase certa. Depois de trabalhar com J.J. Abrams, outro nome forte da indústria televisiva americana, Victor Graber, de Alias, volta com Justice, boa série de advogados que mostra a influência da mídia no tribunal. A série, que conta ainda com Kerr Smith, ex-Dawson’s Creek, estréia na Warner.


O canal também traz Ray Liotta em Smith, que acompanha as ações de uma gangue responsável por grandes assaltos, e The Nine, sobre a vida de nove pessoas que foram mantidas reféns durante um roubo e criaram um laço de amizade.’


Cristina Padiglione


Classe A/B compôs 46% da audiência


‘A maior fatia social que assistiu ao debate da Bandeirantes entre Lula e Alckmin no dia 8 é da classe A/B. Segundo a medição de audiência do Ibope, 46% dos telespectadores estão concentrados nesse patamar, feito raro em TV aberta. A classe C compôs 33% da audiência e a D/E, 21%.


Na faixa etária, a parcela mais gorda (38%) foi formada por quem tem mais de 50 anos, seguida pela turma de 35 e 49 anos (23%). O show foi fraco entre os jovens (12% de 18 a 24 anos, e 14% de 25 a 34). Endossando a tradição televisiva que tem nas mulheres a maioria da platéia – exceção feita ao futebol – 51% da audiência foi feminina.’


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 17 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Clóvis Rossi


Lula se enrosca na língua


‘Os noticiários on-line atribuem a seguinte frase ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o programa ‘Roda Viva’, que foi ao ar ontem mesmo, a propósito do afastamento de Ricardo Berzoini da coordenação de sua campanha:


‘Chamei o presidente do partido lá em casa e falei: eu quero saber quem fez essa burrice para não usar a palavra que estou pensando agora. Você, como presidente do partido, tem obrigação de dar uma resposta à sociedade. Ele não deu [a resposta], eu o afastei da coordenação da campanha’.


Quer dizer então que o presidente de um partido tem obrigação de saber quem fez ‘essa burrice’ (mais que ‘burrice’, tem toda a pinta de ser crime eleitoral) e o presidente da República (também presidente de honra do partido) não tem a obrigação de saber de nada?


Lula usou à exaustão o argumento de que nem em família o pai, se está na sala, pode saber o que se passa na cozinha (ou qualquer outra dependência). Aí, de duas uma: ou o argumento vale também para Berzoini ou, se não vale, não serve para proteger Lula.


É óbvio, mas se torna obrigatório dizer: o presidente da República tem à mão instrumentos muito mais potentes do que o presidente de um partido (qualquer partido) para averiguar quem fez ‘essa burrice’ (e os demais crimes de que o PT é acusado, a ponto de sua cúpula ter sido chamada de ‘organização criminosa’ pelo procurador-geral da República).


No entanto, o presidente sistematicamente nega à sociedade as informações que acha que Berzoini tinha obrigação de dar. Diz que foi traído (no episódio do mensalão), mas não diz por quem.


Joga a culpa por todo o escândalo do dossiê em cima de Berzoini e dos ‘aloprados’, como se ele próprio fosse inimputável. Lula nem precisa de opositores para se enroscar na língua.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Anônimos e supostos


‘Após alguns dias de descanso, o ‘Jornal Nacional’ voltou ontem ao caso do dossiê com a revista ‘Veja’ -e um encontro que Freud Godoy ‘teria tido’ com Gedimar Passos, segundo ‘um relato anônimo de três supostos delegados da Polícia Federal’.


Destacou que, por conta, os presidentes de PSDB, PFL e PPS querem a Justiça Eleitoral no caso, que Márcio Thomaz Bastos ‘estaria tentando abafar’. O telejornal deu o outro lado da PF e do ministro.


Depois, no ‘dia dos candidatos’, cenas do ‘avião da FAB’ que levou Lula a Campina Grande -o Aerolula.


ANTES NO RÁDIO


Aberto como nunca aos jornalistas, Lula estava ontem à noite no ‘Roda Viva’. Mas o programa foi gravado e, por quase todo lado, à tarde, lá estavam notícias e a repercussão. CBN e Jovem Pan diziam que havia chamado Alckmin de ‘ensandecido’ e a compra do dossiê de ‘burrice’. A Pan até reproduziu passagens, horas antes do programa.


CICLO DE NOTÍCIA


Por outro lado, sites como Folha Online e Reuters Brasil traziam enunciados na linha ‘Berzoini caiu por não explicar ‘burrice’ do dossiê, diz Lula’. E blogs como o de Josias de Souza se concentravam no ‘ensandecido’. Quando finalmente começou o ‘Roda Viva’, o noticiário on-line já destacava que o PDT havia se decidido pela neutralidade.


FOGO NA WEB


Lula agradece orkuteiros


O blog de Fernando Rodrigues no UOL acompanha a campanha que ‘pega fogo na web’. Lula até postou mensagem de agradecimento no YouTube aos ‘companheiros que navegam no Orkut’, pelas páginas.


Mas é só a parte curiosa do ‘fogo’. O blog registra -e esta coluna confirma- que ‘nunca recebeu tantos e-mails das correntes lulista e alckmista’. A violência é crescente, com as duas famílias como alvo dos spams. Alguns trazem vírus. A novidade do dia, ontem, era sexo.


AVALANCHE DE LAMA


De um lado, ‘vergonha’ por aprovar aumento para si mesmo; do outro, ‘hipócrita’ por atrasar a entrega do IR


Não é só no Brasil que a campanha carrega nas tintas. Os blogs de política do ‘New York Times’, sob o título ‘Avalanche de lama’, e do britânico ‘Guardian’ falavam ontem dos comerciais ‘negativos’ nos EUA.


No caso da Carolina do Norte, os ataques são tão virulentos que o jornal local ‘Hendersonville Times-News’ publicou o editorial ‘Por favor, livre-nos da lama’. Um dos marqueteiros argumenta que ‘não se combate propaganda negativa com positiva, é impossível’.


TV GOOGLE, NÃO


O ‘Wall Street Journal’ noticia que as ‘titãs de mídia’ News Corp. (Fox), General Electric (NBC) e Viacom (MTV) contrataram os mesmos advogados para eventualmente processar o YouTube, agora da Google, por reproduzir programação sem autorização. Os advogados calculam a multa em US$ 150 mil por vídeo postado.


CBS ON-LINE


O YouTube vem buscando acordos com as ‘titãs’ -o que também parece ser o desejo, na verdade, de vários deles.


Já fechou com a CBS. E esta, segundo o site do ‘WSJ’, ontem, chegou a um acordo com o Yahoo, concorrente da Google. Entre outros, já estão on-line séries como ‘CSI’ e telejornais como ‘Evening News’, o modelo do ‘JN’.


‘POR QUÊ?’


O venezuelano Hugo Chávez perdeu 9 de 10 votações, ontem na eleição do Conselho de Segurança da ONU, e a decisão ficou para hoje. Ainda assim, ele é tema (e alvo) por todo lado nos EUA -que defendem a Guatemala na vaga. No ‘Washington Post’ e nos editoriais do ‘WSJ’, sobra incredulidade com o apoio de Brasil e Argentina ao antiamericano incendiário, sob títulos como ‘Por que os democratas latino-americanos o apóiam?’, no ‘WP’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo terá de explicar sorteio de prêmios


‘A TV Globo terá que apresentar à Justiça Federal até meados de novembro explicações sobre a promoção ‘Seleção do Faustão’, realizada durante a Copa do Mundo e que usou uma brecha legal para para reiniciar a jogatina na TV, conforme mostrou reportagem publicada pela Folha em junho.


A promoção é alvo de uma ação popular em andamento na 25ª Vara Cível Federal de São Paulo. Na ação, o advogado Luiz Nogueira pede que o concurso seja considerado ilegal e que seus promotores devolvam cerca de R$ 120 milhões.


A Globo e a Caixa Econômica Federal (que autorizou a promoção) se ampararam na Lei 5.768/71, que prevê a distribuição gratuita de prêmios em sorteios. Na promoção, o telespectador enviava uma mensagem via celular (SMS) e concorria a carros. Para Nogueira, ao cobrar R$ 4,00 por ligação, o sorteio deixou de ser gratuito.


O juiz da 25ª Vara Cível Federal, Ênio Chappuis, mandou notificar todos os envolvidos na ação (além de Globo e CEF, a Globosat e operadoras de celular). Após a citação do último envolvido (a Globosat, nesta semana), haverá 15 dias para a apresentação de defesa.


A Globo informa que aguarda o início do prazo para contestação para ‘rechaçar’ todas as afirmações do autor da ação.


A CEF afirma que o concurso foi legal, porque as pessoas compraram um produto (SMS) e concorreram a prêmios.


DEBATE POPULAR 1A exemplo do que fez com a Record, o PT também propôs ao SBT que o debate entre Lula e Geraldo Alckmin, que a emissora realiza nesta quinta, tenha perguntas de populares. As perguntas seriam gravadas, mas haveria um sorteio ao vivo das que seriam respondidas.


DEBATE POPULAR 2Segundo Luiz Gonzaga Mineiro, diretor de jornalismo do SBT, o PSDB rejeitou a idéia. ‘O debate só terá perguntas dos candidatos e da [âncora] Ana Paula Padrão’, afirma.


SONOTERAPIATelespectadores que assistiram ao quadro ‘Dança no Gelo’, no último ‘Domingão do Faustão’, tiveram a impressão de que o jurado Roberto Talma fora flagrado despertando de um breve cochilo.


ENTROU AREIAExecutivos da Record torceram o nariz para a quantia pedida por Daniella Cicarelli para apresentar programa na emissora, próxima de R$ 100 mil. Assim, não vislumbram acordo.


MANICÔMIO 1O psiquiatra Joel Rennó Jr., da USP, saiu em defesa do autor Manoel Carlos, que escreveu cenas de ‘Páginas da Vida’ em que o alcoólatra Bira (Eduardo Lago) foi internado à força, o que gerou protestos de militantes da luta antimanicomial.


MANICÔMIO 2’É claro que o tratamento ambulatorial é o que queremos. Mas, de forma alguma, a internação pode ser uma vilã, principalmente nos casos onde há perda de juízo. Acho que o autor vem sendo respeitoso e sensível’, afirma Rennó Jr..’


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