Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

The Washington Post muda editor-executivo

Em Washington, onde há poucos segredos bem guardados, sabe-se, há meses, que Katharine Weymouth, publisher do Washington Post, queria substituir o editor-executivo do jornal, Marcus Brauchli. Pouco antes do meio-dia da terça-feira passada (13/11), esse boato transformou-se em fato, quando o Post anunciou que Brauchli deixaria o cargo que ocupava há quatro anos, mas permaneceria na empresa. Martin Baron, editor-chefe do Boston Globe, substituirá Brauchli no dia 2 de janeiro. Num comunicado, Katharine disse: “Estamos excitados em ter Marty Baron comandando a redação do Washington Post. Ele tem um histórico, conhecido, de produzir jornalismo de primeiríssima qualidade, o que combina com o legado e as expectativas do Post.”

Precisamente no momento em que o Post anunciava o fato, Baron reuniu sua equipe para compartilhar a notícia. “Achei que deveria confirmar um boato”, disse para uma sala cheia de repórteres nervosos e tristes. “Vou para o Washington Post para ser o editor-executivo.”

Brauchli, que entrou para o Post em 2008 e comandou o jornal para ganhar quatro prêmios Pulitzer, será o vice-presidente do grupo The Washington Post Company, trabalhando ao lado de Donald E. Graham, presidente e diretor-executivo. Graham disse que estava satisfeito em contar com Brauchli para ajudá-lo com os desenvolvimentos digitais da empresa. “Estão pipocando projetos de start-ups e novas mídias e Marcus e eu iremos trabalhar nisso juntos”, disse Graham. Ele não fez comentários sobre o conflito entre sua sobrinha, a publisher do jornal, e Brauchli. “Cabe ao publisher do jornal escolher o editor-executivo e acho que Marcus Brauchli foi um excelente editor do Washington Post, assim como Marty Baron também será.”

Editor não queria fazer novos cortes

Katharine não quis comentar a mudança na liderança, mas enfatizou que foi “de Marcus a decisão de se afastar e assumir a nova posição”. Também deu a Brauchli crédito por ter desenvolvido as operações na internet do jornal e disse que buscaria “novas oportunidades de mídia” para a empresa. “Peço que se juntem a mim ao agradecer a Marcus por tudo o que ele fez pelo Post e parabenizá-lo por seu novo cargo na empresa”, disse.

Como muitos outros jornais, o Post vem lutando em várias frentes. A receita do setor editorial do jornal caiu 4%, para US$ 137,3 milhões (cerca de R$ 275 milhões) no terceiro trimestre, em grande parte devido à queda na publicidade. Segundo o Audit Bureau of Circulations (órgão responsável por verificar a circulação de jornais), a circulação do Post de segunda a sexta-feira caiu para 507.615 em março, quando era de 698.116 em 2007. Para deter as perdas, a empresa já começou um processo de demissões, inclusive nas equipes de publicidade e tecnologia.

Os problemas da empresa, comuns à toda indústria jornalística, tornaram-se piores devido à tensão interna entre Brauchli e Katharine. Por ocasião do anúncio na terça-feira, segundo uma pessoa presente à reunião, Katharine, que é neta da ex-publisher do Post Katharine Graham, não respondeu de forma direta a uma pergunta da redação indagando por que fizera as mudanças. Mas nos últimos meses ela compartilhou suas frustrações com amigos em Washington e, segundo uma pessoa da redação que estava a par da conversa e que não quis ser identificada, teria dito que Brauchli não estava disposto a fazer novos cortes na redação e que queria substituí-lo antes da eleição.

“Editores têm que fazer opções difíceis”

Brauchli, que anteriormente foi editor-executivo do Wall Street Journal, era considerado mais distante do que seus antecessores no Post, como Leonard Downie e Benjamin Bradlee. Depois do anúncio da terça-feira, alguns repórteres, entre os quais a premiada jornalista Dana Priest, saíram em defesa de Brauchli. “Marcus tem o respeito e a admiração de jornalistas sérios da redação do Washington Post”, disse ela. “Ele é inteligente, tem bom humor, é bem-informado e, nos bastidores, lutou muito para garantir a qualidade e os padrões que permitiram ao Post construir seu nome. Isto tudo é muito triste para muitos de nós.”

No início do relacionamento entre Katharine e Brauchli, no começo de 2009, ela pediu desculpas por um plano para cobrar de lobistas e outros executivos de Washington, que eram convidados para recepções em sua casa juntamente com Brauchli e repórteres do jornal. O relacionamento esfriou mais recentemente quando ela o pressionou para fazer cortes na redação com os quais ele não concordava, segundo pessoas que estavam a par das discussões. Novas discussões entre os dois ocorreram nas últimas semanas, quando Brauchli lhe levou um orçamento da redação que incorporava os cortes que ela pedira; apesar disso, segundo as mesmas pessoas, ela o recusou. Brauchli, que recebeu uma ovação prolongada na redação após o anúncio, responsabilizou sua equipe por ter enfrentado “as tarefas mais duras do jornalismo” e por se ter tornado “pioneira em blogs e mídias sociais”.

O futuro editor-executivo

Martin Baron comanda o Boston Globe, que pertence ao grupo The New York Times Company, desde 2001 e, durante seu mandato, o jornal ganhou seis prêmios Pulitzer. Antes disso, foi editor-executivo do Miami Herald e trabalhou como editor sênior no New York Times. No início de sua carreira, também trabalhou para o Los Angeles Times.

Numa entrevista, Baron disse que gostaria de comandar um jornal “que tivesse tido um papel definido e inconfundível no jornalismo americano”. Disse que era realista no que se refere aos desafios de comandar um jornal durante os difíceis tempos financeiros para a indústria e que seria fundamental ter uma relação forte com a publisher. “Não existe uma organização de mídia que não esteja enfrentando pressões financeiras significativas”, disse. “Todos os editores têm que fazer opções difíceis e eu também. Já trabalhei com muitos publishers diferentes. Trabalhei com três, no Boston Globe. É uma relação importante e nem sempre é fácil. Às vezes, há momentos de tensão. Mas temos que compartilhar nossos objetivos, com certeza, e ser compatíveis. É isso que todo mundo tem que fazer.”

Sucessão tem três candidatos

Christopher M. Mayer, diretor do Globe, soube das mudanças quando estava em Londres, comemorando o 25º aniversário de seu casamento. Recebeu as notícias com “emoções mistas”, descrevendo Baron como “um firme defensor do jornalismo responsável que vai fundo e serve o público e um defensor firme da Primeira Emenda”. Citou a liderança que Baron teve na investigação feita pelo jornal sobre o escândalo de abusos na Igreja Católica Romana.

Após consultar o presidente e o vice-presidente do grupo The New York Times Company, respectivamente Arthur Sulzberger Jr. e Michael Golden, Mayrer tomará a decisão sobre quem será o sucessor de Baron. Três candidatos já foram apontados. Um porta-voz do grupo disse que será realizada uma pesquisa nacional. Informações de Christine Haughney [New York Times, 14/11/12].

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